Mundo

Um musical “antiquado” com músicas “prontas para o karaoke” e capazes de ganhar o Festival da Eurovisão?

O que está no título deste artigo são algumas das coisas que se têm dito e escrito sobre 'The Greatest Showman', o novo musical de Hugh Jackman. Mas o filme e a canção nele que se destaca, 'This is Me', acumulam sucessos e cumprem a fórmula feel-good que serviu para os construir, levando multidões às salas de cinema e às aplicações de música, para descarregar uma das canções mais orelhudas do ano. Este é o quarto dos cinco textos que publicamos esta semana sobre os filmes nomeados pela Academia pela melhor canção original

Texto Mariana Lima Cunha

Se analisarmos os filmes que estão este ano nomeados pela Academia para o Óscar de melhor canção original, veremos que os candidatos parecem ter um tema comum que os une: a diversidade e a inclusão. É o caso de ‘Mudbound’ e ‘Marshall’, ambos sobre racismo e os preconceitos que nos separam; ‘Remember Me’, a história de uma família mexicana que, nos Estados Unidos, se torna assim o primeiro filme com um protagonista de uma minoria; ou de ‘Call me by your name’, centrado na história de amor de um casal homossexual.

Finalmente, há ‘The Greatest Showman’, que não é sobre uma história de alguém diferente, mas sobre as histórias de muitas pessoas diferentes (afinal, o que é que diferente quer dizer?) que se juntam para tentar encontrar uma casa comum, um lugar onde não tenham vergonhas e embaraços. Falamos de uma ‘mulher barbuda’, de um anão, de uma albina ou do suposto homem mais pesado do homem. Todos saem dos sítios onde têm estado escondidos sob a orientação de P. T. Barnum (interpretado por Hugh Jackman), que na realidade foi o inventor do conceito de circo.

P.T. Barnum é um verdadeiro empreendedor: começa por baixo, ninguém deposita nele expectativas, consegue o que quer com empréstimos e promessas (muitas vezes fraudulentas) e vai chegando ao topo, mesmo que seja sempre, até ao fim, olhado de lado por quem o rodeia e que não tenha créditos junto da alta sociedade, que despreza a ideia do seu espetáculo de ‘aberrações’. E, na realidade, ‘The Greatest Showman’ faz os possíveis para apagar as piores partes da vida e personalidade de P.T. Barnum – que ao que parece era um homem racista que explorava os seus artistas, uma faceta menos aprofundada em ‘The Greatest Showman’ – porque quer ser um filme que nos faz sentir-nos bem connosco e com o mundo.



‘This is Me’, canção que está nomeada para o Óscar, cumpre a mesma função: tudo nela vai em crescendo e é épico; começa com a voz solitária da atriz Keala Seetle (que faz de mulher barbuda no filme) e cedo se junta a ela um coro empenhado; as palmas, o compasso de marcha, os agudos, tudo se compõe para fazer de ‘This is Me’ empolgante, doce, fácil de ouvir. Os versos seguem a mesma linha: ‘Cuidado, porque aí vou eu/ E marcho ao meu ritmo/ Não tenho medo de ser visto, não peço desculpas/ Isto sou eu’.

O ‘Entertainment Weekly’ chamou a ‘The Greatest Showman’ um filme com ‘música pronta para karaoke’, e talvez seja isso que encanta tantos espectadores e que está a fazer dele um sucesso inesperado de bilheteira. Inesperado porque começou com maus resultados de vendas na semana em que chegou aos cinemas norte-americanos, mas de repente tudo são boas notícias: as vendas dispararam, a canção chegou ao primeiro lugar do top da Billboard, os Jogos Olímpicos quiseram usá-la para os seus spots publicitários. A realidade de ‘The Greatest Showman’ parece agora uma daquelas sequências rápidas que aparecem nos filmes de domingo à tarde, com uma música animadora e várias cenas que mostram como tudo corre bem às personagens. Na verdade, uma sequência que poderia fazer parte do próprio ‘The Greatest Showman’.

