POLÍTICA

Siza Vieira pedirá escusa em casos relacionados com associação presidida pela sua mulher

Pedro Siza Vieira, ao centro, cumprimentado por António Costa, na sua tomada de posse como ministro da Economia, tendo ao lado o novo ministro da Defesa, João Gomes Cravinho <span class="creditofoto">Foto Ana Baião</span>

Pedro Siza Vieira, ao centro, cumprimentado por António Costa, na sua tomada de posse como ministro da Economia, tendo ao lado o novo ministro da Defesa, João Gomes Cravinho Foto Ana Baião

“Se se viesse a verificar uma situação concreta que pudesse colocar o ministro em impedimento em virtude de a Dra. Cristina Siza Vieira ser trabalhadora da AHP, o ministro naturalmente pediria escusa ou declarar-se-ia impedido de intervir ou decidir no caso”, afirma o Ministério de Pedro Siza Vieira ao Expresso

Texto Pedro Santos Guerreiro

Pedro Siza Vieira “normalmente” não terá intervenção em casos concretos relacionados com o turismo, por ser da alçada da Secretaria de Estado respetiva. Mas, se num caso que envolva a associação de hotelaria presidida pela sua mulher, Cristina Siza Vieira, o assunto subir ao ministério, então o governante pedirá escusa ou declarar-se-á impedido de nele participar. É esta a posição do ministro da Economia, tomada através do seu gabinete, em resposta a perguntas colocadas pelo Expresso.

“A propósito das notícias vindas a público sobre a situação da mulher do ministro Adjunto e da Economia, esclarece-se que o ministro não se considera diminuído ou afetado na sua capacidade de intervir na definição da política geral para o setor turístico”, começa por responder fonte oficial do Ministério da Economia, em resposta à pergunta concreta do Expresso sobre se sentia diminuído nas suas funções. Em causa está a revelação feita quinta-feira, pela agência Lusa, de que o novo ministro da Economia é casado com a presidente executiva da Associação de Hotelaria de Portugal (AHP). Este ministério, recorde-se, tem a tutela do Turismo.

“As competências do ministro relativas ao setor turístico encontram-se, além disso, delegadas na senhora secretária de Estado do Turismo, pelo que este não intervirá, normalmente, em decisões relativas procedimentos concretos”, prossegue o gabinete de Siza Vieira, na resposta enviada por escrito. E prossegue: “Não se vislumbram por isso exemplos concretos um impedimento se pudesse colocar. Se, ainda assim, se viesse a verificar uma situação concreta que pudesse colocar o ministro em impedimento em virtude de a Dra. Cristina Siza Vieira ser trabalhadora da AHP, o ministro naturalmente pediria escusa ou declarar-se-ia impedido de intervir ou decidir no caso.”

Uma resposta em dez pontos

Desde a primeira notícia que o Governo considera não existir incompatibilidade entre a funções de Pedro e de Cristina Siza Vieira. Na resposta ao Expresso, o argumento é repetido, entre dez pontos com que o Ministério pretende esclarecer a polémica.

“Nos termos da lei, não existe incompatibilidade em ser cônjuge de trabalhador ou dirigente de qualquer empresa ou associação do setor em que o membro do governo atua.” O ministro considera não estar, por isso, “diminuído ou afetado na sua capacidade de intervir na definição da política geral para o setor turístico, tal como no passado vários membros do Governo com a tutela do turismo que tiveram ligações prévias à atividade turística como empresários ou gestores do setor não se sentiram por isso diminuídos.”

O ministro da Economia terá pois ação governativa sobre o setor do turismo. Contudo, “também nos termos da lei, pode existir impedimento se o titular de um cargo público intervier num ato ou contrato da Administração Pública quando nele tenham interesse o próprio ou o seu cônjuge.” Nessas situações, “sempre que um titular de cargo público no exercício de funções se depare com uma situação de impedimento ou suspeição deve pedir escusa ou declarar-se impedido para a prática do ato ou para a celebração do contrato”.

