Economia

A Gorila engasgou

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A Lusiteca fabrica e vende as Gorila e também os rebuçados Penha. Foto D.R.

A cinquentenária Lusiteca está sob administração judicial. Após vários anos de prejuízos, a empresa avançou com um processo de revitalização. Vai precisar de vender mais doces para não amargar a vida de centena e meia de trabalhadores

Texto Miguel Prado

Lembra-se de há quanto tempo não compra um pacote das históricas pastilhas elásticas Gorila? Elas estão aí, nas prateleiras dos cafés e supermercados, continuam a vender-se, mas não o suficiente para adoçar as contas da empresa que as produz. A Lusiteca, com fábrica em Mem Martins, concelho de Sintra, avançou com um processo especial de revitalização (PER), para fazer face a anos sucessivos de prejuízos e a dívidas que ultrapassam atualmente os 10 milhões de euros.

A Lusiteca solicitou a instauração do PER a 2 de outubro no Tribunal de Sintra e um mês depois o administrador judicial publicou a lista provisória de credores, segundo a qual a empresa tem pagamentos pendentes a mais de 270 credores (entre trabalhadores, fornecedores, bancos e outras entidades), no valor global de 10,3 milhões de euros.

O maior credor é o Novo Banco, que concentra 52% dos créditos, reclamando da Lusiteca um total de 5,4 milhões de euros, dos quais a maior parcela, 3,66 milhões de euros, respeita a um contrato de financiamento que está garantido por uma hipoteca sobre um imóvel da empresa.

O segundo maior credor da cinquentenária Lusiteca (que foi fundada a 15 de janeiro de 1968) é o banco BPI, que reclama um crédito de 698 mil euros.

O Estado português também é credor da empresa, tendo a receber, segundo a lista divulgada pelo administrador judicial, 128 mil euros de contribuições para a Segurança Social, bem como 225 mil euros de reembolso de incentivos dados pelo IAPMEI (instituto hoje denominado Agência para a Competitividade e Inovação, que coordena a distribuição de fundos comunitários às empresas).

O crédito do IAPMEI refere-se a um apoio que o Estado concedeu à empresa em 2012, sob a forma de empréstimo, a reembolsar num prazo de oito anos. Na altura o valor do apoio dado à Lusiteca, no âmbito do Sistema de Incentivos à Inovação Produtiva, ascendeu a 499 mil euros, que serviram para cofinanciar um investimento que a empresa estava a fazer na sua fábrica no valor de 1,46 milhões de euros.

O Expresso questionou esta terça-feira por escrito o diretor financeiro da Lusiteca, Jorge Parreira, sobre os motivos do PER e a eventual existência de um acordo com os credores para a recuperação da empresa, mas não foi possível obter uma resposta imediata. Também não foi possível obter esclarecimentos do escritório do administrador judicial da Lusiteca, José Ribeiro Gonçalves.

As contas publicadas pela Lusiteca mostram que a empresa soma ainda capitais próprios positivos de 7 milhões de euros, mas os resultados dos últimos anos têm vindo a degradar-se.

Em 2013 a fabricante das pastilhas Gorila (que também produz e comercializa os rebuçados Penha) faturou 12,5 milhões de euros, cifra que se foi reduzindo nos anos seguintes. A Lusiteca fechou 2017 com vendas de 8,1 milhões de euros, ligeiramente abaixo do volume de negócios do ano anterior.

A venda de pastilhas elásticas e rebuçados está longe de adoçar as contas desta empresa, com centena e meia de empregados. Nos últimos cinco anos (e o Expresso não conseguiu números anteriores a 2012), a Lusiteca teve sempre resultados líquidos negativos. Em 2017 o prejuízo rondou meio milhão de euros. No final do ano passado os resultados transitados (prejuízos acumulados) eram negativos em 5,4 milhões de euros.

Com a instauração do PER, o administrador judicial da Lusiteca deverá nos próximos meses trabalhar com a empresa e com os credores para a apresentação de um plano de recuperação, que poderá passar, à semelhança do que ocorre noutros PER, por um prazo dilatado para o reembolso dos credores, que dê à empresa um “balão de oxigénio” para tentar recuperar financeiramente e voltar aos lucros.