‘This is Me’ pode estar a ser apresentado como um hino à inclusão, tema apropriado para os tempos que vivemos (os compositores Beni Pasek e Justin Paul, que no ano passado ganharam o mesmo óscar por ‘City of Stars’, de La La Land, dizem que a ideia era fazer ‘um hino para pessoas que viveram toda a sua vida na sombra e que andam até à luz, declarando que querem ser vistos e amando-se assim’). Mas a ideia deixa algumas dúvidas: será a inclusão daquelas pessoas no espetáculo de P.T. Barnum uma maneira de as integrar e mostrar que não são diferentes e assustadoras, ou apenas uma forma de aproveitar as suas características para ser uma espécie de homem de negócios de sucesso e enriquecer?

O sucesso ‘milagroso’ de ‘The Greatest Showman’, como o ‘The Guardian’ lhe chama (o mesmo jornal que argumenta que canções do filme como ‘Never Enough’, ‘Reunite the Stars’ ou a própria ‘This is Me’ estariam aptas a ganhar um Festival da Eurovisão, não propriamente em tom elogioso) baseia-se muito na capacidade do filme de animar o público, mesmo sabendo que é em vários momentos kitsch e cheio de clichés. Numa das conversas entre P.T Barnum e o crítico de espetáculos James Bennet, que é muito crítico daqueles espetáculos, este acaba por conceder: ‘Gente de todas as cores, tamanhos e formas, como se fossem iguais… outro crítico ter-lhe-ia chamado uma celebração da humanidade’.

A sequência inicial, de praticamente dez minutos, volta a mostrar Hugh Jackman em registo ‘Les MIsérables’, a cantar mais do que a dialogar enquanto apresenta a personagem. No fim, ficamos com a sensação de que nem os momentos ‘feel-good’ do filme e o tom motivacional de ‘This is Me’ compensam as falhas do filme, um musical que tem sido descrito como ‘antiquado’. Mas a receita parece estar a dar frutos.

Estados Unidos

Trump pede aos republicanos que não tenham “medo” da maior organização pró-armas do país

Donald Trump pede aos deputados republicanos que não se deixem intimidar pelo lóbi das armas Foto Kevin Lamarque / Reuters

Donald Trump pede aos deputados republicanos que não se deixem intimidar pelo lóbi das armas Foto Kevin Lamarque / Reuters

Depois de ter recebido mais de 30 milhões de dólares em doações da National Rifle Association (NRA) desde que anunciou a sua candidatura à Casa Branca, o Presidente norte-americano disse a um grupo de legisladores que não devem estar “petrificados” pela organização e que devem encetar uma reforma do sector para prevenir massacres como o que, há duas semanas, provocou 17 mortos num liceu da Florida

Texto Joana Azevedo Viana

Numa reviravolta quanto ao controlo de armas de fogo nos Estados Unidos, e distanciando-se dos colegas republicanos, o Presidente norte-americano disse na quarta-feira a um grupo de legisladores do partido que não devem ter medo da poderosa organização de lóbi National Rifle Association (NRA), pedindo-lhes que criem um projeto-lei abrangente para reformar o setor.

O encontro deu-se duas semanas depois de um massacre num liceu da Florida ter provocado 17 mortos, 14 deles alunos, quando um ex-colega destes, de 19 anos, entrou na escola Marjory Stoneman Douglas com uma metralhadora semiautomática e abriu fogo contra todos os que encontrou pelo caminho antes de se pôr em fuga; acabaria por ser capturado pelas autoridades pouco depois.

Depois de ter sugerido que a solução para o problema era armar os professores, Donald Trump sugeriu ontem aos membros do Congresso “petrificados” pela NRA que devem reforçar os mecanismos de avaliação de potenciais compradores e aumentar a idade mínima legal para a aquisição de armas de fogo dos 18 para os 21. A mudança de postura surpreendeu muitos dos presentes, com o “New York Times” a escrever que o Presidente “chocou” os legisladores republicanos e a CNN a referir que estes ficaram “um pouco transtornados” com as declarações de Trump.

