FIFA

O Sepp sempre em pé

ARTISTA Blatter tem sempre alguma escondida na mão. FOTO MICHAEL BUHOLZER/GETTY

ARTISTA Blatter tem sempre alguma escondida na mão. FOTO MICHAEL BUHOLZER/GETTY

Sete altos executivos da FIFA foram detidos numa história que se junta a tantas outras sobre a corrupção na organização presidida por Blatter que está no poder desde 1998. Como? Com dinheiro.

TEXTO PEDRO CANDEIAS FOTO MICHAEL BUHOLZER/GETTY

No dia em que nenhum de nós cá andar, três espécies continuarão a vida delas como se nada fosse: o rato, a barata e a cabra. São sobreviventes.

Sepp Blatter pertence à terceira categoria: "Eu sou como um bode das montanhas. Sou imparável. Sigo, sigo e sigo", disse há dias. O presidente da FIFA tem formas estranhas de falar sobre ele e nem sempre encontra as melhores metáforas para o fazer. Já garantiu, por exemplo, que não é aquele tipo maquiavélico e vilão dos filmes que se senta num gabinete a cofiar "um gato persa extremamente caro". Devemos confiar em Sepp, porque de coisas caras e extremamente caras ele percebe - são estas que lhe permitem andar por cima, à superfície, quando tudo por baixo parece apodrecer a seus pés.

A pergunta que se coloca é como? Como é possível que Blatter consiga ser eleito e reeleito desde 1998 quando à FIFA se associam palavras como 'corrupção', 'lavagem de dinheiro', 'nepotismo' e outras que envolvem trocas sujas de dinheiro.

A resposta é óbvia: com dinheiro.

É que as eleições na FIFA são altamente democráticas e isso é altamente vantajoso para o seu presidente. Vejamos: são 209 membros, cada um tem o seu voto e conta tanto o 'x' das Ilhas Virgens americanas como o 'x' da Alemanha. O que Blatter faz é convencer as federações mais permeáveis (por regra, dos países mais pobres) de que ele é o homem certo, no lugar certo, mesmo que outros digam que ele está errado: cruzinha atrás de cruzinha, o suíço chega àqueles números suficientes para se manter no cargo.

E isso constrói-se através de uma cadeia de favores que envolvem, por exemplo, prémios. No último Mundial do Brasil, a FIFA encaixou 261 milhões de dólares de bónus e esse bolo foi partido em fatias iguais por todos os 209 membros - ora, as federações menos folgadas agradecem, porque um milhão é sempre um milhão e o senhor Blatter será sempre persona grata. Tudo legal.

O que é ilegal são os pagamentos por baixo da mesa. Nos bastidores, contam ao Expresso fontes próximas do processo eleitoral, é normal falar-se de envelopes dentro de travesseiros, de colégios de filhos de presidentes de federações pagos por Blatter, de relógios Hublot e de um sem número de facilidades que montam a teia da corrupção.

OS MUNDIAIS

O "Sunday Times" denunciou há quatro anos que as candidaturas vitoriosas da Rússia (2018) e do Qatar (2022) tinham sido compradas - alguns dos votos valiam 1,5 milhões de dólares, que vinham das mãos de um tipo chamado Mohamed Bin Hammam.

Este empresário qatari, bem relacionado com a família real do seu país, foi presidente da confederação asiática entre 2002 e 2011, ano em que foi afastado pela FIFA de todas as atividades relacionadas com o futebol quando se provou que tinha sujado as mãos no Mundial 2022. Blatter, claro, lavou as suas. E passou limpo da história.

Acontece que Bin Hammam fora, durante anos, o principal financiador de Sepp Blatter: emprestara-lhe o jato e dera-lhe os meios (vulgo, dinheiro) quando o helvético se candidatara em 1998 e 2002.

Em ambos os casos, falou-se de corrupção e de contas que não batiam certo. Ficou célebre uma conferência de imprensa de 2002 em que Michel Zen-Ruffinen, então n.º2 da FIFA, pegou num documento de 30 páginas que explicava que a gestão do suíço causara 100 milhões de dólares de prejuízo à FIFA.

Ao lado de Zen-Ruffinen estava Blatter que respondeu: "Isto é uma cilada montada em conluio com os tabloides ingleses para manchar a imagem do presidente."

Este golpe palaciano mediático correu mal para Zen-Ruffinen que foi demitido quando Blatter foi reeleito em 2002. Blatter nunca cai. É o Sepp sempre em pé.