Um Ciudadanos português?
O Aliança apresentou uma série de ideias que deviam fazer parte do discurso político permanente do PSD e do CDS. A ideia-chave é a criação de um modelo social que defenda diretamente as pessoas em vez de proteger corporações. Exemplo: o Estado deve ajudar diretamente o doente através de um seguro de saúde; se a pessoa não tem dinheiro, o Estado compõe o seu seguro de saúde. É o Estado social à Bismarck (ou Obama), mais simples, menos dispendioso para o contribuinte e com mais liberdade para o doente.
As ideias do Aliança são interessantes, são um eco do Ciudadanos ou de Macron; ideias clássicas do centro-direita com roupagens novas. Sucede que Ciudadanos e Macron são ecos reais das respetivas sociedades, o Aliança parece ser um mero eco da Santana. É preciso mais gente
O dinheiro dos impostos deve ser investido diretamente nas pessoas, não se perde em estruturas e corporações. O Estado não tem de ter hospitais e escolas, até porque sabemos o caos dispendioso dessa realidade; o Estado tem, isso sim, de auxiliar diretamente as pessoas através de seguros (na saúde) e cheques-ensino (na educação). O soberano deve ser uma garantia forte e ágil, não um prestador gordo e ineficaz. Este modelo interessa-me, sempre o defendi. E sempre me custou a inoperância ou timidez de PSD e CDS nesta matéria. Nem PSD nem CDS defendem em permanência e/ou na totalidade esta ideia de direita para a sociedade, que, em Portugal, ficou consagrada no CDS de Francisco Lucas Pires. O CDS hoje tem defendido as parcerias com privados na saúde, outro modelo interessante que mostra que o Estado social não é só aquilo que a esquerda quer. Problema? O CDS defende essas parcerias porque elas já existem na realidade, não estica o horizonte, não defende a ideia de que todos os portugueses – como os holandeses, por exemplo – devem ter o seu seguro de saúde. Neste sentido, a Aliança é salutar. Resta porém um problema.
As ideias do Aliança são interessantes, são um eco do Ciudadanos ou de Macron; ideias clássicas do centro-direita com roupagens novas. Sucede que Ciudadanos e Macron são ecos reais das respetivas sociedades, o Aliança parece ser um mero eco da Santana. É preciso mais gente. Outras pessoas, conhecidas ou novas, têm de aparecer para articular estas ideias com a realidade portuguesa. É preciso uma articulação de ideias sistemática, visto que com Santana fica sempre uma impressão: ele hoje diz uma coisa, mas amanhã diz outra com igual convicção e espírito de menino guerreiro. Como todos os “meninos guerreiros”, ele não sabe estar quieto, tem coragem, sim senhor. Mas a coragem não é uma virtude em si mesmo. A virtude está nas ideias que essa coragem protege e alimenta.