As dez lições do guru ‘fabricado’ pela Apple

Guy Kawasaki foi um dos homens próximos de Steve Jobs em vários momentos da vida da Apple. Hoje é um dos mais reputados investidores e conselheiros startups de Silicon Valley <span class="creditofoto">Foto Getty</span>

Guy Kawasaki foi um dos homens próximos de Steve Jobs em vários momentos da vida da Apple. Hoje é um dos mais reputados investidores e conselheiros startups de Silicon Valley Foto Getty

Fez parte da primeira equipa da Apple nos anos 80, trabalhou lado a lado com Steve Jobs e tornou-se um dos ícones de Silicon Valley, destacando-se como empreendedor, investidor, mentor e conselheiro de inúmeras startups. No seu último livro, “Wise Guy”, Guy Kawasaki partilha as lições que o ajudaram a crescer no competitivo universo das startups para inspirar outros empreendedores

Texto Cátia Mateus

As revistas Forbes, Fortune e Entrepreneur apontam-no como um dos empreendedores tecnológicos e mentores mais inspiradores da atualidade. Um título que Guy Kawasaki atribui ao percurso que consolidou na Apple e ao tanto que a sua proximidade a Setve Jobs, fundador da tecnológica, lhe permitiu aprender. “Sou quem sou porque trabalhei com Steve Jobs e com a Apple”, com tudo o que isso implica, admite.

A missão de Kawasaki, 65 anos e atual chief evangelist officer (conselheiro) da Canva e investidor de startups, na Apple teve dois momentos distintos: trabalhou lado a lado com Jobs de 1983 a 1987 e, mais tarde, de 1995 a 1997. O que aprendeu neste percurso e nas últimas décadas como consultor tecnológico de inúmeras startups? 15 livros chegam para o resumir, mas no último, “Wise Guy”, partilha com os empreendedores as lições (e várias histórias) que o ajudaram a crescer e o transformaram no que é hoje. Resumimos-lhe 10 das várias lições que partilha no livro.

1. Seja honesto e diga a verdade, sempre

A honestidade é um teste da sua competência e caráter. “É preciso inteligência para reconhecer o que é verdade e ter coragem para o admitir publicamente” e é, garante Kawasaki, “mais fácil ser honesto do que mentir”. Exemplo prático: “um dia, algures em 1984, o Steve entrou no meu gabinete com um senhor que eu não conhecia. Não me apresentou, mas perguntou-me o que é que eu pensava de uma empresa chamada Knoware. Disse a verdade, que os produtos da empresa eram medíocres, enfadonhos e que a empresa não era estratégica para nós. Depois do meu discurso, apresentou-me o CEO da empresa que estava ao seu lado e disse-lhe: vê, foi o que lhe disse”. Se tivesse tecido rasgados elogios à Knoware, acredita Kawasaki, o seu percurso na Apple teria ficado condenado naquele momento.

2. Não importa como se consegue o emprego ou o cargo. Importa o que consegue fazer na função

Como é que Kawasaki chegou à Apple? Simples: tinha um amigo lá dentro. “Entrei inseguro e cheio de receios de não ser bem sucedido. Mas porque trabalhei muito, porque me dediquei e porque tinha paixão pelo que fazia consegui ser bem sucedido”, recorda. Steve Jobs, explica o investidor, dividia as pessoas em dois grupos: as que eram exemplares e as que péssimas. “Na Apple tínhamos de provar o que valíamos diariamente ou o Steve mandava-nos embora no momento”.

3. Trabalhe com quem o desafia (sejam clientes ou equipas)

Guy Kawasaki defende que devemos rodear-nos de quem nos desafia a fazer mais, melhor e mais inovador diariamente. Como é que isto se consegue? “Siga pela autoestrada e nunca por caminhos secundários. Vai perceber que há muito menos trânsito”. A analogia serve para defender a importância de não se contentar com o o caminho mais fácil e mais tranquilo e abraçar o desafio de uma carreira exigente e construída a alta-velocidade (como, de resto, a evolução tecnológica impõe).