O ministério considera, ainda assim, que essa hipótese é remota, não só porque as competências estão delegadas na secretária de Estado do Turismo, mas também porque, “a existir essa situação, por via de qualquer procedimento de natureza contratual ou outro, estes procedimentos são abertos, concorrenciais, transparentes e concursais, com critérios públicos e pré-estabelecidos e avaliados pelas entidades competentes.”

“Não se vislumbram por isso exemplos concretos em que o tema do impedimento se possa colocar.” Ainda assim, “e embora não se imagine” uma situação concreta “que pudesse colocar o ministro em impedimento em virtude de a Dra. Cristina Siza Vieira ser membro da direção da AHP, caso essa situação se viesse a verificar, o ministro naturalmente pediria escusa ou declarar-se-ia impedido de intervir ou decidir no caso.”

Leia na íntegra os dez pontos enviados por fonte oficial do Ministério da Economia ao Expresso:

1. O Ministro Pedro Siza Vieira é casado com a Dra. Cristina Siza Vieira há 30 anos.

2. A Dra. Cristina Siza Vieira desenvolve, há mais de 25 anos, a sua atividade profissional no setor do Turismo, trabalhando desde 2010 na direção da AHP.

3. A Dra. Cristina Siza Vieira, na qualidade de membro da direção da AHP, não é uma associada desta associação nem tem, por isso, interesse pessoal ligado à atividade turística (não sendo administradora nem proprietária de qualquer empresa hoteleira). É, isso sim, trabalhadora de uma associação empresarial sem finalidade lucrativa

4. Nos termos da lei, não existe incompatibilidade em ser cônjuge de trabalhador ou dirigente de qualquer empresa ou associação do setor em que o membro do governo atua.

5. O Ministro não está, por isso, diminuído ou afetado na sua capacidade de intervir na definição da política geral para o setor turístico, tal como no passado vários membros do Governo com a tutela do turismo que tiveram ligações prévias à atividade turística como empresários ou gestores do setor não se sentiram por isso diminuídos.

6. Também nos termos da lei, pode existir impedimento se o titular de um cargo público intervier num ato ou contrato da Administração Pública quando nele tenham interesse o próprio ou o seu cônjuge.

7. Ora, nessas situações, sempre que um titular de cargo público no exercício de funções se depare com uma situação de impedimento ou suspeição deve pedir escusa ou declarar-se impedido para a prática do ato ou para a celebração do contrato.

8. As competências do Ministro relativas ao setor turístico encontram-se delegadas na senhora Secretária de Estado do Turismo. Não se vislumbram por isso exemplos concretos em que o tema do impedimento se possa colocar.

9. A existir essa situação, por via de qualquer procedimento de natureza contratual ou outro, estes procedimentos são abertos, concorrenciais, transparentes e concursais, com critérios públicos e pré-estabelecidos e avaliados pelas entidades competentes.

10. Assim, e embora não se imagine, por tudo o que se disse, uma situação concreta que pudesse colocar o Ministro em impedimento em virtude de a Dra. Cristina Siza Vieira ser membro da direção da AHP, caso essa situação se viesse a verificar, o Ministro naturalmente pediria escusa ou declarar-se-ia impedido de intervir ou decidir no caso.

TANCOS I

Rovisco Duarte nega ter barrado PJ em Santa Margarida

Rovisco Duarte, em primeiro plano, tendo à sua direita o general Martins Pereira (seu adjunto e ex-chefe de gabinete de Azeredo Lopes), em imagem de arquivo, numa reunião presidida pelo primeiro-ministro <span class="creditofoto">Foto Marcos Borga</span>

Rovisco Duarte, em primeiro plano, tendo à sua direita o general Martins Pereira (seu adjunto e ex-chefe de gabinete de Azeredo Lopes), em imagem de arquivo, numa reunião presidida pelo primeiro-ministro Foto Marcos Borga

Ex-CEME assegura que ordens para travar os inspetores do contra-terrorismo da Judiciária foram dadas por responsáveis locais do Exército. Nessa altura, o arsenal roubado de Tancos estava guardado na base de Santa Margarida

Texto Hugo Franco, Joana Pereira Bastos, Vítor Matos e Micael Pereira

Rovisco Duarte, o ex-Chefe de Estado-Maior do Exército (CEME), nega que tenha dado ordens para impedir a entrada de uma brigada da Polícia Judiciária na base de Santa Margarida, local onde estava escondido o arsenal resgatado na Chamusca.

