Crónica

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RICARDO COSTA

Uma simples pergunta aos deputados

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Os deputados acham que o populismo nasce do quê? Só brota de profundas tensões migratórias ou de enormes escândalos de corrupção? Só medra em situações de extrema insegurança física e desemprego extremo? Ou que só aparece de surpresa perante movimentos separatistas e leis que agitam o passado de guerras civis e ditaduras?

A resposta a todas as perguntas é um simples não, apesar de as condições antes descritas serem o pasto ideal para movimentos de larga escala e de Portugal, felizmente, ter muitos indicadores que podem garantir esse estranho estatuto que, depois da recente surpresa espanhola, já só é partilhado com a Irlanda. Sim, restamos nós como os únicos que não viram nascer e crescer partidos novos de extrema-direita ou de populismo nacionalista.

A maioria dos deputados trabalha muito, mas a opacidade de alguns dos seus “direitos” e a incrível maleabilidade das presenças/ausências são pregos no caixão de qualquer sistema parlamentar

Mas antes de os deputados se orgulharem disso ou de propagandearem esse facto, convém que percebam a gravidade dos pequenos casos que se vão somando. Eu defendo o atual número de deputados e sei que a maioria trabalha muito, mas a opacidade de alguns dos seus “direitos” e a incrível maleabilidade das presenças/ausências são pregos no caixão de qualquer sistema parlamentar.

Acordem e tentem colocar-se na posição de algum português que olhe para o que se vê e para o recente relatório do Tribunal de Contas. E depois respondam às perguntas que estão no início do texto.

Não se surpreendam com a abstenção nem com votos que sigam para paragens inesperadas. Eu não me surpreenderei.