Opinião
João Vieira Pereira
Quem não Chora…
Não conheço António Chora. Mas conheço o seu trabalho. E principalmente o seu resultado. Vinte anos de paz social numa das maiores fábricas portuguesas, num dos maiores exportadores e um símbolo da depauperada industria portuguesa.
A Autoeuropa não é apenas um caso de sucesso no seio do grupo Volkswagen (VW). É um sinal de esperança. Desde o início serviu de cartão de visita para mostrar que era possível instalar industria neste canto, longe do centralismo europeu. Que a deficiência da nossa geografia estava mal avaliada. Que afinal não estávamos no fundo da Europa, mas sim, muito provavelmente no centro do mundo.
Com a Autoeuropa voltou-se a falar dos portos portugueses como eixo estratégico da economia, e da necessidade de caminhos de ferro eficientes no transporte de mercadorias. O porto de Setúbal tornou-se um centro de crescimento de uma península onde a crise era servida à mesa de famílias inteiras. Ao lado da fábrica da VW cresceram outras industrias que sonharam ser um cluster de elevado potencial.
Em 20 anos muito mudou na industrial automóvel mundial, mas a Autoeuropa nunca esteve perto de fechar. Para isso foi decisivo o facto da empresa ser uma das mais eficientes do grupo alemão. O que só foi possível porque havia uma comissão de trabalhadores que juntamente com a gestão da fábrica descobriam as melhores formas de resolver os problemas das duas partes. Para os alemães, que sempre tiveram uma tradição de participação de sindicatos e trabalhadores nas gestão das empresas, nada disto era novo. Para nós era uma lufada de ar fresco num ambiente onde os direitos dos trabalhadores eram argumentos políticos usados pelo PCP na busca da manutenção do seu poder dentro dos sindicados.
António Chora, que segundo a imprensa sempre teve ligações ao Bloco de Esquerda, foi o inimigo numero 1 do PCP na Autoeuropa. Contra essa inimizade respondeu com 20 anos de conquista de paz social que permitiu à fabrica ser o que é. Até hoje.
No dia 30 de Agosto tudo mudou. A greve da Autoeuropa, fomentada por um sindicato do PCP mudou para sempre a vida da empresa. Um punhado de pessoas com claros objetivos políticos, que na grande maioria das vezes são contraditórios com os dos trabalhadores, parou a produção. A demonstração de força mancha a vida desta unidade. E em vez de ajudar trabalhadores, famílias inteiras que dependem daquela fábrica, ameaça a sustentabilidade da mesma e até a criação de mais postos de trabalho.
O ditado popular diz que quem “não chora, não mama”, mas neste caso é mais provável que no final deste processo existam mais lágrimas do que sorrisos. Basta lembrar que a Opel na Azambuja fechou porque os sindicatos e a comissão de trabalhadores tiveram sempre uma atitude de intransigência, de tal modo que até parecia que preferiam a pré-reforma e as indemnizações à viabilização da fábrica
António Chora explica porquê numa entrevista hoje ao Negócios que vale a pena ler.
O ditado popular diz que quem “não chora, não mama”, mas neste caso é mais provável que no final deste processo existam mais lágrimas do que sorrisos. Basta lembrar que a Opel na Azambuja fechou porque os sindicatos e a comissão de trabalhadores tiveram sempre uma atitude de intransigência, de tal modo que até parecia que preferiam a pré-reforma e as indemnizações à viabilização da fábrica.
Existem limites às exigências da gestão, mas também às dos trabalhadores. O uso da greve é legal, mas os trabalhadores têm de estar cientes dos riscos, que no limite podem levar ao fecho ou à diminuição da atividade da Autoeuropa.