Tecnologia
Telemóvel com ecrã a dobrar para fora: um expoente da tecnologia (e um grande azar)
© Expresso Impresa Publishing S.A.
Tecnologia
Telemóvel com ecrã a dobrar para fora: um expoente da tecnologia (e um grande azar)
O primeiro telemóvel dobrável da Huawei foi objeto do primeiro teste a sério feito por cá. Lourenço Medeiros, que o testou durante durante quase duas semanas, afirma que dificilmente um aparelho tão avançado poderia ser apanhado numa tão grande maré de azar
Texto Lourenço Medeiros
Veja-se então um aparelho que é um dos expoentes máximos do que a tecnologia permite levar ao consumidor, uma mostra do poderio do gigante do oriente e cai-lhe em cima todo o azar que podia, por culpa própria e alheia. Do vírus já nem preciso de falar, qualquer produto que sai agora, já teve azar, por isso vamos ao resto.
Até faz impressão olhar para o ecrã do Huawei Mate Xs: então os engenheiros colocam o ecrã de um dobrável da parte de fora? Claro que todos achamos que ele tem mesmo de andar dentro de uma bolsa - imagina-se bolsinhas douradas de marca a condizer com os €2500 que este pequeno monstro tecnológico custa. Mas não é bem assim: ao fim de vários dias em bolsos de casacos e calças, em convívio com carteiras e até chaves, com um mínimo de cuidados o ecrã não se queixa mesmo nada. Está feito para isso, para bolsos, para ser pousado na mesa também.
Toda esta resistência também é conseguida graças a um aspeto plástico que lhe dá um ar “baratucho”, é o termo. Ou seja é bom que seja resistente mas quem gastar dinheiro quer coisas que pareçam custar o que valem. O design é muito bem conseguido, talvez até mais bem conseguido que o do primeiro dobrável a ser vendido cá, o Samsung Fold. Consegue usar toda a superfície de um lado ficando com um enorme ecrã de 8 polegadas totalmente desobstruído, sem furos nem câmaras e sem perder nenhuma funcionalidade, ainda fica com uma espécie de pega lateral muito cómoda onde está boa parte da maquinaria e as lentes de fotografia.
Ao conseguir isto tudo poderia ganhar ao Samsung, que tem uma série de detalhes feios, como um enorme entalhe no ecrã maior e seis câmaras para conseguir fazer o mesmo que as três do Huawei, mas o facto é que o Samsung tem um aspeto mais premium. Todos querem saber se se nota a dobra e estando ligado ela desaparece, neste caso é pior o aspeto quase mal acabado das bordas dos ecrãs.
Neste campeonato parecer caro é fundamental, é óbvio para quem observa este mercado que enquanto os principais fabricantes competem, mesmo nos topos de gama, para conseguir vender relativamente barato, há de facto uma exceção: todos querem ter um modelo muitíssimo caro. Isto acontece pelo menos desde que a Apple insultou toda a gente ao anunciar preços acima de 1000 euros (nem sequer eram os primeiros). Agora é uma questão de prestígio ter o mais caro e conseguir vender alguma coisa.
Outra genialidade do design chinês: este Xs não tem câmara frontal, não faz selfies normais. O ecrã, na prática, envolve quase totalmente o aparelho fechado. Quando queremos fazer uma selfie viramos o telemóvel — e temos a câmara principal e as costas do ecrã, com imagem, voltadas para nós. O efeito é o mesmo das selfies normais, mas com o máximo de qualidade da câmara principal. Se quisermos podemos fazer retratos usando os dois lados e mostrando ao vivo aos retratados o que estamos a fazer É um pouco complicado de explicar mas funciona. É como se tivéssemos um ecrã de cada lado do telemóvel, só que é o mesmo ecrã, dobrado.
Vários problemas
Este é também o segundo telefone da marca a ser seriamente afetado pelas restrições da administração Trump. A situação vai de facto evoluindo e é notório o esforço da Huawei para resolver o problema. Tem a base do sistema Android mas não pode ter a loja das aplicações da Google nem muitas das funcionalidades a que estamos habituados, com mais ou menos esforço, ou com recurso à loja de aplicações da própria Huawei muito se resolve.
Alguns exemplos para perceber o tipo de problemas que pode enfrentar: o Google Maps funciona como se o usasse na web, a loja da Huawei tem algumas das Apps do Office mas quando quiser usar o Outlook a única hipótese é ir buscar a uma loja alternativa que não dá qualquer garantia de segurança, um gestor de passwords que há poucas semanas não funcionava, o Lastpass passou de um dia para o outro a funcionar, estas coisas mudam todos os dias. Convenhamos que é preciso ser um pouco geek e gostar mesmo da marca, não que não mereça, para se dar ao trabalho de contornar todos os obstáculos, mas nem todos têm essa disposição.
E afinal para que serve a dobra, aquele ecrã todo que abre para fora?
Para espantar quem o vê, sem dúvida. Depois, ao fim de um tempo, quase me esquecia que ele lá estava. O Xs em si até é um excelente aparelho quando fechado, um pouco pesado quando o usamos, como qualquer outro topo de gama. De vez em quando, mais para mostrar que para outra coisa, lá nos lembramos de tocar no botão que solta a engrenagem e abre o ecrã dobrável, ficamos com um quadrado de dimensão razoável como se fosse um pequeno tablet. Um quadrado não é um bom formato para ecrã. Não serve bem nem para jornais ou livros nem para filmes, é verdade que fica lindo com o Instagram e uma ou outra aplicação mas são a exceção que confirma a regra, na maior parte dos casos boa parte do ecrã parece ser desperdiçada por não ser a proporção adequada.
Pode ser prático para multitasking muito bem suportada pelo processador Kirin 990 mas não pelo meu cérebro, trabalhar como se tivesse dois ecrãs normais de telemóvel lado a lado não é o meu ideal. Vale a pena referir, com um ecrã assim seria natural recear pela duração da bateria, os 4500 mAh chegam perfeitamente para um uso intensivo e pode contar com carregamento ultra rápido.
O primeiro telemóvel dobrável da Huawei foi objeto do primeiro teste a sério feito por cá. Lourenço Medeiros, que o testou durante durante quase duas semanas, afirma que dificilmente um aparelho tão avançado poderia ser apanhado numa tão grande maré de azar