O Partido Republicano no seu todo é um grande defensor dos direitos de cada norte-americano a comprar e a possuir armas de fogo, um direito contemplado na 2.ª emenda da Constituição, e vários dos seus membros contam com grandes doações da NRA para as suas campanhas políticas. Desde que anunciou a sua candidatura à presidência, há dois anos, o próprio Trump contou com mais de 30 milhões de dólares de apoios diretos da organização de lóbi, o que não o impediu, no passado domingo, de garantir que não terá problemas em “lutar” contra a NRA.

Fazendo jus a essa promessa, ontem o Presidente criticou “o grande poder” que a NRA tem sobre os legisladores do seu partido ao pedir-lhes que alterem a legislação em vigor para reduzir o número de massacres nos Estados Unidos. “Eles [NRA] têm um poder enorme sobre vocês [mas] têm menos poder sobre mim. Alguns de vocês estão petrificados pela NRA.” Entre as medidas por ele sugeridas contam-se o reforço das avaliações prévias de compradores, autorizar a polícia a confiscar armas a pessoas que representem perigos sem necessidade de mandados judiciais, aumentar a idade mínima legal para a compra de armas de assalto dos 18 para os 21 e, como já tinha sugerido anteriormente, pôr armas nas mãos dos professores para que abatam atiradores em escolas.

Como refere a BBC, esta não é a primeira vez que a posição de Trump sobre o controlo de armas de fogo muda; nos anos 1990 e início dos 2000, o empresário apoiou publicamente uma proposta para banir a venda a cidadãos de armas de assalto, mas essa opinião mudaria à medida que foi ficando mais próximo da nomeação republicana nas primárias do partido para disputar as presidenciais de 2016 com a democrata Hillary Clinton − a tal ponto que obteve o apoio formal da NRA, a par de milhões de dólares em doações de campanha.

No rescaldo do tiroteio de há duas semanas, Trump já tinha assinado um decreto para proibir a venda de 'bump-stocks', um acessório que serve para transformar armas semiautomáticas em automáticas para permitir centenas de disparos por minuto. O engenho foi usado pelo atirador de Las Vegas que, no ano passado, foi responsável pelo maior massacre com armas de fogo da História moderna dos EUA, matando 58 pessoas durante um festival de música naquela cidade.

O encontro de ontem na Casa Branca envolveu 17 legisladores republicanos e democratas, alguns deles favoráveis a mais controlos de armas, com o Presidente a sugerir-lhes: “Era lindo que conseguíssimos ter um projeto-lei que todos possam apoiar, em vez de 15 projetos-lei, vocês sabem, cada um tem o seu próprio.”

Também criticou especificamente os senadores Pat Toomey (republicano) e Joe Manchin (democrata), que estão a preparar uma proposta de lei para reforçar as avaliações de potenciais compradores, dizendo que estão com demasiado “medo” de fazer frente à NRA. Em reação a isto, o porta-voz de Toomey fez questão de sublinhar em comunicado que o senador “não recebeu um único cêntimo da NRA desde que se juntou ao Senado”.

A reunião deu-se à mesma hora em que duas das mais famosas cadeias de lojas dos EUA, a Walmart e a Dick's Sporting Goods, anunciaram que vão passar a limitar a venda de armas de fogo a pessoas com 21 anos ou mais, quando legalmente podem vendê-las a compradores com pelo menos 18 anos de idade. Em comunicado, a Dick's Sporting Goods anunciou ainda que vai deixar de vender armas de assalto como as AR-15, o tipo de armas que foi usado tanto pelo atirador da Florida como pelo atirador de Las Vegas.

