Cultura

As histórias que Israel nos conta

Quem segue a indústria televisiva de Israel não tem dúvidas: entre os oito milhões de habitantes estão algumas das mentes mais criativas do sector e é do Médio Oriente que vêm algumas das produções mais originais (e que maior sucesso têm também no exterior). De reality-shows como “HaKokhav HaBa” — que em Portugal foi adaptado pela TVI com o título “Rising Star” — à série “Be Tipul”, que por cá se estreou numa versão adaptada com o título “Terapia” (RTP1), não faltam exemplos de produções que celebram a criatividade israelita ou que se servem desta para novos formatos. E depois há o fenómeno “Segurança Nacional”, que provavelmente não exisitiria sem Israel

Texto João Miguel Salvador Ilustração Ana Simões

“Prisoner of War” (ou “Hatufim,” no seu título original em hebreu) pode parecer um título desconhecido, no entanto foi esta a série que deu origem a um dos maiores sucessos do canal norte-americano Showtime. “Homeland”, transmitido em Portugal com o título “Segurança Nacional” (FOX), pode parecer a mais americana das histórias, mas na realidade é baseada num drama televisivo israelita. Talvez fosse esta a prova que faltava aos grandes estúdios para olharem com atenção para o território israelita, numa altura em que o mercado televisivo continua a crescer em número de produções e em qualidade.

A verdade é que a televisão israelita continua a marcar pontos na atualidade e “On the Spectrum” é uma das produções recentes que está a marcar pontos a nível internacional, mesmo antes de se estrear no país. A série, falada em hebreu, é centrada em dois colegas de quarto de 20 anos com autismo — e que vivem num apartamento inserido numa residência assistida — e venceu o grande prémio do festival francês Series Mania, em Lille. É produzida pelo canal YES e a sua distribuição fora do mercado israelita ainda não é conhecida.

Apesar da importância da distinção, “On the Spectrum” não é o primeiro prémio recebido pela estação de televisão no evento criado para profissionais e é já a segunda vez consecutiva que o YES — que tem também uma plataforma de televisão paga — leva o troféu para casa. No ano passado, foi a vez de “Your Honor”, de Shlomo Mashiach e Ron Ninio, se sagrar vencedora. A série, que acompanha as tentativas desesperadas de um magistrado para proteger o seu filho de um grupo de mafiosos, é uma das que também terá direito a uma adaptação norte-americana. Peter Moffat (de “The Night Of”, TVSéries) é o responsável pelo argumento.

Numa altura em que as séries de ficção israelita ganham cada vez mais força no exterior — depois de uma altura em que eram os reality-shows os formatos mais conhecidos —, “When Heros Fly” é outra das novidades em destaque este ano. A história da reunião de um grupo de quatro veteranos das operações especiais (que estiveram ao serviço durante a Guerra do Líbano em 2006) para uma última missão de resgate conta com assinatura de Omri Givron, cocriador de “Hostages”, e foi desenvolvida a partir do livro de Amir Gutfreund. No mesmo festival, a série “Miguel” — que conta a história de um casal gay israelita e da sua tentativa para adotar uma criança — ganhou o Special Performance Prize.

PARA VER SEM PARAR

Quem está rendido aos encantos do streaming já se terá cruzado com “Fauda”, mas este caos (é isso que o título significa em árabe) é daqueles em que vale a pena entrar. A série é uma das produções israelitas que mais sucesso tem no Netflix e promete colar ao ecrã os espectadores que clicarem em “ver agora”. A história, que é em parte baseada na experiência do criador e ator Lior Raz na Unidade Duvdevan, segue um grupo de operações especiais que volta a juntar-se para capturar um terrorista e terá novos capítulos este mês. A Netflix estreia a segunda temporada de “Fauda” no dia 24 à escala global (excluindo França, Israel e a América Latina) e os novos capítulos prometem emoções fortes.

Não é a única aposta do serviço de streaming na produção israelita —haverá também produções originais gravadas no Médio Oriente nos próximos anos — e “Reféns” (que conta com duas temporadas) é outra das surpresas no catálogo da plataforma. “Bnei Aruba” no original em hebreu, esta é a história de uma cirurgiã cuja lealdade é posta à prova. A sua família é raptada quando se prepara para operar o primeiro-ministro e os sequestradores ameaçam matá-la se a médica não puser termo à vida do político. A trama, que na sua versão original é protagonizada por Ayelet Zurer, já teve uma adaptação norte-americana mas os resultados não foram os esperados. A série “Hostages” da CBS (que tinha Toni Colette, Dylan McDermott e Tate Donovan nos principais papéis) foi cancelada logo na primeira temporada e provou que não basta pegar num sucesso para criar outro.

Ainda sem distribuição em Portugal estão o drama militar “Mossad 101” (“Ha’Midrasha”, no original), a comédia ao estilo “Friends” intitulada “Srugim” ou “Mekimi”, mas o interesse crescente leva a crer que será cada vez maior o número de produções israelitas cujos direitos serão comprados para outros países. Seja em streaming ou na televisão linear, Israel revela-se cada vez mais no pequeno ecrã, quebrando mitos e tabus acerca do país do Médio Oriente.