Esta aplicação quer ajudá-lo a programar o seu relógio biológico para evitar o jet lag

Timeshifter desenha um plano para evitar o jet lag, em função dos voos e hábitos do utilizador <span class="creditofoto">Foto D.R.</span>

Timeshifter desenha um plano para evitar o jet lag, em função dos voos e hábitos do utilizador Foto D.R.

Desenvolvida com neurocientistas e utilizada por astronautas e atletas de alta competição, a Timeshifter começa agora a conquistar turistas. A app criada por dinamarqueses baseia-se em investigação científica sobre o sono e ritmos circadianos para, em função da sua viagem, hábitos de sono e outras informações, lhe sugerir um plano personalizado. Com 1,25 milhões de dólares captados em financiamento, prepara-se agora para fechar nova ronda de investimento

Texto Maria João Bourbon

Timeshift: ação de alguém que experiencia exposição e evasão à luz, sono e sestas, uso de melatonina e cafeína para reiniciar o relógio circadiano (ou biológico) para um novo fuso horário.

Desde há muitos anos que astronautas e atletas de alta competição mudam de fuso horário. Como Mike Massimino, antigo astronauta que viajou duas vezes ao espaço para reparar o telescópio Hubble, e que agora utiliza a Timeshifter para as suas viagens na Terra.

O objetivo desta empresa é acabar com o jet lag de turistas, desportistas e trabalhadores — ou, por outras palavras, melhorar a sua capacidade de adaptação a mudanças repentinas nos ciclos do sono/despertar e dia/noite.

O propósito parece ambicioso, mas a aplicação lançada em junho do ano passado baseia-se em anos de investigação científica sobre o sono e os ritmos circadianos (e o algoritmo que a alimenta ajuda há vários anos astronautas, atletas e executivos a adaptarem-se rapidamente a novos fusos horários). “Desenvolvemos a Timeshifter com um dos neurocientistas mais reconhecidos nesta área do sono e dos ritmos circadianos, Steven Lockley, da Harvard Medical School”, explica ao Expresso o cofundador e presidente executivo da empresa Mickey Beyer-Clausen.

A solução foi criar uma app onde se combinam elementos que, em conjunto, são capazes de reiniciar o relógio biológico (como a exposição à luz e a injestão de melatonina, a hormona que existe no corpo humano e provoca o sono) ou aliviar os sintomas do jet lag (melatonina, cafeína e sestas).

De acordo com a Associação do Sono norte-americana, 93% dos viajantes já experienciaram jet lag, acompanhado por fadiga e desorientação e, em alguns casos, náusea, dores de cabeça, perda de apetite e ligeira depressão, podendo até gerar problemas de saúde.

“Hoje em dia, os viajantes usam táticas diferentes e assentam em conselhos genéricos e diferentes produtos numa tentativa de tratar os sintomas, mas estes não funcionam bem, são habitualmente contraprodutivos e não abordam a raiz do problema”, adianta o presidente executivo. “É necessária uma abordagem personalizada.”

É por isso que a Timeshifter leva não só em conta o voo, datas, escalas e outros elementos sobre a viagem, mas também dados sobre o viajante, como a idade, o género, o peso e hábitos de sono. O plano proposto tem em conta todas essas variáveis e, por isso, é diferente em função do utilizador.

O plano para evitar o jet lag — que pode começar ou terminar dias antes da partida — sugere quando evitar ou não a exposição a luz brilhante ou moderada, quando se deve dormir ou estar acordado (e durante quanto tempo), quando tomar cafeína ou melatonina…

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Foto D.R.

Tentámos fazê-lo num voo entre Santiago (Chile) e Lisboa (Portugal), com escala em Madrid (Espanha). O jet lag não seria, à partida, dos piores, uma vez que a diferença horária entre os países de destino e de partida é de apenas três horas. Ainda assim, deu para chegar a uma conclusão: nem sempre a tripulação de voo acorda os passageiros — para as refeições — às horas mais convenientes, especialmente porque os planos para minimizar o jet lag variam consoante a vida e os hábitos das pessoas.

O que pode tornar mais difícil cumprir os conselhos da app. Mas há estratégias. “Usa uma etiqueta no teu lugar para evitar que a tripulação te acorde e toma as refeições apenas quando o plano da Timeshifter permite”, sugere o cofundador da empresa. “O que é mais importante: as refeições do avião ou evitar o jet lag? Traz a tua própria comida.”

O que é talvez mais importante para reequilibrar o relógio biológico é a exposição à luz. “E isto é fácil seguir: quando a Timeshifter te diz para teres exposição à luz num momento em que estás num avião escuro, basta acender as luzes disponíveis ou aumentar a luminosidade do tablet ou do computador”, garante. “Quando te diz para a evitares, e entra sol ou estás num espaço luminoso, basta usares os teus óculos escuros favoritos.”

Com 1,25 milhões de dólares (1,1 milhões de euros) captados em rondas de investimento, a empresa fundada pelos dinamarqueses Mickey Beyer-Clausen, Tony Hanna e Jacob Ravn prepara-se para “fechar uma nova e maior ronda”, adianta o mesmo responsável, sem detalhar valores.

Com uma estratégia B2B2C (business to business to consumer), a empresa está neste momento a criar parcerias com outros canais e negócios, como companhias aéreas, hotéis, agências de viagens ou outras empresas com trabalhadores que viajam muito. A empresa de roupa desportiva Under Armour, a cadeia de hotéis Six Senses e a companhia aérea Air Canada são alguns dos parceiros.

Embora não revele números de utilizadores nem outras estatísticas, Beyer-Clausen adianta que neste momento o plano é desenvolver funcionalidades adicionais na app, expandir a equipa para facilitar e gerir o seu crescimento e integrá-la mais com os parceiros. “Somos pagos pelos nossos parceiros porque somos uma peça importante que falha na experiência de viagem.”