Opinião
João Vieira Pereirajvpereira@expresso.impresa.pt
Os três erros da CPI do BES (ou porque servem de pouco as comissões de inquérito)
1. O papel de treinador de bancada é sempre o mais confortável. E esse papel foi assumido na perfeição pelos deputados que se sentaram na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à falência do Grupo Espírito Santo. Qualquer análise feita em 2015 sem a consciência do que era o sistema financeiro no tempo de Ricardo Salgado só pode sair errada. Enquanto os deputados andavam na sua vidinha em 2013 e 2014 havia quem lutasse diariamente para descobrir o que se passava no Grupo Espírito Santo. E acreditem que essa luta era tudo menos fácil. Ricardo Salgado rimava com poder. Em todos os sectores. Principalmente no político. A CPI esquece tudo isso.
2. A falência do Grupo Espírito Santo explicada a miúdos: havia um senhor, Ricardo Salgado, que mandava numa família muito rica que tinha várias empresas e um banco. Essas empresas suportavam financeiramente a família desse senhor que era muito grande. Quando os negócios começaram a correr mal, esse senhor e a sua família usaram o banco para tapar o buraco dos negócios e fingir que tudo estava bem. E para o conseguirem fazer enganaram toda a gente e fizeram muitas pessoas perder dinheiro. É tão simples como isto, mas a comissão parlamentar de inquérito ainda tem dúvidas sobre esta parte.
3. Já o disse, e digo-o outra vez: a CPI esquece que, além do Banco de Portugal, da CMVM e do ISP, o primeiro garante de que tudo vai bem nos bancos e nas empresas cotadas são as empresas de auditoria. Essas passam entre os pingos da chuva. E saem até bem vistas nesta triste história.
ESTÁ QUASE A FAZER UM ANO SOBRE O MAIOR ESTOURO FINANCEIRO EM PORTUGAL. MESMO ASSIM NÃO HÁ UM ÚNICO CULPADO, UMA MULTA APLICADA, UM ARGUIDO DE PESO QUE SEJA
A CPI também teve méritos. Serviu para esclarecer algumas coisas e para pôr a descoberto as fragilidades do nosso sistema de supervisão. Mas devia servir para mais do que, depois de horas, dias, semanas e meses, ter um relatório que de pouco servirá. Está quase a fazer um ano sobre o maior estouro financeiro em Portugal. Uma situação que poderia ter arrastado todo o nosso sistema bancário. Mesmo assim não há um único culpado, uma multa aplicada, um arguido de peso que seja. Volto a repetir uma frase que escrevi há semanas: há burla, há burlados, mas não há burlões.
ALTOS
Pedro Saraiva
Deputado do PSD
As conclusões da comissão parlamentar de inquérito ao BES, coordenadas por este deputado, mereceram aprovação ampla. O PS juntou-se às forças da coligação da maioria. Só o PCP votou contra (o BE absteve-se). Um caso em que não houve unanimidade mas em que se registou um acordo mais largo que o normal no Parlamento. E o mérito também é do relator.
BAIXOS
Paula Teixeira da Cruz
Ministra da Justiça
A responsável pela pasta da Justiça insiste na polémica lei da lista de pedófilos. Isto apesar dos pareceres e opiniões contra se multiplicarem. A dificuldade do caso está bem espelhada no facto de os partidos da maioria imporem disciplina de voto na matéria. O que manifestamente não se compreende. Veremos se passa no Constitucional.
Paulo Núncio
Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais
Mais um caso em que o secretário de Estado aparece envolvido, e não pelas melhores razões. Aparentemente, a justiça suspeita do tratamento fiscal dado no caso de uma transação entre uma empresa portuguesa e o ministério da saúde líbio.
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Martim Silva