UE-Reino Unido

Divergências quanto ao Tratado do Brexit marcam tom do encontro entre May e Tusk

May e Tusk vão estar frente a frente numa altura de cisões entre os dois lados das negociações da saída do Reino Unido da UE Foto Simon Dawson / Reuters

May e Tusk vão estar frente a frente numa altura de cisões entre os dois lados das negociações da saída do Reino Unido da UE Foto Simon Dawson / Reuters

A primeira-ministra britânica vai encontrar-se esta quinta-feira com o presidente do Conselho Europeu antes de um antecipado discurso em que apresentará a sua visão para as futuras relações do Reino Unido com a União Europeia após a saída

Texto Joana Azevedo Viana

Theresa May vai encontrar-se esta quinta-feira com Donald Tusk, o presidente do Conselho Europeu, um dia antes de um antecipado discurso em que deverá apresentar a sua visão para as relações do Reino Unido com a União Europeia após o Brexit. O encontro da primeira-ministra britânica com Tusk tem lugar numa altura de cisões entre os dois lados das negociações de saída, depois de o bloco ter apresentado o primeiro rascunho legal do Tratado do Brexit.

Esta semana, May referiu que as propostas de Bruxelas quanto ao estatuto da Irlanda do Norte no pós-Brexit ameaçam a “integridade constitucional” do Reino Unido, ao que a UE respondeu que o Reino Unido precisa de apresentar uma alternativa viável à sua proposta de os norte-irlandeses continuarem a integrar o mercado único e a união aduaneira depois de a saída estar concretizada.

May, que antes do encontro com Tusk vai reunir-se com os seus ministros para debater os próximos passos do Brexit, já garantiu que não vai aceitar o Tratado da forma que ele está delineado. A proposta apresentada na quarta-feira por Bruxelas sugere que seja criada uma “área regulatória comum” após o Brexit na ilha da Irlanda, efetivamente mantendo a Irlanda do Norte dentro da união aduaneira, caso nenhuma outra solução seja encontrada.

Tanto a UE como a República da Irlanda – o único Estado-membro com o qual o Reino Unido tem uma fronteira terrestre a ligá-lo ao bloco – têm sublinhado que o governo de May tem de criar alternativas concretas ao que descrevem como uma opção “travão”, em referência à sua postura intransigente sobre a fronteira irlandesa.

Nos últimos meses, o Executivo conservador tem sido acusado de assumir uma postura “delirante e contraditória” quanto a esta questão; se por um lado a primeira-ministra britânica quer mais controlos na fronteira para travar a imigração para o território britânico, por outro quer criar uma porta dos fundos na fronteira com a Irlanda como forma de garantir os seus interesses económicos, exigindo apesar disso que o Reino Unido abandone completamente o mercado único e a união aduaneira.

Ontem, em declarações ao parlamento irlandês, o primeiro-ministro do país, Leo Varadkar, deixou um novo aviso à homóloga britânica, referindo que, “se há pessoas que não gostam do que têm hoje, cabe a elas a criação de soluções alternativas”. May tem insistido que “nenhum primeiro-ministro do Reino Unido” pode aceitar a criação de uma fronteira aduaneira e regulatória no Mar da Irlanda, algo que, garantiu na quarta-feirta, “vai deixar bem claro” às autoridades da UE no encontro desta tarde com Donald Tusk.

Sobre o assunto, o deputado conservador Bill Cash, da barricada eurocética, garantiu na quarta-feira à BBC que existem “formas técnicas” de gerir a fronteira irlandesa e que isso só não está a ser debatido porque a UE quer potenciar uma “crise constitucional” no Reino Unido. Os membros do governo de May que pertencem ao mesmo partido garantem que o discurso da líder amanhã vai “elucidar” o bloco europeu sobre o tipo de relações comerciais que o Reino Unido quer manter com os Estados-membros após a saída estar finalizada, a 29 de março de 2019, incluindo durante o período de transição de dois anos que será implementado nesse dia.