Ao Expresso, Rovisco Duarte garante que "não teve interferência sobre esta questão" tendo sido "efetuadas coordenações no local" por "se entender que não se justificava a intervenção do General CEME na resolução desta questão". Ou seja, de acordo com o ex-CEME, terão sido os comandantes locais do Exército a dar a ordem para a PJ não entrar.

A resposta foi dada através do gabinete de comunicação do Exército, na semana passada, quando o general era ainda o número um na hierarquia do Exército. Rovisco Duarte demitiu-se esta quarta-feira, cinco dias depois da saída do ministro da Defesa Azeredo Lopes.

Esta sexta-feira, o Expresso e o "Diário de Notícias" citaram dados sobre um dos documentos entregues na semana passada pelo ex-chefe de gabinete de Azeredo Lopes no Ministério Público. Trata-se da "documentação verdadeira" que o tenente-general Martins Pereira garante ter recebido das mãos de dois responsáveis da PJM no final do ano passado no Ministério da Defesa.

Um desses documentos é uma fita do tempo que refere que os inspetores da Unidade Nacional de Contra-Terrorismo (UNCT) da PJ foram proibidos de entrar na unidade militar entre as 11h e as 16h20, de 18 de outubro do ano passado. Só às 16h30 é que tiveram autorização para entrar, isto após o comandante de Santa Margarida receber por email o despacho judicial.

Este episódio, que já tinha sido noticiado há quase um ano pelo Expresso, é revelador da tensão que existia entre militares e civis durante a investigação ao roubo do armamento nos paióis nacionais em junho do ano passado. Apesar de a PJ ter sido nomeada pelo Ministério Público como o órgão de polícia criminal do inquérito-crime ao assalto, os investigadores da UNCT estiveram barrados à porta de Santa Margarida durante cerca de cinco horas.

TANCOS II

General Nunes da Fonseca é o novo homem forte do Exército

Sucessor de Rovisco Duarte vem do comando da GNR e a sua posse está marcada para as 19h desta sexta-feira, no Palácio de Belém. Anúncio do novo CEME foi feito por António Costa em Bruxelas

Texto Susana Frexes, correspondente em Bruxelas, e Hugo Franco

O novo chefe do Estado-Maior do Exército (CEME) é o tenente-general Nunes da Fonseca, segundo comandante-geral da GNR. O militar sucede ao general Rovisco Duarte, que se demitiu na última quarta-feira na sequência da polémica em torno das armas roubadas em Tancos.

Esta sexta-feira em Bruxelas, António Costa afirmou que o Conselho Superior do Exército "acabou de dar por unanimidade parecer favorável ao nome que tinha sido indigitado pelo Governo".

O primeiro-ministro, que participa num encontro do Conselho Europeu, acrescentou ainda que vai decorrer um "conselho de ministros eletrónico" de forma a "hoje mesmo podermos propor ao senhor Presidente da República o nome do senhor tenente-general José Nunes da Fonseca para o exercício das funções como chefe do Estado-Maior do Exército".

Costa disse esperar que Nunes da Fonseca "desempenhe as suas funções, que é aquilo que todos contamos que cada servidor público possa fazer".

De acordo com o site da presidência da República, o novo CEME vai tomar posse às 19h desta sexta-feira no Palácio de Belém.

"O primeiro-ministro informou o Presidente da República da proposta de nomeação do Senhor General José Nunes da Fonseca como chefe do Estado-Maior do Exército, a qual aceitou", pode ler-se no site.

