POLÍTICA
CDS quer PGR a investigar terrenos da antiga Feira Popular
Os vereadores do CDS na Câmara de Lisboa solicitam à PGR que determine uma sindicância à Operação Integrada de Entrecampos, o projeto urbanístico para os terrenos da antiga Feira Popular. Para Assunção Cristas e os outros eleitos centristas, o volume de construção previsto para o local “contraria artificiosamente a lei”
Texto PAULO PAIXÃO
A vereação do CDS na Câmara de Lisboa vai entregar nesta quarta-feira na Procuradoria-Geral da República (PGR) um “pedido de sindicância” à Operação Integrada de Entrecampos, projeto urbanístico centrado no espaço da antiga Feira Popular e que envolve terrenos e lotes nas imediações, abarcando um total de 25 hectares.
No entender dos centristas, que tornaram pública a sua iniciativa em nota enviada à comunicação social, “a edificabilidade prevista [no projeto camarário] contraria artificiosamente a lei”.
Os vereadores do CDS dizem recorrer à PGR como última “alternativa no sentido aferir da legalidade do referido projeto”. E fazem-no para evitar o que consideram as “consequências nefastas que o eventual incumprimento da Lei, do Plano Diretor Municipal e dos regulamentos municipais poderá trazer”. Os centristas falam de uma “engenharia criativa” por parte da autarquia.
O CDS-PP afirma que “o índice de edificabilidade só pode ser aplicado às parcelas a lotear e não – como pretende o executivo socialista da Câmara de Lisboa – ao domínio público circundante”. Com efeito, mercê do recurso ao conceito de 'operação integrada', a autarquia na prática ‘anexa’ cerca de três hectares de terrenos de vias públicas circundantes para efeitos do cálculo de edificabilidade.
Além do mais, para a vereação centrista - Assunção Cristas, João Gonçalves Pereira, Conceição Zagalo e Miguel Moreira da Silva -, o conceito de ‘operação integrada’ “não se encontra previsto no Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial (RJIGT) nem em qualquer outro diploma legal”.
O estacionamento é outro ponto a suscitar dúvidas ao CDS, pelo “facto de, para a construção de um parque, serem eliminados cerca de duas centenas de lugares já existentes à superfície e abatidos jacarandás no alinhamento da Avenida 5 de Outubro”.
Para os centristas, o projeto de Fernando Medina para Entrecampos obedece a uma “ânsia desesperada para gerar receita, promovendo a densificação brutal do local e indo contra a promoção da qualidade de vida” dos lisboetas e dos que trabalham ou visitam a cidade.
UMA PEQUENA CIDADE NA FORJA
O projeto da Câmara de Lisboa para a zona de Entrecampos engloba quase um milhar de fogos (a construir de raiz ou a reabilitar), 700 dos quais a autarquia diz que serão de renda acessível. No entanto, apenas 279 habitações ficarão no perímetro da antiga Feira Popular, e serão todas a preço de mercado. Nascerão também no local diversos equipamentos sociais. Um centro de escritórios e zonas comerciais são outras componentes do projeto.
O investimento total (privado e público) ascenderá a 800 milhões de euros, dos quais a Câmara assumirá 100 milhões, segundo as primeiras previsões, feitas em maio.
Para financiar a parte que lhe cabe na operação (e fazer face ao eventual pagamento à Bragaparques de uma indemnização por um diferendo que se arrasta nos tribunais), a autarquia irá alienar em hasta pública os terrenos da antiga Feira Popular, com uma licitação base de 160,5 milhões de euros. Somando outro terreno próximo, que também irá a leilão, o município conta arrecadar, no mínimo, um total de 188,4 milhões de euros.