CDS. João Almeida pondera candidatura e apresenta moção de estratégia global no congresso

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João Almeida: discussões ideológicas no partido, não Foto Alberto Rrias

Porta-voz do CDS assume “posição privilegiada” no futuro do partido. É o único dos possíveis sucessores com lugar no Parlamento e rejeita discussões ideológicas no seio do partido. Contactos entre potenciais candidatos já começaram

Texto Mariana Lima Cunha

Não é ainda um anúncio de candidatura, mas pode ser um primeiro passo. João Almeida, porta-voz e ex-secretário-geral do CDS, vai apresentar uma moção de estratégia global no próximo congresso do partido, assumindo a sua “posição privilegiada” para pensar - e agir - sobre o futuro do CDS.

Em declarações ao Expresso, o deputado - um dos cinco que os centristas elegeram na noite passada - explica que será necessário começar por discutir o que correu mal e levou à “derrota estrondosa” dos centristas, que tiveram em percentagem o pior resultado da sua história. E para isso reunirá um grupo de pessoas que consigo elaborem uma moção de estratégia global, que poderá ou não ser acompanhada por uma candidatura à liderança - um cenário que no partido já vinha sendo colocado nos últimos meses, dados os maus resultados que as sondagens previam… e que a realidade acabou por superar.

Uma vantagem em relação a outros candidatos

João Almeida está agora na pole position dos possíveis candidatos à liderança, até porque conta com uma vantagem que mais nenhum deles (Pedro Mota Soares, Francisco Rodrigues dos Santos ou Nuno Melo, por exemplo) tem: o lugar como deputado, que num partido com uma representação tão reduzida é um ativo a não desperdiçar. “Com a saída da Assunção, restam quatro deputados. É obrigatório que qualquer um de nós converse e veja como pode ser útil ao partido numa fase destas. É uma posição privilegiada”, reconhece.

E o que há a discutir, e inscrever numa moção, nesta altura? Para João Almeida, é preciso, desde logo, encontrar “uma razão para as pessoas se identificarem com o CDS”. Com muitos anos de experiência em campanhas, diz já ter visto “muita agressividade” nas ruas contra os centristas, talvez por serem vistos como uma ameaça real. Desta vez, ao contrário: “Houve mais indiferença”. E isso não é bom sinal.

É preciso “mexer na organização do partido”

Por outro lado, é preciso mexer na “organização do partido”, “seja em termos mediáticos ou de contacto com as pessoas”. “O trabalho de quatro anos foi praticamente indiferentes às pessoas”, sublinha. Ou seja, de nada valeu a oposição feita pelo CDS ao Governo nem a sua apresentação de propostas alternativas - “havia sempre uma percentagem de reconhecimento”. Desta vez, nada disso aconteceu e o partido acabou com um grupo parlamentar reduzido aos mínimos.

Se tudo correu mal isso aconteceu porque na campanha era essencial “ter causas com que as pessoas se identificassem”, defende Almeida, mas também mostrar um partido unido por dentro. “Internamente, o partido tem de deixar de discutir o que o divide e concentrar-se no que os une. Nos últimos anos houve o erro de discutir correntes ideológicas. Nos nossos melhores resultados, não havia essas tensões. E todo o partido se deixou enredar”. Desta vez, será prioritário deixar discussões internas - que “não trouxeram qualquer vantagem” - à parte e concentrar esforços em fazer um programa “que seja identificável com todas as correntes”.

Resta saber se será João Almeida o responsável por conduzir o partido nessa nova fase, sendo certo de que, “sem contar com isso”, o seu nome está entre os principais pré-candidatos à liderança. Os próximos dias serão de contactos entre os potenciais sucessores de Cristas, para medir vontades e disponibilidades. Para Almeida, uma coisa é, para já, certa: “O partido tem de mudar”.