EDUCAÇÃO

Professores, uma classe exausta a desejar a reforma antecipada

Professora em ação de protesto na Baixa do Porto: estudo traça retrato preocupante da classe <span class="creditofoto">Foto José Coelho / Lusa</span>

Professora em ação de protesto na Baixa do Porto: estudo traça retrato preocupante da classe Foto José Coelho / Lusa

As conclusões de um inquérito a 16 mil docentes mostram um grupo profissional com elevadíssimos níveis de exaustão emocional, stresse e bastante preocupado com a indisciplina nas escolas

Texto Isabel Leiria

As primeiras conclusões – que davam conta de uma classe profissional em “exaustão emocional” (metade com níveis no mínimo “preocupantes” e um quarto com sinais “críticos” ou “muito definidos”) e pouco realizada profissionalmente (mais de 40%) – foram divulgadas em julho. Esta sexta-feira fica a conhecer-se o retrato mais completo a partir de um inquérito nacional junto de 16 mil professores de todos os níveis de ensino e do sector público e privado.

O estudo sobre o desgaste na profissão docente foi pedido pela Fenprof à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas e levado a cabo por uma equipa de investigadores coordenada pela historiadora Raquel Varela, da Universidade Nova de Lisboa. Entre os dados agora divulgados constata-se, por exemplo, que 84% dos docentes reformava-se antecipadamente se não houvesse penalização. E que quase dois em cada três (62%) estão preocupados ou extremamente preocupados com a indisciplina. Quanto à burocracia associada ao seu trabalho, o diagnóstico é comum a quase todos, considerando-a como um fator “negativo” ou “extremamente negativo”. Por tudo isto não se estranha que 57% dos professores dizem sofrer de “stresse laboral elevado”.

O inquérito nacional sobre as condições de vida e trabalho na educação em Portugal era composto por 158 questões. Uma delas incidia sobre o consumo de medicamentos, drogas e álcool. Não sendo um problema para a grande maioria dos docentes, houve 15% que admitiram estar preocupados com o consumo de medicamentos que faziam. Cerca de 3% “apresentam consumos autopercebidos como preocupantes de drogas e outro tanto de álcool”.

Os motivos da exaustão

Quanto aos motivos que estão associados a índices de exaustão emocionais muito elevados identificaram-se fatores como a preocupação com a indisciplina, o nível salarial ou ainda o tipo de escola. “Nas escolas públicas os professores exibem um muito maior nível de exaustão emocional do que nas privadas incluídas na amostra”, lê-se no estudo que está a ser apresentado esta sexta-feira, em Lisboa, no II Encontro Internacional sobre o Desgaste na Profissão Docente.

Mas é a idade que acaba por ser determinante no desgaste dos professores e que se agrava a partir dos 55 anos. A situação é tanto mais preocupante quanto é sabido que o envelhecimento da classe docente tem-se acentuado de forma muito rápida.

Entre os 16 mil professores que responderam ao inquérito – de fevereiro a abril – a idade média é de 49,5 anos, com um tempo médio de serviço de 24,5 anos. Praticamente 14% – o equivalente a 18 mil professores extrapolando para o universo de professores – dão aulas longe das suas famílias.

PROTEÇÃO CIVIL

SIRESP tem falhas inaceitáveis numa rede de emergência e segurança

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Foto D.R.

As conclusões constam de um estudo encomendado pelo Governo, que aponta falhas no SIRESP e explica, recordando os fogos do ano passado, que o risco pensado foi focado em eventos tipo Euro 2004, estando “desajustado à maioria dos eventos de outra natureza que têm exigido maiores recursos da rede”

Texto Lusa

Um estudo encomendado pelo Governo aponta limitações no contrato da parceria público-privada do SIRESP (Sistema Integrado de Redes de Segurança de Portugal) e diz que o sistema apresenta fragilidades inaceitáveis numa rede de emergência e segurança.

Segundo divulgou esta sexta-feira a rádio TSF, este trabalho do Instituto de Telecomunicações (IT), que dá seguimento a uma primeira parte do estudo divulgada no ano passado a propósito do incêndio de Pedrógão Grande, estendeu a análise ao funcionamento geral da rede e concluiu que as estações base do SIRESP não têm autonomia suficiente em caso de falta de energia.

