Opinião
Pedro Santos Guerreiropsg@expresso.impresa.pt
Os pilotos não têm os pés assentes na terra, têm a cabeça no ar
Os pilotos da TAP conseguiram a proeza de juntar quase toda a gente, na política, na opinião publicada e mesmo na própria empresa: muita gente manifesta-se contra a greve. Porque os pilotos não têm razão. E porque a greve tem um efeito devastador sobre a empresa. É evidente que uma greve que não provoque dano à empresa é uma greve ineficaz. Mas desta vez, o direito à greve é oportunístico e está a ser usado de forma desproporcionada.
A oportunidade é criada pela privatização: estamos a poucas semanas da apresentação das propostas de aquisição, há empresas estrangeiras a analisar e é evidente que qualquer interessado tem de estar neste momento a reequacionar se avança ou não.
Muito mais gente em Portugal será contra a privatização do que a favor dela. O sindicato dos pilotos é contra. Está no seu direito. Mas esta greve tem o propósito claro de dinamitar o momento negocial.
Das pessoas que estão contra a privatização, muitas talvez suponham que a TAP é uma das melhores transportadoras aéreas do mundo e que, aconteça o que acontecer, o seu futuro está assegurado, pois o Estado não deixará que mal maior suceda. É falso. A TAP não é a melhor transportadora do mundo porque não investe há anos, tem uma frota antiquada, tem atrasos frequentes e vive com a corda na garganta. A descapitalização da empresa está a matá-la devagar. A greve dos pilotos acelera o processo. E isso é independente da privatização. E sim, é provavelmente verdade que o Estado não deixará a TAP fechar, pela importância extraordinária que a companhia tem para o país. Mas manter a empresa aberta não é o mesmo que garantir a sua prosperidade e crescimento. Mesmo que Bruxelas autorize uma ajuda de Estado, que com o tempo pode tornar-se inevitável, imediatamente obriga a TAP a fechar rotas e a vender aviões, por questões de concorrência.
Ninguém quer isso. Nem, é claro, o querem os pilotos. Mas é para isso que estão a contribuir. Não têm os pés assentes na terra. Mas têm a cabeça no ar.