No topo da montanha-russa
Já andou na montanha-russa? Sentamo-nos no banquinho do comboio da montanha-russa que arranca para subir uma encosta íngreme e interminável. Subimos, subimos, subimos... Chegados ainda a rir ao cume, é hora de apreciar a vista do parque de diversões, porque os primeiros metros são uma descida suave, de declive quase impercetível. Este é o pior momento: sabemos o que aí vem. Porém, tudo parece bem e estável. Mas não é! Há uma calma tensa de uma descida louca anunciada e milhares de borboletas acordam na nossa barriga! E aí vamos nós! Ehhhhhh!
A economia portuguesa está naquele patamar: há uma acalmia tensa de quem começou a deslizar e que se anuncia nos números que evocam milhões de mariposas nas nossas barrigas.
António Costa finge que não sabe que está lá em cima, mas já a descer. Mário Centeno finge que vai conseguir escapar do cargo português antes da descida. Os seus colegas de Governo querem acreditar que as eleições chegarão antes da descida mais violenta. Mas a descida já começou, para já, suave.
O PIB cresceu apenas 2,1% em termos homólogos no terceiro trimestre do ano, o valor mais baixo dos últimos dois anos. Tudo porque o drive do nosso crescimento que tem sido a procura externa se contraiu. Como temos crescido fundamentalmente pela procura dos mercados externos, que importam o que produzimos ou nos visitam como turistas, com a sua redução vai-se o crescimento do PIB português. Isto porque o rendimento disponível que chega aos bolsos dos portugueses ora se escoa em consumo importado ora sai alegremente para os bolsos do Estado em impostos indiretos.
E o Orçamento do Estado para 2019, que poderia ser um bom instrumento para estimular o investimento e compensar, com medidas anticíclicas, a descida das exportações, foi mais uma vez usado para pagar as palmas que a bancada apoiante do Governo lhe dedica no Parlamento.
Iremos colher o resultado do que os senhores semearam. Não vai ser a crise internacional que vai trair o Governo ou a sua política económica. É esta que o vai arrastar montanha abaixo. Não chega fazer almoços ou encher salas com empresários para os catequizar com anúncios de milhões que não chegam ou incentivos que não pagam. Quando chega a hora de apoiar quem tem suportado o crescimento da economia portuguesa, o Orçamento escorrega sempre para o outro lado. Agora, procurem debaixo das cadeiras do Parlamento a causa para a nova crise que aí vem.