Parlamento
As respostas da “deputada do Alto Minho” que registou presenças de José Silvano
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Emília Cerqueira, deputada do PSD, assumiu ter sido ela a registar “inadvertidamente” as presenças de José Silvano no Parlamento. Garante que ninguém lhe pediu para o fazer e que desconhecia que o sistema funcionava assim
Texto Miguel Santos Carrapatoso
24 horas depois de José Silvano, secretário-geral do PSD, ter garantido que não pedira a ninguém para registar as suas (falsas) presenças no Parlamento e de ter batido no peito para exigir uma investigação célere da Procuradoria-Geral da República, lá apareceu a culpada: Emília Cerqueira, deputada do PSD e próxima de Silvano, assumiu o “erro” e desdobrou-se em explicações, numa conferência de imprensa que agendou depois de se recusar a responder às perguntas do Expresso.
Num registo assertivo (para dizer o mínimo), Emília Cerqueira assumiu tudo. Tem acesso à password de José Silvano? “Faz parte quando colaboramos em trabalho, porque é impossível estarmos em todo o lado. Tal sucede comigo e com o deputado José Silvano: tenho a password, não só eu, mas eu também”, garantiu, ignorando, como lembrou o Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, que este dado é “pessoal e intransmissível”. E usou-a porquê? Por imperativa necessidade laboral: “Partilhamos trabalho de comissão. A documentação dele está apenas acessível no computador dele, por isso sempre que é necessário eu acedo à documentação do computador dele”, jurou.
E o facto de ter registado a presença de um deputado que não se encontrava no Parlamento? Foi um dano colateral, lamentou-se. Na verdade, avançou a parlamentar, não existe um log in próprio para registar presenças, pelo que o simples desbloquear de um computador serve para confundir o sistema. Emília Cerqueira sabia desde dado? Claro que não, caso contrário teria tido outra cautela. “Hoje tenho a noção clara disso, mas na altura quando uma pessoa está a trabalhar não se lembra”, reconheceu, antes de acrescentar uma explicação de cariz geográfico: a iliteracia tecnológica que atravessa, aparentemente, o Alto Minho. “Se calhar cá em Lisboa tem-se noção disso, mas eu como sou do Alto Minho não tenho essa noção.”
Mas não foi José Silvano a pedir que o registasse? Nunca, jamais, de maneira alguma, declarou pela sua honra Emília Cerqueira. “Nunca me pediu para o fazer, nem eu o fiz. Se o fiz, fi-lo inadvertidamente”.
Ora, se o fez “inadvertidamente”, não avisou o deputado porquê? Mesmo depois das réplicas que se registaram ao longo da semana e que tiveram origem na notícia do Expresso (sábado), mesmo depois de Rui Rio se ter tornado alvo político, mesmo depois da conferência de imprensa de José Silvano (quinta-feira), não teria sido avisado esclarecer o mistério? Não consegui, desculpou-se a deputada. “Nem sequer me apercebi do que estava a suceder, não estive a ver notícias nesse fim de semana, pelos vistos cometi o crime de tirar o fim de semana para descansar. E estive numa audição ontem (quinta-feira) até às 23h, e só quando saí é que me apercebi da dimensão, quando ontem vejo a declaração a imprensa. Nesse momento, sim, liguei ao deputado”, esclareceu.
Esta sexta-feira, quando o Expresso a confrontou com o facto de ter sido ela a ‘assinalar’ a presença de Silvano, Emília Cerqueira percebeu, agora sim, que era tempo de pôr um ponto final na polémica. “Nunca imaginei que tivesse esta dimensão e estas consequências — não podia, por momento algum, deixar que esta situação de lamaçal se desenvolvesse”, insurgiu-se.
Feitos os devidos e clarificadores esclarecimentos, Emília Cerqueira não deixou de apontar o dedo a quem julga serem os culpados pelo tal “lamaçal” em que se transformou o caso: “as virgens ofendidas numa terra onde não há virgens”, que passeiam pela comunicação social e até “muito possivelmente no interior do PSD”, divertindo-se com o “linchamento” de Rui Rio e restante direção social-democrata. E quem são essas virgens? Cerqueira não as denunciou.
Emília Cerqueira, deputada do PSD, assumiu ter sido ela a registar “inadvertidamente” as presenças de José Silvano no Parlamento. Garante que ninguém lhe pediu para o fazer e que desconhecia que o sistema funcionava assim