RICARDO COSTA

Digam adeus ao segundo referendo do Brexit

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Não havia melhor dia (ou pior, depende da perspetiva) para Theresa May se demitir. A mal-amada líder do Governo britânico cai por terra a dois dias da divulgação dos resultados de umas eleições que vão humilhar o seu próprio partido, com uma muito provável vitória de Nigel Farage e do seu partido start-up. Acabado de criar, o Brexit Party está completamente lançado no primeiro lugar.

O Partido Conservador vai viver uma derrota humilhante, mas não vai perder muito tempo com as europeias. Vai pegar no sinal do seu eleitorado e de todos os que desertaram para outras paragens e tentar virar a página. A queda de Theresa May é o ponto de partida para isso, um rasgar de página antes da verdadeira viragem.

É altamente provável que o próximo líder seja um maior defensor de um hard Brexit, uma saída sem acordo da União Europeia. Além dos principais candidatos à sucessão de May terem esse perfil, também a própria base de militantes que vai escolher o novo líder é claramente anti-Bruxelas.

Isto não quer dizer que não haja uma saída sem acordo ou que não haja mais um adiamento negociado com Bruxelas, quer apenas dizer que as probabilidades de um compromisso por parte do Reino Unido diminuem e que o discurso será politicamente muito mais claro. E duro.

Entalado entre Farage e um surpreendente Jeremy Corbyn, e com várias dissidências pelo caminho, o sucessor de May vai usar o Brexit como alfa e ómega da sua governação. A saída vai mesmo acontecer e não passa por novo referendo

A única “certeza” (coloco entre aspas porque neste processo isso não existe) é que a hipótese de um segundo referendo morre de vez. A nova liderança do Partido Conservador vai ter como prioridade recuperar o seu eleitorado, afastar o fantasma de Nigel Farage e seguir o voto popular do referendo de 2016.

Uma segunda consulta popular daria cabo do partido e colocaria Farage como líder absoluto de metade dos eleitores. O seu poder eleitoral é real como se vai ver neste domingo e a única forma de o conter é colocar o Partido Conservador numa rota segura, a tempo das próximas legislativas.

Entalado entre Farage e um surpreendente Jeremy Corbyn – o líder mais à esquerda que os trabalhistas tiveram em décadas –, e com várias dissidências pelo caminho, o sucessor de May vai usar o Brexit como alfa e ómega da sua governação. A saída vai mesmo acontecer e não passa por novo referendo.