Curiosidades da eleição. Aqui fala-se de Tino de Rans, do Corvo, de Boticas e do concelho com a votação mais baixa no PS

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Foto Pedro Nunes

Em seis concelhos, o PS conseguiu mais de 50% dos votos. E sabe em que concelho o PSD conseguiu a melhor percentagem de votos? Estas e outras curiosidades de um domingo eleitoral intenso

Texto Miguel Prado

PS

Contas feitas, o PS alcançou nestas legislativas 1,86 milhões de votos, mais 124 mil do que tinha tido há quatro anos. Um acréscimo que lhe permitiu passar de 32,38% para 36,65%. E de 85 para 106 deputados (ainda sem contar com o círculo da emigração).

Em seis concelhos de todo o país, os socialistas conseguiram alcançar mais de metade dos votos. Gavião (distrito de Portalegre), Campo Maior (Portalegre), Vila Velha de Ródão (Castelo Branco), Baião (Porto), Porto Santo (Madeira) e Santa Cruz da Graciosa (Açores) tiveram votos acima dos 50%. E desta vez são mais do que os três concelhos que nas legislativas de 2015 tinham conseguido essa proeza.

Vagos (Aveiro), Oliveira do Bairro (Aveiro) e Calheta (Madeira) foram os três únicos concelhos onde os socialistas tiveram uma percentagem de voto abaixo dos 20%. E Vagos foi mesmo a mais baixa: 16,99. No concelho ganhou o PSD com 52,25% e o CDS foi a terceira força mais votada com 11,29%.

Em 15 dos 20 círculos eleitorais do país, o PS foi o partido mais votado. Portalegre (44,73%) e Castelo Branco (40,88%) ficam com as melhores votações. De fora, para o PSD, ficou apenas a Madeira, Leiria, Viseu, Vila Real e Bragança.

PSD

O PSD foi completamente varrido de Lisboa no que diz respeito a ser a maior força política de um concelho. Em 2015, a coligação que o juntou ao CDS tinha conseguido ser a força mais votada em oito dos 16 concelhos. Este ano, nada. O PS ocupa esse lugar em todos os concelhos do círculo eleitoral.

A cidade do Porto permaneceu com os sociais-democratas na liderança, mas o distrito não.

No Algarve, a coligação Portugal à Frente tinha, em 2015, conseguido ser a força mais votada em três concelhos: São Brás de Alportel, Loulé e Albufeira. Agora, é de rosa que fica pintado o distrito.

Em Aljustrel e Portel, no Alentejo, já a coligação com os centristas tinha sido mal sucedida, sendo aquelas onde registou as votações mais baixas em 2015, mas, ainda assim, acima de 10%. O PSD, sozinho em 2019, fica com votações em torno de 6% nestes concelhos. Na Moita, no círculo de Setúbal mas bem perto da capital, o partido liderado por Rui Rio ficou-se pelos 9,15% dos votos.

Boticas é o melhor concelho do PSD, onde conseguiu registar 61,54% dos votos. Há mais seis concelhos onde atingiu uma votação superior a 50% (Alvaiázere, Calheta, Sernancelhe, Vagos, Valpaços e Vimioso). Ainda assim, as percentagens alcançadas são bastantes inferiores do que em 2015, quando se candidatou em coligação.

BLOCO

O Bloco de Esquerda obteve este domingo cerca de 492 mil votos, menos 57 mil do que teve há quatro anos. Manteve 19 deputados, mas recuou de 10,22% para 9,67%. Somando os votos das três forças políticas que formaram em 2015 a inédita solução da "geringonça", houve 2,69 milhões de votos neste trio. Menos 49 mil votos do que em 2015.

CDU

Um dos derrotados da noite, a CDU (que junta o Partido Comunista Português e o Partido Ecologista Os Verdes) viu a sua base de apoio erodir de forma significativa: obteve 329 mil votos, menos 116 mil do que nas legislativas de 2015. A CDU caiu de 8,27% para 6,46% e a sua bancada parlamentar encolherá de 17 para 12 deputados.

É de admitir que os comunistas tenham perdido boa parte dos seus votos para os socialistas e alguns para o Bloco de Esquerda. Mas nem o partido de Catarina Martins conseguiu capitalizar de forma visível, a nível nacional, a degradação da base de apoio da CDU.

GERINGONÇA

Os três partidos que nos últimos quatro anos deram corpo à famosa "geringonça" tiveram este domingo um total de votos inferior ao que conquistaram há quatro anos, já que o acréscimo de apoio ao Partido Socialista (PS) não chegou para compensar a perda de votos que, em termos absolutos, o Bloco de Esquerda e, sobretudo, a CDU tiveram.

No entanto, e em termos práticos, a posição relativa da "geringonça" no Parlamento tornou-se mais sólida: é que a votação somada das três forças em 2015 tinha sido de 50,87% e agora chega a 52,78%. A maior abstenção este domingo e a elevada perda de votos do PSD e CDS (agora, correndo separados, tiveram menos 345 mil votos dos que há quatro anos tiveram juntos) terão jogado a favor daqueles partidos, mais do que compensando a sua perda de votos em termos absolutos.

