POR NICOLAU SANTOS
O melhor empresário português de sempre
Belmiro de Azevedo com os jornalistas do Expresso Nicolau Santos e Christiana Martins, durante uma entrevista no verão de 2004 Foto Rui Duarte Silva
Sete razões pelas quais Belmiro de Azevedo foi o melhor empresário de sempre em Portugal. Uma delas é que era um engenheiro que estudava muito o mundo em mudança e fazia estudar todos os que trabalhavam com ele
Texto Nicolau Santos
Belmiro de Azevedo, que faleceu esta quarta-feira, foi sem dúvida o empresário mais marcante dos últimos 40 anos em Portugal – mas é provavelmente o melhor empresário português de sempre.
Em primeiro lugar, porque construiu o seu império a pulso e a partir do zero. Não o herdou nem recuperou algo que tivesse sido nacionalizado. Em segundo, porque não era um self-made man, mas um engenheiro que estudava muito o mundo em mudança e fazia estudar todos os que trabalhavam com ele (era de uma enorme exigência), desafiando-os com regularidade para exercícios de previsão sobre o futuro, que permitissem ao Grupo Sonae posicionar-se da melhor maneira para enfrentar esses desafios. Tinha a clara consciência que sem conhecimento é mais difícil ser competitivo.
Em terceiro porque, por causa disso, criou uma geração de gestores de excelência, que se espalharam por dezenas de empresas, obtendo excelentes resultados na maior parte dos casos e mudando o perfil do tecido produtivo português. Em quarto, porque Belmiro era um gestor ousado, inovador, arrogante, que desafiava os poderes instalados porque não lhes devia nada. Como ele dizia, não abria portas, deitava-as abaixo. Foi assim que tentou comprar o Banco Português do Atlântico e o Banco Totta & Açores, foi assim que tentou comprar a PT em 2006 e a Portucel - e foi assim que falhou todos esses objetivos, embora em quase todos tenha conseguido mais-valias significativas.
Foto Lucília Monteiro
Em quinto, porque Belmiro era um visionário: percebeu que tinha de apostar nas telecomunicações e fundou a Optimus, em setembro de 1988; mas já antes disso, em 1985, lançou o primeiro hipermercado, o Continente de Matosinhos, iniciando a revolução do sector de distribuição em Portugal; e um ano antes lança a Sonae UK, no Reino Unido, iniciando o processo de internacionalização do grupo, porque antecipou em várias dezenas de anos a globalização que o mundo iria conhecer.
A consolidação do Grupo Sonae e o que faz dele uma estrela é, contudo, o lançamento simultâneo, em 1987, de sete Operações Pública de Venda (OPV) a empresas do Grupo, aproveitando o extraordinário momento do mercado de capitais nacional, o que lhe permitiu um forte encaixe financeiro para avançar para outras áreas de atividade. Em 1989 nasce a Sonae Imobiliária, que é rebatizada em 2005 como Sonae Sierra, antecipando igualmente o “boom” que viria a acontecer no sector. E em 1990 nasce o projeto que muda radicalmente o sector da comunicação social em Portugal: o lançamento do jornal “Público”, produzido por um grupo de jornalistas liderado por Vicente Jorge Silva. O centro comercial Colombo, em Lisboa, é inaugurado em 1997, e também nesse ano adquire a Torralta, para a transformar num grande projeto turístico e imobiliário.
Foto Lucília Monteiro
Em sexto, porque Belmiro foi exemplar também na forma como preparou a transferência de poder dentro do grupo para os seus filhos, em particular para Paulo Azevedo, a partir de 2007, data em que se torna “chairman”. E finalmente porque, apesar de ter alcançado poder, dinheiro e influência a partir de uma infância humilde em Marco de Canavezes, nunca perdeu os seus traços de frugalidade. Detestava a ostentação, o espavento, as festas luxuosas e as revistas sociais. Se Portugal tivesse dez Belmiros seria seguramente um país muito diferente - e para bem melhor.