Onde vai Santana (e porquê)?
A zanga de Pedro Santana Lopes com o PSD não é nova. Há alguns anos que o ex-líder manifesta insatisfação com o seu partido de sempre. Apesar disso, as suas declarações à “Visão” são absolutamente surpreendentes. Porque passaram muito poucos meses sobre um Congresso em que, apesar de ter sido derrotado na corrida à liderança, terminou numa lista de aparente unidade com Rui Rio. E também porque há eleições legislativas dentro de um ano e as idas a votos são sempre momentos mais definidores.
Não conheço as razões profundas que levaram à zanga de Santana Lopes com o PSD, mas é duvidoso que se prendam apenas com o mal-estar interno no partido ou a forma de Rui Rio fazer oposição
Não conheço as razões profundas que levaram Santana Lopes a esta declaração, mas é duvidoso que se prendam apenas com o mal-estar interno no partido ou a forma de Rui Rio fazer oposição. Apostaria muito mais em razões ligadas a uma aparente reconstrução do centro-direita, provocada pelo pós-Passos, pela subida do CDS em Lisboa e pela viragem ao centro de Rui Rio.
Esta discussão não é nova no PSD mas ganhou muita tração nos últimos anos e ganha sempre espaço quando o partido está na oposição e os seus militantes e dirigentes têm dúvidas sobre a data do regresso ao poder. No fundo, é um espelho do debate que a esquerda fez (e faz), com a diferença de deter o poder através de um Governo minoritário do PS e de um acordo parlamentar.
Desde que chegou ao poder e, sobretudo, desde que a sua governação pareceu ter sucesso, o PS refreou muito essa discussão. Ao invés, o PSD mergulhou nela e todo o centro-direita acompanhou o debate, apesar do aparente contentamento do CDS, com uma líder reforçada e capaz de fazer oposição.
A questão mais complicada não é a discussão, é o que se segue. Porque Portugal tem um sistema partidário quase estático desde 1999 (quando nasceu o Bloco) e toda a reconfiguração política tem sido feita dentro do sistema. Somos uma exceção europeia? Sem dúvida. É por isso que ainda é mais curioso ver o que se segue.