“Muito mau”, “desastroso”, “grande derrota”, “vergonhoso”. Críticos não poupam Rio

<span class="creditofoto">Foto Nuno Fox</span>

Foto Nuno Fox

Críticos de sempre e ex-apoiantes de Rui Rio concordam: não há como camuflar um dos piores resultados de sempre. O líder do PSD mantém o tabu e não abre jogo sobre o futuro - e os putativos candidatos à sua sucessão também

Texto Miguel Santos Carrapatoso

Estava escrito nas estrelas: assim que estivessem contados todos os votos e se as piores expectativas se concretizassem, os adversários de Rui Rio não o iam poupar. Assim tem sido ao longo do dia. Autarcas e dirigentes do PSD divergem em relação ao método e ao calendário - se as eleições internas devem ou não ser antecipadas -, mas concordam no essencial: Rio é o grande responsável pela derrota histórica e tem de cair.

Em declarações ao Expresso, Carlos Carreiras, presidente da Câmara Municipal de Cascais, não tem dúvidas: “Não há que copiar outros partidos de esquerda e transformar derrotas em vitórias. Há vitoriosos e derrotados e o PSD está do lado dos derrotados”. E o líder tem condições para continuar? “O que prevalece é aquilo sair da reflexão que ele se comprometeu a fazer. Rui Rio tem uma grande propensão para vitimizar-se e eu não quero contribuir para isso”, diz.

“É inegável que o PSD perdeu as eleições e quebrou um ciclo de vitórias nas legislativas. O PSD está habituado a líderes que lutam pela vitória e não por segundos lugares honrosos”, concorda Paulo Cunha, autarca de Famalicão.

Antes deles, Almeida Henriques, presidente da Câmara de Viseu, que até apareceu ao lado de Rio na campanha, já tinha considerado o resultado "globalmente mau” e defendido a antecipação do congresso. “Globalmente o resultado é mau e o PSD deve antecipar o congresso. Um dos erros deste ano e meio foi o excessivo fechamento do PSD sobre si próprio", afirmou na Antena 1.

Também de Viseu, Pedro Alves, líder da distrital do PSD, um dos grandes apoiantes de Rio contra Santana Lopes e depois um dos maiores desiludidos com a performance do presidente social-democrata, exige eleições o quanto antes. “O PSD perdeu e não há vitórias morais. Tem de arrumar a casa no mais curto espaço de tempo”, diz ao Expresso.

Carlos Morais, outro ex-apoiante de Rui Rio, considera que o partido “teria tudo ganhar em antecipar as eleições o quanto antes. “O resultado foi muito mau e Rui Rio nem sequer foi capaz de assumir a culpa. Não nos podemos conformar”, sublinha o líder do PSD de Viana do Castelo.

João Moura, de Santarém, que também chegou a estar próximo do líder do PSD, assina por baixo. “Não há como camuflar as evidências aritméticas. O PSD não é um partido qualquer. O PSD é um partido que tem de ser alternativa para governar Portugal. Rui Rio teve toda a liberdade, escolheu tudo e perdeu”, diz ao Expresso o dirigente social-democrata

“Rui Rio não pode entender um dos piores resultados de sempre como um resultado positivo. Foi uma grande derrota, ponto. Mais: Rui Rio, que sempre disse que as sondagens não contavam para nada, não pode dizer que ganhou porque as sondagens se enganaram. Muito menos culpar todos os outros”, insurge-se Rui Rocha, dirigente de Leiria e que chegou a fazer parte da Comissão Política Nacional do líder do PSD.

De Coimbra, Maurício Marques, que se demitiu da liderança da distrital em divergência com Rui Rio, reforça as críticas que fez desde sempre: “Não o podemos esconder: os resultados são péssimos para não dizer desastrosos. Não me conformo. Rui Rio não tem condições para continuar à frente do partido e devia ter feito o mesmo que Assunção Cristas, não estar à espera que o empurrem”, nota.

Sem surpresa, Bruno Vitorino, líder da distrital e um dos maiores críticos de Rui Rio, subscreve todas as críticas. “Não consigo deixar de sentir vergonha do discurso de ontem [domingo]. Para Rui Rio, a culpa foi de todos menos do próprio. O PSD merece mais e merece que um resultado daqueles não seja encarado com aquela leviandade”. O até agora deputado - não fez parte das listas que Rio levou a voto - desafia ainda o presidente do PSD a ir a votos e sufragar internamente a sua estratégia. “Tem a obrigação de ir a votos. Não o fazer seria uma cobardia política. Que não arranje desculpas”, desafia o social-democrata.

Rio e putativos candidatos em silêncio

Apesar das críticas (e de alguns apoios tímidos que foram chegando dos seus mais próximos), Rio vai esconder o jogo nos próximos dias. O discurso na noite de domingo, o de um homem acossado que atirou contra adversários internos e externos até finalmente assumir a sua quota de responsabilidade “para o bem e para o mal”, permitiu a Rio ganhar tempo e ensaiar argumentos para uma futura disputa eleitoral interna. Quem o visse e ouvisse seria capaz de jurar que o líder do PSD quer e vai disputar as próximas eleições, agendadas para o início de 2020. Mas Rio é imprevisível e não está a excluída a hipótese de o presidente do PSD ter apenas adiado o anúncio público de uma decisão que já estará praticamente fechada na sua cabeça: a de deixar a liderança do partido.

Do lado dos putativos candidatos à sucessão de Rui Rio - e são quatro, Luís Montenegro, Miguel Pinto Luz, Jorge Moreira da Silva e Miguel Morgado -, os trunfos vão sendo geridos. E o silêncio também. Estarão todos à espera do que vai fazer Rui Rio e a gerir timings. Os próximos dias serão de definição.