Economia Real

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Luís Todo Bom

As lições do Infarmed

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A mencionada, e não concretizada, transferência do Infarmed, de Lisboa para o Porto, é um estudo de caso muito interessante, em termos de estratégia política.

A ida do Infarmed nunca se incluiu no objetivo da descentralização.

O Porto é já uma grande metrópole europeia, que compete diretamente com Lisboa, no cenário internacional, na atração de investimento e instituições.

Tal como Barcelona, em relação a Madrid, Lyon em relação a Paris, e Milão em relação a Roma.

O Porto insere-se, aliás, no conceito das “segundas capitais”, menos administrativas e mais empresariais, com vantagens claras na atração de investimento produtivo e na criação de ecossistemas empresariais modernos.

O Governo nunca teve a intenção de concretizar esta transferência e o Porto sempre esteve ciente desse facto.

Tratou-se, assim, de mais uma encenação política, na senda da novela de Tancos.

Uma verdadeira descentralização acarretaria um custo eleitoral para a coligação que governa o país

Tal como a nova Secretaria de Estado do Interior em Castelo Branco.

Que o país, anestesiado, já não estranha.

Não saiu de Lisboa o Infarmed, como não sairá de Lisboa nenhuma instituição pública relevante.

Pela simples razão que Lisboa, em geral, e as instituições públicas, em particular, constituem a base eleitoral da atual coligação que governa o país.

Uma verdadeira descentralização acarretaria um custo eleitoral que não estão dispostos a suportar.

Se não fosse assim, e se existisse um propósito real de descentralização, o Infarmed teria sido transferido para Coimbra.

Uma cidade do interior, pouco cosmopolita, mas com o melhor ou um dos melhores hospitais do país, membro da M8 Alliance (o G8 da Saúde), com um “cluster da saúde” com dimensão para se poder expandir e com unidades de referência europeia, com o único parque tecnológico na área da biotecnologia, o Biocant, com ligações às melhores empresas farmacêuticas nacionais, e com uma universidade prestigiada, nas áreas da medicina, da química e da farmacêutica.

Um governo sério, verdadeiro, competente, corajoso e empenhado na defesa do equilíbrio territorial, teria tomado essa decisão.

E tomaria outras semelhantes.

Sem se amedrontar com a ameaça de saída de alguns técnicos do Infarmed, que seriam facilmente substituídos no ecossistema científico de Coimbra.

Que uma parte substancial de Lisboa, por estas razões e na base destas encenações, vote PS, não me surpreende.

Que o resto do país ainda vote PS, é para mim um enigma.

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