Essa autonomia, de apenas seis horas, considerada pelo estudo "claramente insuficiente" para situações de emergência e segurança, é a que está prevista no contrato assinado com a empresa do SIRESP, detida maioritariamente pela Altice Portugal (52,10%), com o Estado a ter uma posição minoritária de 33%.

O documento a que a TSF teve acesso, intitulado "Estudo do funcionamento do SIRESP - Parte II", pede mais estações móveis, mais formação a quem usa a rede, entre outras mudanças, e acrescenta: "A indisponibilidade da Rede admitida pelo contrato é muito superior à aceitável numa rede de emergência e segurança".

O estudo diz que o contrato assinado com o Estado exige ao SIRESP uma disponibilidade de 99,9%, mas o problema está na fórmula de cálculo definida contratualmente.

"Cada interrupção é ponderada pela sua importância na rede", pelo que, detalha o estudo, "mesmo que 70" das 546 estações base que existem no continente falhem (numa gravidade de nível 1) durante 48 horas por ano, a falha contratual é de "apenas 6,15 horas por ano, abaixo do limite estabelecido" de "8,76 horas".

"Este exemplo simples", detalham os especialistas, mostra que "a disponibilidade contratualizada, devido ao modo de cálculo definido, é claramente inferior ao aceitável para uma rede de emergência e segurança".

Defendem, por isso, que a rede SIRESP apresenta fragilidades inaceitáveis numa rede de emergência e segurança, sobretudo no que respeita à maioria das ligações entre as estações base e os comutadores, que devem ser substituídas por ligações via rádio (preferencialmente feixes hertzianos).

O estudo considera ainda que "a Rede SIRESP não foi concebida para evoluir em relação à configuração final traçada no Caderno de Encargos e Contrato quer na cobertura, quer no serviço que presta, quer na sua capacidade para ocorrer a situações de emergência".

Recordando o que se passou nos fogos, é explicado que o risco pensado foi focado em eventos tipo Euro 2004, estando "desajustado à maioria dos eventos de outra natureza que têm exigido maiores recursos da rede", com mais operacionais, em zonas com pouca população.

Destacando que, como se viu em 2017, "pontualmente", as redes de telemóvel responderam melhor que o SIRESP, o estudo recorda que a falta de flexibilidade da rede de emergência "é totalmente distinta das redes móveis públicas que estão permanentemente a adaptar-se não só aos clientes, mas também a eventos extraordinários".

Tribunal de Contas chumbou alterações ao contrato

Na semana passada, o Tribunal de Contas recusou o visto às alterações do contrato que o Governo tem com a empresa que gere o SIRESP e que previa um investimento de 15,65 milhões de euros.

As alterações ao contrato consistiam em dotar 451 estações de base de um nível de redundância via satélite e geradores de emergência em casos de falha de energia, bem como aplicação de multas em caso de incumprimento pela operadora que gere o SIRESP.

Os juízes do Tribunal de Contas decidiram recusar o visto ao aditamento contratual, argumentando terem "sérias dúvidas" sobre se as medidas de redundância do sistema de comunicações SIRESP "não constituíam uma obrigação da operadora SIRESP" desde a celebração do contrato inicial.

ESPAÇO

Uma portuguesa na missão para estudar o planeta Mercúrio

Mercúrio, o planeta mais pequeno e mais próximo do Sol <span class="creditofoto">Foto D.R.</span>

Mercúrio, o planeta mais pequeno e mais próximo do Sol Foto D.R.

A astrofísica Joana S. Oliveira faz parte da equipa científica da BepiColombo, a primeira missão europeia que vai estudar o planeta mais próximo do Sol. Lançamento acontece este sábado e o objetivo é recolher dados durante um ano, prazo que poderá ser estendido

Texto Mafalda Ganhão e Lusa

A primeira missão europeia que vai estudar Mercúrio, o planeta mais pequeno e mais próximo do Sol, vai ser lançada no sábado, com a participação de uma cientista e uma empresa portuguesas.

