energia
Janz: a histórica fábrica de contadores está insolvente
Empresa parou a produção de contadores de energia e deixou 60 pessoas sem trabalho
Miguel Prado
A história começou em 1915, quando Bruno Janz, de ascendência austríaca, abriu em Lisboa um negócio de componentes elétricos. Durante décadas aquela marca forneceu grande parte dos contadores de eletricidade nas nossas casas. Mas hoje a fábrica da zona oriental de Lisboa faz contas à sua própria existência. A Janz Contadores de Energia foi declarada insolvente a 29 de outubro. Uma semana depois o seu principal acionista, a Contar Eletrónica Industrial, também foi declarado insolvente.
O administrador da insolvência da Janz, Isaac Oliveira, revelou ao Expresso que a fábrica parou a 12 de novembro, deixando em suspenso os seus 29 trabalhadores. Outras três dezenas de funcionários da Contar também ficaram na mesma situação. Todos, realçou Isaac Oliveira, de “média e alta qualificação”. A apresentação à insolvência foi feita pela Janz e agora há duas saídas possíveis: aprovar um plano de recuperação ou liquidar. “A minha intenção é não ir para liquidação. Estamos a tentar que a empresa continue em laboração”, disse Isaac Oliveira. Está prevista uma assembleia de credores para 11 de dezembro, que poderá ser adiada, para ganhar tempo para um eventual plano de recuperação, que pode trazer novo capital.
“Nós como investidores chegámos ao fim”, disse ao Expresso Manuel Janz, que permanece à frente de uma outra empresa do grupo, a Janz Contagem e Gestão de Fluidos. Esta sociedade fabrica contadores de água, emprega 250 pessoas e está financeiramente saudável, assegurou o empresário.
A Janz Contadores de Energia em 2017 faturou €4,2 milhões e teve um prejuízo de €547 mil. Em 2016 tinha tido vendas de €3,9 milhões e perdas de €926 mil. A acumulação de prejuízos deteriorou a situação financeira da Janz, que chegou ao final do ano passado com capitais próprios negativos de €1,2 milhões. O ex-presidente da empresa, António Papoila, invoca a “contínua descida do preço dos contadores” como razão para o colapso. “O mercado desceu mais de 40% em dois anos”, lamenta o gestor, notando que a Janz não conseguiu competir com os baixos preços da concorrência. “Nós compramos os componentes na Europa, não na China”, observa. “Fizemos o nosso melhor para ter um produto de alta qualidade e investimos muito em tecnologia”, garante.
“Nós como investidores chegámos ao fim”, afirma Manuel Janz, da família que fundou a fábrica de contadores
A Janz Contadores de Energia tem como acionistas as empresas Fontain SGPS (46%) e Contar Eletrónica Industrial (54%). Esta última tem como maiores acionistas a ABIL (empresa da família Janz, que tem uma posição de 43%) e António Papoila (17%).
A fábrica de contadores de energia da Janz fechou portas na semana passada devido à falta de componentes que eram fornecidos pela sua maior acionista, a Contar. As contas desta última também estiveram no vermelho durante vários anos, mas em 2017 a Contar passou do prejuízo ao lucro (com um ganho de €62 mil), tendo também melhorado as suas receitas em 12%, para €3,1 milhões. No final de 2017 a Contar tinha um capital próprio negativo de €1,3 milhões.
Administrador de insolvência diz querer evitar a liquidação da empresa e tentar salvar os empregos
A Janz foi durante décadas um fornecedor de referência da EDP, tendo sido premiada em 2012 na categoria de inovação dos prémios da EDP para os seus fornecedores, pelo fabrico da EDP Box, ferramenta de contagem usada no projeto Inovgrid, de criação de uma rede elétrica inteligente. Mas nos últimos anos a EDP abriu o leque de fornecedores, incluindo fabricantes chineses. No ano passado a EDP contratou 800 mil contadores ao consórcio da alemã Siemens e da suíça Landis+Gyr.
Para o negócio de contadores elétricos da família Janz é o fim da linha. A marca continuará a produzir contadores de água. Em suspenso fica o futuro de 60 trabalhadores.