Para quem perdeu votos a "geringonça"? Pode ter perdido alguns para a abstenção, que aumentou face a 2015, mas também para outros partidos que reforçaram a sua votação este domingo, designadamente o Livre, que ganhou 16 mil votos face a 2015, e o PAN, que disparou de 75 mil para 167 mil votos.

CDS

Diogo Freitas do Amaral, falecido esta semana, era o líder dos centristas em 1991, da última vez em que o grupo parlamentar obteve cinco deputados. Só que nesse ano, o CDS até tinha melhorado na votação, e conseguido eleger mais um deputado do que na legislatura anterior.

É com cinco deputados que o partido vai agora contar, com base nos resultados das legislativas, em que contou com 4,25% dos votos.

Ainda faltam quatro mandatos (dos círculos da Europa e Fora da Europa), mas, a confirmar-se, é a pior percentagem de sempre na vida do partido. As percentagens mais baixas até aqui situavam-se em 4,4%.

Foi no concelho de Velas, nos Açores, que o CDS marcou o melhor resultado. 16,96% dos votantes escolheram-no, ainda que tenha ficado aquém dos 21,78% do PPD/PSD e dos 34,48% do PS. Ainda que já não esteja em coligação com o PPM, como em 2015, o partido melhorou a votação, já que, aí, tinha tido 16,17% dos votos. Uma vitória num dia de derrotas.

PAN

O salto do PAN entre as legislativas de 2015 e as de 2019 é impressionante: o número de votos absolutos mais que duplica (de 75.140 para 166.854), a percentagem de votação passa de 1,39% para 3,28% e o número de deputados eleitos quadruplica (de 1 para 4).

Mas se a comparação for com as últimas europeias, realizadas em maio deste ano, os números mostram antes uma estabilidade. Nessas eleições, o partido de André Silva recebeu 167.500 votos no território nacional, ou seja, um número muito próximo daquele que teve nas eleições para o Parlamento nacional.

Dos 308 concelhos do país, regiões autónomas incluídas, apenas num o PAN não recebeu qualquer voto. Na ilha do Corvo (Açores), nenhum dos 176 votos válidos foi para este partido. Já em Barrancos, concelho que ganhou fama pela sua defesa dos touros de morte, o Partido Animais Natureza conquistou 8 eleitores.

Já tinha acontecido em 2015 e acentuou-se nestas eleições: os concelhos do distrito do Algarve estão entre os que apresentam maiores votações no PAN. Em Albufeira, Portimão, Olhão, Aljezur, Lagoa e Faro, o partido ultrapassou os 5%. O mesmo aconteceu em Sintra.

LIVRE

Foi nos concelhos mais urbanos de Lisboa (3,26%), Oeiras (2,52%), Cascais (1,84%) e Amadora (1,72%) que conseguiu os melhores resultados. Mas em 258 outros municípios - ou seja, a esmagadora maioria do país - teve menos de 1%. Em Pedrógão Grande ou Barrancos teve apenas dois votos.

CHEGA!

Os concelhos de Sintra, Lisboa, Loures, Odivelas e Amadora foram aqueles onde o Chega!, de André Ventura teve mais votos em termos absolutos. Mas o destaque da votação no partido de André Ventura também vai para zonas do interior do Alentejo, Alvito e Moura, no distrito de Beja, e Monforte e Elvas, no distrito de Portalegre, foram os concelhos onde o Chega! teve a sua maior votação em termos percentuais, entre os 4,5% e os 4,8%.

ALIANÇA

Com um total de 39 mil votos em todo o país, foi na Figueira da Foz que o partido Aliança, de Pedro Santana Lopes, conseguiu maior percentagem (2,60%). Em 278 concelhos teve menos de 1% e tanto no concelho de Arronches (Portalegre) como em Porto Moniz (Madeira) teve apenas um voto.

RIR

O partido de Tino de Rans teve votos em 275 dos 308 concelhos do país. Penafiel, concelho onde fica a freguesia de Rans, foi o local onde o RIR teve mais votos, chegando aos 2104 votos com 5,56% do total.

CORVO

Dos 176 votantes da ilha do Corvo, o PSD só obteve um voto, tanto quanto o Chega e o PCTP/MRPP.

O PS foi o vencedor, com 85 votos, acima das 64 cruzes colocadas no PPM. Em 2015, o PSD tinha contado com 19 votos, sendo que o vencedor socialista tinha conseguido 107 votos. A coligação PPM/CDS tinha alcançado 40 votos.

O Corvo é um dos concelhos onde o PSD teve um dos resultados mais baixos em 2015, com uma percentagem de 10%.

HÁ MAIS VOTOS NULOS E BRANCOS QUE NO CDS

Há mais votos nulos do que em cada um dos três novos partidos que entraram no Parlamento. Foram 88,5 mil votos declarados nulos e o Chega, entre estes o que mais votos atingiu, não chegou aos 66,5 mil votos.

Só que, somando aos votos nulos os votos em branco, o número supera ainda outros partidos. São 218 mil votos sem indicação de um partido. O CDS obteve 216 mil e o PAN 167 mil.