Eleições regionais

E se a maioria na Madeira depender do PAN?

João Freitas (à esq.), cabeça de lista nas eleições regionais, e André Silva, líder do PAN, durante uma recente ação de campanha do partido junto a um complexo balnear no Funchal <span class="creditofoto">Foto HOMEM DE GOUVEIA / LUSA</span>

João Freitas (à esq.), cabeça de lista nas eleições regionais, e André Silva, líder do PAN, durante uma recente ação de campanha do partido junto a um complexo balnear no Funchal Foto HOMEM DE GOUVEIA / LUSA

O partido está disposto a negociar com sociais-democratas ou com socialistas, mas tem exigências como uma rede pública de lares de idosos e um hospital veterinário onde as pessoas mais carenciadas possam tratar os animais de companhia. Se repetir o resultados das eleições europeias, o Pessoas-Animais-Natureza terá pelo menos um deputado na Assembleia Legislativa da Madeira

Texto Marta Caires, correspondente na Madeira

João Henriques Freitas, advogado de profissão e ativista dos direitos dos animais, é o nome à frente da lista do PAN às regionais deste domingo e, se conseguir repetir o resultado das europeias, será um dos novos deputados na Assembleia Legislativa da Madeira. Pessoa de causas, deixa claro que, da sua parte, está disponível para negociar, seja com o PS, seja com o PSD, em caso de o partido vencedor não garantir maioria absoluta. “Não fechamos portas mas temos exigências, que pelo histórico de 40 anos de poder será mais difícil ao PSD aceitar”.

O líder regional do Pessoas-Animais-Natureza admite, no entanto, entrar numa solução de Governo com PSD e CDS. “Uma maioria PSD/CDS será mais do mesmo, uma coligação que inclua mais uma força mudará a forma de governar, será outra coisa completamente diferente”. O também cabeça de lista às regionais explica ainda que para o PAN esta posição não vai contra o que disse André Silva na visita que fez recentemente à Madeira, durante a qual disse que o partido estava disposto a viabilizar uma geringonça regional.

“Nós não somos um partido de ideologias tradicionais, somos um partido de causas”. Por isso, se for para negociar, João Henriques Freitas aceitar sentar-se à mesa com Miguel Albuquerque, do PSD, ou Paulo Cafôfo, embora reconheça que será mais difícil negociar com os sociais-democratas,que várias sondagens apontam como possível vencedor mas sem maioria absoluta. O PAN tem exigências das quais não abre mão. Para o ambiente, por exemplo, preconiza o desmantelamento das jaulas de aquacultura junto à costa da ilha. “Se estão previstos mais cinco projetos de aquacultura, é fácil perceber como seriam complicadas as negociações com o PSD”.

O PAN não esconde que gostaria de poder formar um grupo parlamentar na Assembleia Legislativa da Madeira que sair das eleições deste domingo <span class="creditofoto">Foto Homem de Gouveia / Lusa</span>

O PAN não esconde que gostaria de poder formar um grupo parlamentar na Assembleia Legislativa da Madeira que sair das eleições deste domingo Foto Homem de Gouveia / Lusa

E há mais propostas na lista de reivindicações, como a criação de um hospital veterinário público para prestar cuidados aos animais de companhia de pessoas mais carenciadas ou a abertura de um centro regional de esterilização de animais errantes. O PAN pede também um crematório para animais de companhia que, neste momento, estão a ser incinerados com o lixo na central da Meia Serra. “Isto é muito doloroso para as pessoas que consideram os animais de companhia como parte da família”, diz ao Expresso.

Além de pedir ainda o fim da proibição de alimentar animais de rua e exigir uma redução do IVA na ração e nos cuidados veterinários, o PAN também tem medidas de apoio social e reclama a criação de uma rede de lares públicos para idosos. “Como está, não pode continuar. Ou a família tem dois mil euros para internar os seus idosos no privado ou o idoso tem de esperar que alguém morra nos lares públicos”.

Ao programa do PAN são comuns as medidas que marcaram esta campanha na Madeira: um subsídio de mobilidade que garanta viagens a preços razoáveis, um ferry que faça a ligação marítima ao continente, a liberalização dos portos e o fim das listas de espera. João Henriques Freitas até defende que, a questão da listas de espera nos centros de saúde e no hospital, seja resolvida com parcerias com o privado, desde que o processo seja devidamente fiscalizado e regulamentado.

Para o homem que entrou na política por não conseguir ficar indiferente ao que via nos olhos das pessoas mais desprotegidas e nos olhos de animais, existe ainda um outro ponto do qual não abdica: o fim do tráfico de influências. “Este é um barrete de orelhas, de lã, daqueles madeirenses, que tanto serve ao PSD como ao PS, não fazemos distinções”.

Se repetir o resultado das europeias na Madeira, nas quais conseguiu perto de 3500 votos, o PAN poderá ser de facto importante num cenário sem maioria absoluta, mas a eleição de um deputado para o Parlamento regional não é uma novidade. Na verdade, foi na Madeira, nas regionais de 2011 que o partido dos animais conseguiu a primeira eleição para uma assembleia. Agora, para estas regionais, a ambição é maior: conseguir um grupo parlamentar.