Brasil

Supremo Tribunal acusado de “tornar aceitável” a desflorestação ilegal da Amazónia

A nova lei protege os que abatem ilegalmente árvores na maior floresta tropical do mundo, dizem ambientalistas Foto Nacho Doce / Reuters

A nova lei protege os que abatem ilegalmente árvores na maior floresta tropical do mundo, dizem ambientalistas Foto Nacho Doce / Reuters

Painel de juízes aprovou alterações à lei de proteção da maior floresta do mundo, na prática anulando as penalizações para proprietários que tenham abatido árvores de forma ilegal até julho de 2008 e reduzindo para 290 mil quilómetros quadrados a área da Amazónia que tem de ser obrigatoriamente reflorestada

Texto Joana Azevedo Viana

O Supremo Tribunal Federal brasileiro aprovou na quarta-feira alterações à lei de proteção da floresta amazónica introduzidas em 2012, autorizando que seja criado um sistema de amnistia para proprietários que, no passado, tenham abatido árvores ilegalmente e reduzindo a área máxima desmatada que tem de ser obrigatoriamente reflorestada.

Os ambientalistas acusam o painel de juízes de estarem a “tornar aceitável” o abate ilegal de árvores na maior floresta tropical do mundo, maioritariamente localizada em território brasileiro e onde os cientistas estão ainda hoje a estudar novas espécies de animais e plantas que habitam aquele ecossistema.

Favorável à decisão do Supremo está o poderoso lóbi agrícola do Brasil, com os agricultores a celebrarem o facto de, a partir de agora, passaram a poder cultivar terrenos perto de colinas e de margens dos rios, zonas onde os riscos de erosão são ainda mais elevados quando se abatem árvores. Para a barricada, as novas regras vão permitir que os produtores agrícolas ganhem confiança para contribuir para o crescimento da economia.

Para os ativistas de defesa e proteção do ambiente, a decisão vem pôr ainda mais em risco a maior área de floresta do planeta, numa altura em que as alterações climáticas e o aquecimento global continuam a agravar-se.

Até agora, o Código Florestal que foi adotado no Brasil em 1965 obrigava os proprietários de terrenos a reflorestar uma parte desses terrenos depois do abate de árvores, em áreas que vão dos 20% noutras partes do país até 80% dentro da Amazónia. Agora, essas regras passam a ser menos estritas sob o argumento apresentado pela procuradora-geral Grace Mendonça de que só assim se pode alcançar um equilíbrio entre a proteção ambiental e o desenvolvimento económico.

Com estas alterações, a área que tem de ser obrigatoriamente reflorestada passa a ser de 290 mil quilómetros quadrados, mais ou menos correspondente ao tamanho de Itália numa floresta com mais de 18 vezes esse tamanho. A par disso, todos os proprietários que tenham abatido árvores ilegalmente até julho de 2008 não terão de pagar multas nem enfrentar outras penalizações.

Reagindo à decisão, Nurit Bensusan, da organização não-governamental Instituto Socioambiental, disse à Reuters que, “com esta amnistia”, o Brasil “está a criar um clima que convida à desflorestação no futuro” e a “criar a impressão de que, se hoje alguém abater árvores, amanhã estará abrangido pela amnistia”.

Alemanha

Governo investiga ciberataques “russos” aos seus Ministérios da Defesa e do Interior

Ciberataque às redes do governo federal alemão, nomeadamente aos dados do seu Ministério do Interior (na foto) aconteceu em dezembro Foto Getty Images

Ciberataque às redes do governo federal alemão, nomeadamente aos dados do seu Ministério do Interior (na foto) aconteceu em dezembro Foto Getty Images

Conhecido grupo de hackers russos Fancy Bear, também suspeito de interferência nas eleições presidenciais dos EUA em 2016, está a ser responsabilizado pelas invasões dos sistemas cibernéticos privados do governo federal alemão

Texto Joana Azevedo Viana

A Alemanha está a investigar uma violação dos sistemas cibernéticos privados dos seus Ministérios da Defesa e do Interior, confirmou ontem um porta-voz do governo federal, depois de vários media alemães terem responsabilizado um famoso grupo de hackers russos, o Fancy Bear, ou APT28, pela recente invasão desses sistemas.

