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Nicolau Santos

A Abengoa e a banca portuguesa

A maior falência alguma vez ocorrida em Espanha está a atingir severamente alguns bancos portugueses. É mais um a somar aos múltiplos impactos que têm atingido o sistema financeiro português e que obriga a lidar com pinças com o tema.

A Abengoa, um grupo empresarial espanhol na área das energias renováveis, que conseguiu apoio financeiro de 200 instituições financeiras de todo o mundo, está à beira do colapso e já se colocou ao abrigo dos credores. Acontece que também três bancos portugueses estão envolvidos no financiamento à Abengoa, correndo sérios riscos de perderem o que emprestaram: Novo Banco (55 milhões, que o banco diz ser muito menos, mas sem precisar quanto), BPI (10 milhões) e CGD (outros 10 milhões). Nenhuma destas instituições comenta.

A questão é que o sistema bancário português está a passar por uma fase muito difícil. Primeiro, foi a crise financeira internacional; depois, o brutal impacto doméstico dessa crise, com o colapso do sector da construção e a entrada de muitas famílias em incumprimento no caso dos empréstimos que tinham pedido para aquisição de habitação; acresce que milhares de pequenas e médias empresas foram obrigadas a fechar portas e que o mercado interno encolheu quase 7% – e como resultado de tudo isso os créditos malparados estão em ascensão. Ainda por cima, Bruxelas obrigou a novas regras, mais exigentes, de solvabilidade; e exigiu igualmente que a compra de títulos de dívida de países africanos passasse a ser provisionada a 100%.

Os bancos portugueses foram assim obrigados a reforçar capital ou a pedir dinheiro emprestado ao abrigo da linha de crédito de 12 mil milhões para o sector no quadro dos 76 mil milhões que Portugal recebeu quando ficou à beira da rutura de pagamentos em 2011. E os bancos lá foram em fila indiana e de mão estendida. A Caixa teve um aumento de capital de 750 milhões e ainda pediu um financiamento de 900 milhões; o BCP pediu 3000 milhões, o BPI 1500 milhões e o Banif teve um aumento de capital de 700 milhões subscritos pelo Estado e pediu mais 400 milhões.

O NOVO PODER POLÍTICO VAI TER DE LIDAR COM PINÇAS COM A BANCA, SOB PENA DE O ESTADO SER OBRIGADO A NACIONALIZAR ALGUMA OU ALGUMAS INSTITUIÇÕES DE CRÉDITO. EM QUALQUER CASO, 2016 SERÁ UM ANO EM QUE O SISTEMA BANCÁRIO PORTUGUÊS VAI SER SUJEITO A UM FORTE AJUSTAMENTO, COM REDUÇÃO DO NÚMERO DE INSTITUIÇÕES, DE PESSOAL E DE BALCÕES. A CRISE NÃO ACABOU

Até agora, o BPI foi o único que já pagou todo o empréstimo. O BCP ainda deve 750 milhões. O Banif ainda deve 150 milhões, mais os 700 milhões de capital injetados pelo Estado. E a CGD não devolveu nem um cêntimo dos 900 milhões que recebeu.

Se a estas situações juntarmos o caso do Novo Banco, que procura desesperadamente um comprador, que já recebeu 3900 milhões do Estado e ainda vai necessitar de um aumento de capital de pelo menos 1,4 mil milhões, temos que neste momento os contribuintes portugueses estão a suportar a banca em €7.800 milhões. E isto sem contar que o Montepio passa também por sérias dificuldades.

Digamos, pois, que dos bancos que contam verdadeiramente para o financiamento à economia, só o Santander/Totta (porque é a filial de um banco espanhol) e o BPI estão numa situação mais confortável internamente (porque externamente o banco liderado por Fernando Ulrich tem um sério problema em Angola, onde as regras impostas por Bruxelas o vão obrigar a alterações profundas no seu relacionamento com o mercado angolano). Todos os outros enfrentam sérias dificuldades, que resultam da debilidade da economia portuguesa e do severo ajustamento a que foi sujeita, a par, como referido, de novas regras mais duras de solidez e solvabilidade.

Quer isto dizer, portanto, que o novo poder político vai ter de lidar com pinças com este problema, sob pena de o Estado ser obrigado a nacionalizar mesmo alguma ou algumas instituições de crédito para estas não terem de fechar portas. Em qualquer caso, 2016 será um ano em que o sistema bancário português vai ser sujeito a um forte ajustamento, com redução do número de instituições, de pessoal e de balcões. A crise não acabou.

ALTOS

Neymar

Futebolista

O futebolista brasileiro Neymar, que atua no Barcelona, foi pela primeira vez escolhido para o lote de três finalistas que são candidatos à Bola de Ouro, que anualmente elege o melhor jogador do planeta. Lá estão Messi, que já ganhou o troféu quatro vezes, e Cristiano Ronaldo, três vezes.

BAIXOS

Montepio Geral

As eleições para a Associação Mutualista do Montepio, previstas para dia 2, estão envoltas em polémica, com quatro das listas a contestar a gestão de Tomás Correia e o processo eleitoral.

Sol

O jornal fundado há nove anos por José António Saraiva, ex-diretor do Expresso, vive atualmente uma crise profunda. Com a saída do acionista angolano, foi anunciada uma reestruturação profunda nos dois títulos até agora detidos pela Newshold, Sol e i.

Nuno Espírito Santo

Treinador de futebol

Foi despedido do Valência, depois de um conjunto de resultados negativos. Tinha feito uma excelente carreira antes no Rio Ave mas agora dá um passo atrás na sua promissora carreira.

Martim Silva