Opinião
Nicolau Santosnsantos@expresso.impresa.pt
Sócrates está preso. Mas as suas políticas estão de regresso
Por estes dias cumprem-se quatro meses deste que José Sócrates está detido preventivamente no estabelecimento prisional de Évora, sob suspeita de corrupção, fraude fiscal e branqueamento de capitais. Enquanto o Ministério Público trabalha afanosamente para provar as acusações e levar o ex-primeiro-ministro a julgamento, eis que algumas das políticas que Sócrates lançou estão a ser recuperadas. Mas se está a pensar que é pelo PS engana-se. É mesmo pelo atual Governo.
Como se sabe, o atual Executivo encarniçou-se particularmente contra as energias renováveis, em particular a eólica, pelas rendas elevadíssimas que o Estado lhes estava a pagar. E vai daí o ex-ministro Álvaro Santos Pereira bateu-se galhardamente para reduzir em muitos milhões de euros essas rendas, o que, pelo menos parcialmente, conseguiu. Esperava-se, pois, que esta batalha, que levou inclusive à demissão do secretário de Estado da Energia de Álvaro Santos Pereira, continuasse a ser uma imagem de marca do Governo.
Infelizmente, para os acirrados críticos da energia eólica, o atual ministro do Ambiente é bem mais amigo das energias renováveis do que o seu antecessor e considera que o caminho do país para reduzir a sua dependência dos combustíveis fósseis e cumprir as metas estabelecidas pela União Europeia para a redução de emissões de CO2 e percentagem de eletricidade produzida por via renovável, é mesmo o de promover e apoiar a produção da energia verde.
Esta semana, durante a conclusão do projeto da Eneop, na Lourinhã, o ministro Jorge Moreira da Silva disse que vê Portugal como «grande fornecedor de eletricidade renovável para a Europa», sem que isso «onere em um cêntimo as tarifas dos portugueses». Mais: para o ministro entrou-se numa «nova fase do país» depois deste projeto, que criou uma nova fileira industrial em Portugal, o que não é nada despiciendo.
Em final de mandato, O ATUAL Governo retoma políticas que o ex-primeiro-ministro socialista lançou. Não há dúvida: Sócrates está preso mas as suas ideias andam à solta.
Ainda mal refeitos desta mudança na orientação política do Governo, eis que somos submergidos por um fortíssimo tsunami, vindo diretamente do Japão, onde o primeiro-ministro se encontra em visita oficial. Na sua ânsia de «vender» o país aos investidores nipónicos e seguramente influenciado por estar a participar numa conferência sobre «Smart Cities Smart Solutions», eis que Pedro Passos Coelho diz que “a área da mobilidade elétrica é incontornável” para os dois países, sublinhando o “forte investimento do Governo japonês” no setor e os “importantes avanços realizados ao nível da inovação, da indústria de produção destes veículos e dos desenvolvimentos já atingidos, nomeadamente no segmento das baterias”.
Ora c’os diabos! Não foi este Governo que acabou com o projeto da Renault/Nissan fabricar baterias para carros elétricos, cuja primeira pedra da nova fábrica tinha sido lançada por José Sócrates? E o projeto das «smart cities», apoiado pelo anterior Governo e liderado pela EDP, não foi igualmente votado ao abandono pelo atual Executivo? Como diria Freitas do Amaral, é preciso topete!
Voltemos, pois, ao princípio. Partindo da constatação óbvia que o país tem um problema de dependência energética, Sócrates decidiu lançar um conjunto de incentivos à instalação de empresas produtores de energias renováveis, em particular a eólica, que foi claramente bem sucedido (se o Estado pagou mais do que devia é outra discussão). E olhando para o futuro, Sócrates viu uma oportunidade para tornar Portugal num dos países líderes da mobilidade elétrica, através do lançamento de estações de carregamento para os carros elétricos por todo o país, bem como da produção de baterias para esses veículos.
E o que fez o atual Governo? Travou às quatro rodas em todas essas áreas, diabolizando os investimentos que já tinham sido efeitos ou estavam projetados. Agora, em final de mandato, retoma políticas que o ex-primeiro-ministro socialista lançou. Não há dúvida: Sócrates está preso mas as suas ideias andam à solta.
ALTOS
Teixeira dos Santos
Ex-ministro das Finanças
O ministro das Finanças de José Sócrates e o que chamou a troika para Portugal continua a manter o seu crédito intacto. Ou, pelo menos, relativamente intacto. Como o comprova o facto de ter sido escolhido para presidir ao Montepio.
Manuel Sebastião
Ex-Presidente da Autoridade da Concorrência
Depois de cinco anos a liderar a Autoridade da Concorrência, Manuel Sebastião foi proposto pelos acionistas da REN, Redes Energéticas Nacionais, para integrar o próximo conselho de administração da empresa. Na REN vai ter a tarefa de liderar a comissão de auditoria.
BAIXOS
Maria Luís Albuquerque
Ministra das Finanças
A culpa da lista VIP é dos senhores que estão à frente da Autoridade Tributária. Responsabilidades políticas? Nem pensar. As explicações dadas pela ministra das Finanças ao final de três semanas de polémica em torno do assunto sabem a pouco. A muito pouco.
Martim Silva