Opinião
Sobe & Desce
Ricardo Costarcosta@expresso.impresa.pt

Opinião

Ricardo Costa

O sinal errado de Sérgio Monteiro

Caso o Banco de Portugal esteja esquecido, Sérgio Monteiro ainda é secretário de Estado do Governo da República. E caso Sérgio Monteiro esteja esquecido, o Governo de que faz parte ainda está em funções. E caso as duas partes estejam esquecidas, um dos processos de venda de ativos que pior correu nos últimos anos foi o do Novo Banco. Começou torto e nunca se endireitou, a ponto de ter falhado sucessivamente numa estranha gestão de calendário que quase passava por cima da campanha eleitoral, à medida que, aquilo que parecia ser fácil e indolor para os bancos do sistema e para os contribuintes, se foi transformando num processo difícil e potencialmente muito caro. Sérgio Monteiro é um profissional à prova de bala e arranja emprego onde quiser. Por isso mesmo devia ter recusado esta tarefa. O bom senso ditava que seguisse a sua vida sem ir ajudar o Banco de Portugal a resolver um problema que nasceu com dedo político.

Quando se escreve sobre o Novo Banco, convém lembrar que não existia uma solução fácil nem óbvia para o problema. Quando o BES implodiu era muito difícil ao executivo de Passos Coelho ter feito outra coisa. O problema começa em dois momentos desse processo: a) em ter responsabilizado o Banco de Portugal por tudo, como se alguém pudesse acreditar nisso; b) em ter decidido contar à população que os destroços do BES no iam sair de borla, como se, uma vez mais, alguém pudesse acreditar nisso.

A chamada de Sérgio Monteiro vem confirmar aquilo que todos sabíamos, que este caso sempre teve uma gestão política

Essa dupla decisão política inquinou todo o processo e adiou um problema que este verão nos surgiu à frente em todo o esplendor. Com tantos especialistas e advisors (como agora de diz), ninguém conseguiu vender o banco. E isso aconteceu por duas razões. Porque o Banco de Portugal não esta tecnicamente preparado para isso e porque o Novo Banco não vale o que o pintam, tem enormes riscos de litigância e os testes de stress do BCE à perna, como, aliás, todos os bancos.

Ao chamar Sérgio Monteiro, um dos melhores secretários de Estado do governo cessante, o Banco de Portugal resolve um problema, porque a venda passa a estar nas mão de um verdadeiro profissional. Mas cria outro problema, de reputação política. A chamada de Sérgio Monteiro vem confirmar aquilo que todos sabíamos, que este caso sempre teve uma gestão política.

O sinal que Sérgio Monteiro dá ao país é errado. Se quisesse continuar na política, devia ter aceite o convite que lhe foi feito para ser ministro. Ou então, partir para a vida privada, onde tem o futuro merecidamente assegurado. Assim, fica a meio caminho, no melhor dos mundos para ele e o pior para nós, que no fim pagaremos sempre a conta.

ALTOS

Raif Badawi

Blogger saudita

Raif Badawi foi detido na Arábia Saudita em 2012. Dois anos depois foi condenado a dez anos de prisão. E a mil chicotadas. Sim, leu bem, chicotadas. Acusado de ter insultado o Islão nas suas publicações online na Rede Liberal Saudita. Agora foi galardoado com o Prémio Sakharov, em nome da liberdade de expressão.

Marco Rubio

Candidato Republicano às presidenciais nos EUA

Este filho de emigrantes cubanos ganhou terreno na luta pela nomeação Republicana na presidenciais dos Estados Unidos do próximo ano. O terceiro debate televisivo entre os candidatos de direita correu-lhe de feição e permitiu a Rubio apresentar-se como uma alternativa credível ao favorito Jeb Bush.

Baixos

Sérgio Monteiro

Secretário de Estado dos Transportes

Um dos mais ativos e dinâmicos secretários de Estado do Governo de Passos que amanhã deixa de existir, Sérgio Monteiro está de saída do Governo. E já tem novas funções: vai ser contratado pelo Fundo de Resolução da banca, com a finalidade de conseguir finalmente que a venda do Novo Banco vá por diante. Mas como bem escreve o Ricardo Costa nesta página, o facto de o novo lugar que vai ocupar não ser bem carne nem peixe, não se percebendo se é público ou se é privado, permite que sejam feitas críticas e considerações negativas.

Martim Silva