Sem comunidades, resta o “populismo”
O ser humano procura identidade e respeito dentro de grupos, um sentimento de pertença. Idealmente, essa pertença é feita na trindade de Tocqueville: igrejas e escolas, clubes e associações, empresas locais. É neste nível local que se criam os laços de vizinhança que educam para a amizade cívica entre “estranhos” – a base da república. Sem bairro, não há esta liberdade republicana; ou então é uma liberdade tão abstrata e tão individualista que se torna uma mera ideia, não uma prática.
O que acontece quando estes bairros e comunidades desaparecem? O ser humano procura a identidade e o sentimento de pertença em algo mais afastado e abstrato, o Estado, a nação, a classe, a revolução. É este o nosso problema aqui e agora. Um pouco por todo o lado, há uma dramática erosão das comunidades. De Putnam a Vance, há dezenas de estudos sobre o porquê: o fim da cultura de fábrica, as cidades varridas pelo redemoinho eterno do turismo, os emigrantes que seguem em modo “live” o dia a dia dos seus países de origem em vez de se integrarem no dia a dia onde vivem, o colapso da família, o egoísmo extremo das redes sociais e tv por cabo que transformam as pessoas em ilhas isoladas. Este colapso comunitário está a destruir o Ocidente.
Se o indivíduo não encontra o seu eco no seu bairro, na sua cidade, na sua região, então ele vai procurar esse eco num “ismo” qualquer vendido por um ideólogo que lhe garante uma identidade perfeita e total. Chamem-lhe comunismo, fascismo, populismo ou qualquer outro “ismo”. O que é certo é que essa pulsão totalitária torna-se irresistível democraticamente quando desaparece a rede comunitária (família alargada, igrejas, clubes, associações, empresas locais); o indivíduo fica sozinho ante o altar de ideias vagas e distantes (nação, classe, revolução), que acabará por idolatrar.