A tempo e a desmodo

A tempo e a desmodo

Henrique Raposo

Já têm saudades do “império americano”?

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O termo “império americano” foi uma falácia usada vezes sem conta por pessoas, ideologias ou países inteiros que, no fundo, não sabiam a sorte que tinham por viver numa ordem liberal assente em regras e regulada pela força americana; achavam que a tranquilidade que marcava o nosso dia a dia era natural como o sol, quando na verdade era um projeto político assente nesse “império”. Agora parece as pessoas estão a acordar para a importância do tal “império”. É um dos efeitos indiretos de Trump.

Mais do que qualquer outra coisa, a irascibilidade isolacionista de Trump está a revitalizar a imagem da América clássica, internacionalista e “imperial”, a América que nos dava aquela vidinha previsível

Mais do que qualquer outra coisa, a irascibilidade isolacionista de Trump está a revitalizar a imagem da América clássica, internacionalista e “imperial”, a América que nos dava aquela vidinha previsível. Os dados do Pew mostram isto. Se é verdade que os povos em geral detestam Trump, também é verdade que continuam à espera da América internacionalista e “imperial”. O Japão é um bom exemplo. Trump só é bem visto por 30% dos japoneses; os EUA, enquanto país e aliado, é apreciado por quase 70%. O dado fundamental surge quando o Pew pergunta, Quem é que prefere como poder hegemónico, China ou EUA? Os EUA continuam a esmagar. No mundo ocidental (Canadá e Europa), a resposta é 64% para EUA, 17% para China e 21% neutros. O mesmo se passa no resto do mundo.

À espera do imperador

À espera do imperador

Nem Trump abala a perceção global de que os EUA são o polícia ideal. Como salienta um dos grandes académicos americanos em relações internacionais, Ivo Daalder, o internacionalismo americano está em alta, porque os povos começam a ter medo, percebem que, sem os EUA, o cenário só pode caminhar para a anarquia ou para uma hegemonia de um poder muito menos tolerável do que Washington, Pequim. Curiosamente, os próprios americanos estão a favor do “império” e contra o isolacionismo de Trump. Cerca de 70% continuam a defender o papel hegemónico dos EUA no mundo. Calma, portanto.