A astrofísica Joana S. Oliveira faz parte da equipa científica da missão BepiColombo da Agência Espacial Europeia (ESA) e a empresa Efacec construiu um equipamento eletrónico que irá monitorizar a radiação espacial durante a viagem e a operação de um dos satélites.

A missão conjunta da ESA e da agência espacial japonesa JAXA integra duas sondas, cujo lançamento está previsto para as 2h45 deste sábado (hora de Lisboa) da base de Kourou, na Guiana Francesa, a bordo de um foguetão Ariane 5.

As sondas só vão estar a orbitar o planeta sete anos após o seu lançamento. Uma, da ESA, vai estudar a superfície, o interior e a camada mais externa da atmosfera (exosfera) de Mercúrio. A outra, da JAXA, vai analisar a magnetosfera (região a maior altitude que envolve o planeta).

Justificando à Lusa a relevância da missão, a investigadora Joana S. Oliveira disse que "Mercúrio é uma peça do 'puzzle' muito importante para perceber a evolução do Sistema Solar", uma vez que é o único planeta rochoso, além da Terra, que "possui um campo magnético global com origem num mecanismo de dínamo no núcleo líquido".

Para se compreender como vai evoluir o campo magnético da Terra, que protege o planeta da radiação solar intensa, é necessário "perceber como funciona o mecanismo que produz o campo magnético nos diferentes planetas", adiantou.

De acordo com a cientista portuguesa, há questões que ficaram por responder com a sonda MESSENGER da agência espacial norte-americana NASA, que esteve na órbita de Mercúrio durante quatro anos, entre 2011 e 2015.

Joana S. Oliveira salientou que "não foram feitas medições do campo magnético no hemisfério sul do planeta devido à órbita excêntrica da sonda", que tinha de se distanciar de Mercúrio para arrefecer e "manter uma temperatura funcional".

Também por causa da órbita da MESSENGER, o campo magnético das rochas de Mercúrio só foi mapeado "numa banda de latitude muito pequena".

Mercúrio é o menor e menos explorado planeta do Sistema Solar interior - tendo começado por ser examinado pela sonda Mariner, de 1974, da NASA. A última missão de estudo do planeta encontrou evidências de gelo de água em crateras sombreadas.

As suas temperaturas variam de 450 graus Celsius a -180 graus Celsius e há sinais de atividade vulcânica no passado.

Quanto à missão BepiColombo, assim designada em homenagem ao matemático e engenheiro italiano Giuseppe (Bepi) Colombo (1920-1984) que se debruçou sobre Mercúrio, destina-se a recolher dados durante um ano, prazo que poderá ser estendido por mais 12 meses.

Durante a viagem, as sondas vão aproximar-se da Terra e de Vénus antes de passarem seis vezes por Mercúrio e ficarem a girar em torno dele.

A sonda da ESA tem incorporado um equipamento eletrónico fabricado e testado pela Efacec "capaz de detetar o impacto de partículas energéticas como protões e eletrões", explicou à Lusa João Costa Pinto, da direção de projetos para o Espaço da empresa, acrescentando que o engenho distingue as partículas e determina "a gama de energias em que se encontram".

CIÊNCIA

Três projetos de investigação liderados por Portugal ganham prémios de €11,6 milhões da Comissão Europeia

Eficiência energética na inteligência artificial, nanotecnologias para tratar doenças, um novo medicamento e um intestino artificial são as apostas dos cientistas portugueses

Texto Virgílio Azevedo

Três projetos de investigação europeus liderados por instituições científicas portuguesas ganharam um financiamento de €11,6 milhões do programa FET Open da Comissão Europeia. Há ainda um quarto projeto premiado com €3 milhões onde participa uma empresa nacional.

O FET Open (Future and Emerging Technologies) é um programa do Conselho Europeu de Inovação (EIC) que premeia tecnologias emergentes e de futuro, e está integrado no Horizonte 2020, o programa da UE de apoio à ciência, tecnologia e inovação.