4. Saiba quando deve desistir ou mudar as regras do jogo

Desistir nem sempre é mau. Kawasaki desistiu várias vezes. Mudou as regras do jogo outras tantas. Membro da terceira geração de uma família a viver nos Estados Unidos, aprendeu cedo que “se não há oportunidades onde estamos, há que mudar para um lugar melhor”. O mesmo se aplica aos produtos. Evoluir é estar constantemente a mudar as regras do jogo e reinventar o negócio.

5. Questione tudo (sempre!)

“Desafie o conhecido e abrace o desconhecido” é uma das frases mais conhecidas de Guy Kawasaki, proferida no discurso que antecede a cerimónia de formatura no Menlo College. O desconhecido é tipicamente algo que nos intimida, mas mesmo o que aparentemente conhecemos “devemos questionar, sempre”, explica acrescentando que chegou a essa conclusão depois de algum tempo na Apple com as pessoas sempre a defenderem que ninguém precisava de um novo sistema operativo.

No seu último livro, “Wise Guy”, o investidor partilha as lições que compilou ao longo da carreira. <span class="creditofoto">Foto D.R.</span>

No seu último livro, “Wise Guy”, o investidor partilha as lições que compilou ao longo da carreira. Foto D.R.

6. Nunca pare de aprender

A aprendizagem não pára quando o percurso académico chega ao fim. “Se não continuar a aprender estará a deixar-se morrer”, defende o mentor recordando que a aprendizagem não se restringe a uma fase da vida, nem é um evento que começa e termina.

7. Os clientes atuais não lhe podem ensinar a inovar

“Se Steve Jobs estivesse vivo estaria a tentar criar uma nova categoria de produto. Não estamos a falar de criar o novo iPhone, a evolução de um produto é algo óbvio. O desafio real é criar uma nova categoria de produto que nos faça querer deixar de utilizar o MacBook e o iPhone. Esse seria o seu desafio”, avança Kawasaki. Uma das coisas que diz ter aprendido desde cedo na Apple: “os nossos clientes atuais não nos ensinam a inovar, não nos explicam qual será a próxima grande revolução.” Para isso é preciso arriscar e desafiar a nossa ambição, constantemente, tentando alcançar novos públicos e dar resposta às suas necessidades.

8. Desenvolva um rede de contactos

“O argumento de muitos líderes e empreendedores de que estão demasiado ocupados a gerir o negócio para fazer networking, é o princípio do fim e está totalmente fora de moda. Ninguém está permanentemente ocupado a esse ponto”, defende Kawasaki. O investidor até vai mais longe e lança o alerta aos empreendedores: “na indústria do capital de risco, as empresas não conquistam financiamento pela qualidade do seu pitch (apresentação), mas porque o investidor conhece alguém que por sua vez conhece o CEO”. Tudo gira em torno da sua rede de contactos.

9. Diga “sim”, a não ser que lhe deem razões sólidas para dizer “não”

“O sim deve ser a regra. Com isto damos espaço a oportunidades que de outra forma nunca teríamos. Mas não defendo que se diga sim a tudo”, explica. Para o guru há uma linha de baliza a decisão, a da razoabilidade. Existindo razões ou limitações objetivas para um “não” (como o prejuízo para o negócio, a incapacidade de cumprir prazos ou outras), não há que temer o seu impacto no negócio.

10. Saber pedir ajuda é uma virtude

Reconhecer que não consegue fazer tudo sozinho pode ser desafiante, mas os benefícios são notórios tanto no campo pessoal como profissional. “Pedir ajuda é uma forma de aproximação e reforço das relações sociais”, explica recordando que é disso que são feitos os negócios e que o relacionamento interpessoal é um dos pilares do sucesso das startups.