As primeiras suspeitas de um ciberataque às redes do governo federal alemão surgiram em dezembro, com a agência de notícias DPA a avançar esta semana que esses ataques poderão ter ocorrido ao longo de um ano até terem sido detetados. Os suspeitos são os mesmos que terão interferido no processo eleitoral norte-americano que, em 2016, culminou com a eleição de Donald Trump como 45.º Presidente dos EUA.

Segundo a DPA, membros do Fancy Bear terão apontado a mira às redes de comunicações internas do governo federal alemão, infetando-as com malware — uma informação parcialmente confirmada esta semana pelo porta-voz do Ministério do Interior em declarações à agência alemã.

“Podemos confirmar que o Gabinete Federal para a Segurança da Informação (BSI) e os serviços secretos estão a investigar um incidente de cibersegurança relacionado com as redes e tecnologias de informação do governo federal.” A mesma fonte garantiu que o ataque foi “isolado” e que as autoridades alemãs conseguiram “controlá-lo”; rejeitou, contudo, comentar o alegado envolvimento do grupo de hackers russos nesse ataque.

Em 2015, o Fancy Bear já tinha sido responsabilizado por um ataque semelhante aos sistemas informáticos da câmara baixa do Bundestag, o parlamento alemão, havendo ainda suspeitas de que também terá invadido os sistemas da União Democrata-Cristã (CDU), o partido da chanceler Angela Merkel. Depois disso, as autoridades alemãs alertaram no ano passado repetidas vezes para os riscos de “manipulação externa” das eleições federais que tiveram lugar no país em setembro.

Inúmeros especialistas em cibersegurança têm responsabilizado o Fancy Bear por uma série de ataques a países ocidentais, incluindo nos EUA e em França. Para ocultar a sua identidade, o grupo tem assumido variados nomes de código, incluindo CozyDuke, Sofacy, Pawn Storm, Sednit e Tsar Team. Segundo os mesmos especialistas, foram estes hackers que desempenharam um papel preponderante no ataque aos sistemas informáticos da Comissão Nacional do Partido Democrata durante a campanha presidencial norte-americana há dois anos.

Alemanha

Prisão perpétua para autor de ataque terrorista em julho de 2017

Os juízes do tribunal de Hamburgo decidiram condenar Ahmad Alhaw, de 27 anos, a prisão perpétua Foto CHRISTIAN CHARISIUS/AFP/Getty Images

Os juízes do tribunal de Hamburgo decidiram condenar Ahmad Alhaw, de 27 anos, a prisão perpétua Foto CHRISTIAN CHARISIUS/AFP/Getty Images

Ahmad Alhaw, autor do ataque com uma faca num supermercado, foi condenado a prisão perpétua pelo tribunal de Hamburgo, que considerou que o seu ato “contribuiu para a jihad mundial e com circunstâncias agravantes para o islamismo”. Na altura, um homem morreu e seis pessoas ficaram feridas

Texto Expresso

O palestiniano autor de um ataque com uma faca em julho de 2017 em Hamburgo, na Alemanha, e que era candidato a asilo, foi esta quinta-feira condenado à prisão perpétua, segundo a Agência France Presse.

Os juízes do tribunal de Hamburgo decidiram condenar Ahmad Alhaw, de 27 anos, a prisão perpétua, considerando que o seu ato “contribuiu para a jihad mundial e com circunstâncias agravantes para o islamismo”.

Alhaw, que nasceu nos Emirates Árabes Unidos e chegou à Alemanha em 2015, confessou ser culpado do crime durante o seu julgamento e disse que o objetivo do ataque era matar alemães cristãos indiscriminadamente e foi motivado por tensões que decorriam na altura em Jerusalém, refere a “AP”.

Um homem de 50 anos morreu a 28 de julho do ano passado depois de ter sido esfaqueado num supermercado em Hamburgo e seis pessoas ficaram feridas.

O indivíduo foi detido pela polícia no supermercado, depois de ter avançado sobre várias pessoas.