ENCONTROS FORA DA CAIXA
Apostar em Viana é “apostar no futuro”
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Vitalidade económica do Alto Minho e das suas ligações transfronteiriças prepara-se para enfrentar novos testes
Textos Tiago Oliveira Fotos José Fernandes
José Maria Costa não tem dúvidas: “O que acontece de mais relevante nos 1200 km de fronteira [entre Portugal e Espanha] é nestes 100 km do Norte.” O presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo apontou a relevância dos fluxos transfronteiriços na região como um “bom exemplo” e uma das causas do dinamismo económico que o Alto Minho atualmente apresenta.
“É um processo com muitas vantagens para as duas populações”, garantiu numa das intervenções que marcou a 21ª edição dos “Encontros Fora da Caixa”, subordinada ao tema “Noroeste Peninsular: Competitividade e Estratégia de Crescimento Sustentável”. O projeto da CGD — que tem percorrido o país com uma série de debates sobre os diferentes panoramas regionais e que conta com o apoio do Expresso — realizou-se desta feita no Forte de Santiago da Barra em Viana do Castelo e deu a conhecer uma realidade empresarial que tenta (e já consegue) ombrear com as melhores. “Os empresários têm que saber onde gerar valor acrescentado. As regiões dependem do seu génio e capacidade e o Noroeste distingue-se por isso”, atirou o economista José Félix Ribeiro. Sem esquecer o papel essencial do Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular, uma associação transfronteiriça de municípios que integra as 36 principais cidades da Eurorregião Galiza-Norte de Portugal. Criado em 1992, é o único sistema urbano estruturado de natureza transfronteiriça na União Europeia e uma das bases da história de sucesso do Alto Minho, que tem em Viana o 16º município mais exportador do país. Com o objetivo de, dentro de dois anos e meio, chegar à décima posição.
Objetivo para o qual a Tintex tenta fazer a sua parte com recurso à inovação e à sustentabilidade. A empresa do sector têxtil é uma das principais exportadoras da zona e o CEO, Mário Jorge Silva, defendeu que “inovar é pensar antes dos outros e aplicar isso num serviço que seja bom para a sociedade e promotores”. É o mote que tem tentado seguir ao leme da empresa, com a consciência de que “fazer produtos sustentáveis não é fácil”, mas que “processos que utilizem menos água, menos produtos químicos” são essenciais para que a Tintex se destaque junto de um mercado cada vez mais alerta para a problemática.
Já Armando Fontainhas, presidente da Adega Cooperativa de Monção, revelou que exporta cerca de “25% da produção”, num processo que permitiu aos vinhos da região chegarem a locais como Rússia ou China. “Quisemos globalizar-nos e tem sido um sucesso”, garante. Algo que também acontece com a Doureca Produtos Plásticos, empresa fornecedora da indústria automóvel e que cujas vendas para o estrangeiro “ultrapassam os 90%”, de acordo com o diretor-geral, Rui Lobo.
Mais de €100 milhões navais
Trata-se de um “conjunto de projetos muito interessantes” para o administrador executivo da CGD, Francisco Cary, que lembrou como “a economia do mar é muito dinâmica”. O desenvolvimento de canais de navegabilidade foi mesmo um dos temas em destaque ao longo da tarde, com o papel desempenhado pelos antigos Estaleiros Navais de Viana do Castelo a ser ponto de grande debate. “O renascimento da construção naval aqui é uma coisa verdadeiramente extraordinária”, disse José Félix Ribeiro sobre a estrutura que desde 2013 saiu da alçada do Estado para ser controlada pelo grupo Martifer.
Desde 2015 já foram construídos oito navios (cinco agora em construção) e Mário Ferreira tem sido “o principal cliente”. O CEO da Mystic Cruises assinou esta semana um contrato para a construção de dois navios de expedição polar, no valor estimado de €118 milhões. Juntam-se a outras embarcações e ao “World Explorer”, desenvolvido em parceria com a Rolls-Royce, e que está a ser finalizado para entrar em operação em abril de 2019 com viagens à Antártida. “Os estaleiros são a face de um cluster importantíssimo para a economia da região”, que junta “reparação naval, construção de cruzeiros e o sector da marinha”. Por isso, não deixou de considerar curioso que o presidente da Câmara não tivesse “uma palavra para os estaleiros” na sua intervenção e sublinhou a necessidade de concretizar o “aprofundamento do canal”, algo que está a impedir a estrutura de “dar um salto ainda maior”. Nas palavras do empresário, “toda a gente apoia, mas nunca mais fazem a obra”. Ainda assim, o futuro próximo dos estaleiros no que toca a encomendas está garantido e é mais um capítulo na narrativa positiva da região. Para José Maria Costa, “o Alto Minho e o Noroeste Peninsular estão bem e recomendam-se. Continuem a apostar aqui. Estão a apostar no futuro”.
O IVA das touradas não devia paralisar o país
“Suscita uma certa perplexidade o impacto desta proposta”, confessou Carlos César. Foi assim que o líder parlamentar do PS começou por discutir um dos temas que tem marcado a atualidade — a intenção do grupo de deputados do seu partido de reduzir o IVA das touradas para 6% no próximo Orçamento do Estado — e que motivou mesmo um diferendo público raro com o primeiro-ministro, António Costa, além de muita discussão na esfera pública. “Parece-me francamente exagerado que seja um assunto que faça paralisar o país”, revelou, enquanto manifestou surpresa pela “falta de interesse no resto das propostas”. Quanto à possível aprovação da proposta, disse ser um tópico que não lhe “é indiferente, mas não é relevante”. Declarações feitas na gravação especial do programa da TSF “Almoços Grátis”, que decorreu no XXI Encontro Fora da Caixa e que contou também com Luís Montenegro, para quem a polémica não passou de um “desviar de atenções”. O ex-líder parlamentar do PSD defende que a questão não se trata de “uma tomada de consciência” mas “de uma questão orçamental” que, no caso do OE-2019, não passa “de trocos”. Revelando à partida gostar de touradas, afirmou não “encontrar razões para que haja disparidade entre IVA” para diferentes espetáculos: “Quanto mais simples for a relação entre administração fiscal e o cidadão, melhor.” O (des)acordo para o ‘Brexit’ e a posição da Itália perante os parceiros europeus quanto ao seu Orçamento motivaram comentários sobre a instabilidade na União Europeia, com Carlos César a considerar mesmo que “se desenha um confronto crescente”. Já Luís Montenegro revelou-se “favorável à realização de um segundo referendo” no Reino Unido, até porque “o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita”.
Vitalidade económica do Alto Minho e das suas ligações transfronteiriças prepara-se para enfrentar novos testes