TERRORISMO
São 5 os jiadistas portugueses com mandado de captura
Todos os guerrilheiros procurados pela Justiça portuguesa saíram de Lisboa em direção à Síria.
TEXTO HUGO FRANCO e RAQUEL MOLEIRO
Celso e Edgar Rodrigues da Costa, Fábio Poças, Nero Saraiva e um outro jiadista português já têm mandados de captura em seu nome, emitidos pelo Ministério Público, na sequência dos inquéritos, que decorrem no Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), por factos relacionados com o Estado Islâmico.
Uma fonte ligada à investigação garante que os mandados foram emitidos “apenas aos cidadãos com nacionalidade portuguesa”, ou seja, aos jiadistas que saíram de Portugal para se alistarem no autoproclamado Estado Islâmico (Daesh).
De fora desta lista estão os guerrilheiros que são filhos de emigrantes portugueses e que viviam em França, na Holanda e no Luxemburgo. “Os cidadãos com dupla nacionalidade não se encontram neste ‘pacote’. Mas podem ter mandados emitidos pelas autoridades desses países”, acrescenta a mesma fonte.
Os cinco portugueses procurados pelas autoridades portuguesas pertencem à célula de Leyton, bairro da zona Este de Londres. Todos eles cresceram entre Mem Martins e Massamá, arredores de Lisboa, e acabaram por emigrar para Londres. Em Leyton, converteram-se ao Islão e radicalizaram-se em poucos meses, por influência de membros da comunidade muçulmana local.
De recrutados passaram rapidamente a recrutadores, tendo aliciado perto de uma dezena de jiadistas britânicos que rumaram entre 2012 e 2014 para a Síria, através de uma rota que passava por Portugal. Também estes cinco portugueses voaram entre Lisboa e Istambul antes de se juntarem ao exército radical, conseguindo fugir aos radares das autoridades do Reino Unido.
IMPERADOR Nero Saraiva tem subido na hierarquia do autoproclamado Estado Islâmico e ocupa hoje um lugar de destaque no grupo terrorista FOTO D.R.
Nero Saraiva e Edgar Rodrigues da Costa foram subindo na hierarquia do Daesh e hoje ocupam um lugar de destaque no interior desta organização terrorista. Fábio Poças era até há pouco tempo um dos que mais propaganda fazia nas redes sociais, partilhando dezenas de fotografias de guerra no Facebook e no Twitter. Em outubro do ano passado o sexto elemento da célula de Leyton, Sandro Monteiro, morreu em Kobane, vítima da aviação da coligação liderada pelos Estados Unidos.
Contactado pelo Expresso, o gabinete da Procuradoria-Geral da República disse que “os processos relacionados com esta matéria encontram-se em segredo de justiça”, pelo que, “de momento”, nada tem a acrescentar.
Segundo a edição de 3 de abril do jornal “Público”, estes mandados de captura são justificados pela existência de indícios da prática de crimes de terrorismo e de apologia de ação terrorista, tendo como fundamento os relatos e fotos de alguns jiadistas publicados nas redes sociais, bem como os testemunhos de quem com eles privou na Síria e elementos recolhidos pela investigação.
PROPAGANDA Fábio Poças era até há pouco tempo um dos jiadistas que mais fotografias colocava do cenário de guerra na Síria FOTO D.R.
Os outros quatro países
Paralelamente, as autoridades de França, Reino Unido, Holanda e Luxemburgo terão também emitido mandados de captura para outros radicais portugueses, lusodescendentes com dupla nacionalidade.
É o caso de Mickäel dos Santos, 24 anos, que chegou a ser apontado pelas secretas francesas como sendo um dos ocidentais que decapitaram 21 soldados sírios e o norteamericano Peter Kassig em novembro de 2014. Tem um mandado de captura internacional por integrar a célula de Champigny-sur-Marne, suspeita de recrutar jovens para a Jihad e preparar atentados em solo francês. Do mesmo grupo fazia parte Mikael Batista, 24 anos, também portador de passaporte português. E que foi já dado como morto em combate pelo Daesh, em janeiro deste ano.
Também em França, as autoridades estão atentas a outros lusodescendentes: são eles o jovem Omar Dylan e a sua mãe Catarina Almeida, que se encontram neste momento entre a Síria e o Iraque em parte incerta.
Na Holanda investiga-se Ângela Barreto, a portuguesa de 20 anos que em agosto de 2014 fugiu de casa da mãe, nos arredores de Utrecht, para se casar na Síria com Fábio Poças, de quem está grávida. Os serviços de segurança suspeitam que terá ajudado em fevereiro deste ano três adolescentes holandesas, entre os 15 e os 16 anos, a juntarem-se ao Estado Islâmico.
No Luxemburgo, um dos alvos das secretas locais é o jovem rapper Steve Duarte, com família na Figueira da Foz, e que se alistou no Estado Islâmico em 2014.
Neste artigo, o Expresso publicou erradamente uma fotografia (já retirada), atribuída a um jiadista português que está na Síria. Trata-se de um outro jovem que nada tem a ver com este tema. O Expresso vem por este meio pedir desculpas a Zola de Sá pela publicação da referida fotografia.