Os projetos liderados por Portugal são o ChipAI, que pretende desenvolver “chips” eficientes em termos energéticos para sistemas de inteligência artificial; o NeuroStimSpinal, que vai usar nanotecnologias para regenerar a espinal medula; e o NOVIRUSES2BRAIN, que pretende criar um medicamento para erradicar espécies multivirais do sistema nervoso central em doentes infetados. O quarto projeto, o Fish-AI, vai desenvolver um intestino artificial para a criação sustentável de peixes saudáveis em aquacultura.

O ChipAI é coordenado pelo Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia (Braga), num projeto onde participa também a portuguesa Fciencias.Id - Associação para a Investigação e Desenvolvimento de Ciências, uma associação privada sem fins lucrativos que junta a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e seis empresas. E ainda quatro universidades e duas empresas europeias.

O NeuroStimSpinal é liderado pela Universidade de Aveiro e tem a participação de duas empresas portuguesas, a Graphenest e a Stemmatters - Biotecnologia e Medicina Regenerativa, além de duas universidades e duas fundações europeias.

O NOVIRUSES2BRAIN é coordenado pelo Instituto de Medicina Molecular (iMM) da Universidade de Lisboa, e envolve ainda uma universidade espanhola e uma empresa alemã. E no Fish-AI participa a empresa portuguesa Biofabrics.

Os quatro projetos com parceiros portugueses fazem parte de um grupo de 38 projetos de investigação premiados pelo EIC com um total de €124 milhões. Carlos Moedas, comissário europeu da Investigação, Ciência e Inovação, afirmou na altura da divulgação destes prémios que a Comissão Europeia apoia “tecnologias disruptivas que são fundamentais para revelar muitos dos segredos que nos podem trazer uma sociedade e um futuro melhores”. E é “com este investimento que vamos criar novos mercados no futuro”.

AVIAÇÃO

Ryanair e pilotos portugueses chegam a acordo

Conflito laboral na Ryanair está agora fora dos céus portugueses <span class="creditofoto">Foto Armando Babani / EPA</span>

Conflito laboral na Ryanair está agora fora dos céus portugueses Foto Armando Babani / EPA

A companhia aérea tem enfrentado a contestação de trabalhadores em vários países da Europa, os quais se queixam que a empresa impõe as leis irlandesas e não a legislação laboral dos países onde opera

Texto Expresso

A Ryanair anunciou esta sexta-feira que assinou um acordo com o SPAC - Sindicato de Pilotos da Aviação Civil, reconhecendo as mudanças de base e antiguidade “de todos os pilotos empregados diretamente pela Ryanair em Portugal”.

“As negociações com o SPAC para um contrato coletivo de trabalho, de acordo com a lei portuguesa, começarão antes do final de outubro”, lê-se no comunicado da companhia aérea.

O acordo segue-se a outros que a empresa já assinou no Reino Unido e em Itália, abrangendo os seus empregados diretos nesses países. A companhia de baixo curto está também em negociações com o sindicato de pilotos espanhol.

“Espero que estes acordos em Espanha, e em Portugal em particular, encorajem os sindicatos da tripulação de cabine nesses dois países a afastar os funcionários das companhias aéreas concorrentes (que têm bloqueado as negociações) e a concluir rapidamente os acordos com a tripulação de cabine nesses países”, afirma em comunicado Eddie Wilson, diretor de pessoal da Ryanair.

Os acordos surgem na sequência das cartas que a companhia aérea enviou ao SPAC a 25 de setembro e a 4 de outubro, convidando a uma reunião em Dublin ou em Lisboa. A Ryanair tem sido alvo de greves e contestações dos trabalhadores em vários países da Europa, que se queixam que a companhia aérea impõe as leis irlandesas e não a legislação laboral dos países onde opera. Em julho e em setembro os tripulantes de cabine de vários países europeus fizeram greve, incluindo em Portugal.