Opinião
Sobe & Desce
Pedro Santos Guerreiropsg@expresso.impresa.pt

Opinião

Pedro Santos Guerreiro

O melhor está sempre para vir

Pela boca não morre só o peixe, morre também o político. Quase sempre. Porque nesta política que se fez a si própria vigiada pela comunicação, a forma prevalece. António Costa foi apanhado (é o termo) a dizer o que não queria: que o país está melhor. Só António Costa é que está pior.

Vamos lá ver: a frase não tem importância nenhuma mas o exacerbamento da sua amplificação vai torná-la politicamente relevante. Querendo agradecer aos “amigos” chineses, que “são para as ocasiões”, António Costa pôr a bandeira de Portugal à frente e, pela pátria, disse que o país está “bastante diferente do que estava há quatro anos”. E agora vai ter de encontrar uma explicação para dizer que percebemos todos mal. E essa explicação tem de ser melhor do que a que o PS já deu: que perante estrangeiros se defende o país. Isso é inteiramente verdade: perante estrangeiros devemos defender o país. Mas não devemos mentir. E como Costa dirá que não mentiu, então ele acredita mesmo que o país está melhor do que estava. E portanto esclarecerá que se referia apenas a um aspeto em concreto (o investimento direto estrangeiro, provavelmente), o que aliás é verdade. Mas ninguém vai ouvir.

A política é assim, viciada naquela fórmula de que “o que parece é”, talvez a frase atribuída a Salazar que mais lhe sobreviveu no nosso quotidiano, aliás repetida - e praticada - por aqueles que têm repulsa pela figura.

Não é por acaso que os políticos-comentadores criticam sempre “erros de comunicação” quando falam do governo. Ainda este fim de semana assim foi: sobre a colagem do governo à Alemanha durante a negociação com a Grécia, o problema identificado por Marques Mendes e por Marcelo Rebelo de Sousa foi “de comunicação”. Assim mesmo, sem despudor: o que existe é o que aparece, e a forma como aparece. Esta é a mesma lengalenga da “narrativa”, da aparência, da perceção, do título da notícia.

A política não é a mesma coisa que comunicação. A má comunicação estraga grandes “produtos”, mas uma boa comunicação pode ser um embrulho luzidio para as maiores perfídias políticas

Esta infantilização da política é promovida pelos políticos eles mesmos, que assim constroem as armadilhas em que eles próprios estraçalham as pernas mais cedo ou mais tarde. Quem deu a “notícia” da frase de António Costa hoje? Não foi nenhum jornalista, foi um político: Nuno Melo. Pois.

Na primeira entrevista que deu como primeiro ministro, depois das primeiras eleições que venceu, em 2005, José Sócrates criticou o Expresso pela manchete: “O pior está para vir”. Na sua opinião, o que quisera dizer foi que “o pior está sempre para vir”, como se fosse um aforismo, ao passo que a frase autonomizada como manchete parecia indicar que o governo preparava más notícias para os portugueses. Este exemplo é meramente exemplificativo da força que têm as mensagens e do que as frases significam para os políticos. O que passou ao lado foi se o pior estava de facto para vir ou não. Hoje sabemos: estava. O pior viria depois. Sócrates disse a verdade, o Expresso relatou a verdade, mas ela era inconveniente enquanto facto político - enquanto manchete.

Também agora, a notícia não é se Portugal está melhor, mas a traição de António Costa ao seu próprio discurso. A forma em vez de conteúdo. Costa ainda há de citar Luís Montenegro: “A vida das pessoas não está melhor mas o país está muito melhor”.

A política não é a mesma coisa que comunicação. A má comunicação estraga grandes “produtos”, mas uma boa comunicação pode ser um embrulho luzidio para as maiores perfídias políticas. Se aceitamos todos que a política é isto, embrulho e frases, então a política será isto, embrulho e frases. Eles, os políticos, parecem já ter aceite. E portanto vamos ter agora um embaraço em vez de uma discussão.

O pior está sempre para vir?

ALTOS

Maria Conceição

Maratonista

A portuguesa tornou-se na mulher mais rápida da história a completar maratonas oficiais em todos os continentes. E fá-lo por razões humanitárias. Chapeaux.

Yanis Varoufakis

Ministro das Finanças da Grécia

O ministro das Finanças grego e o governo do seu país tiveram de recuar num conjunto de propostas e promessas eleitorais para garantir o financiamento ao seu país nos próximo meses. Isto é um recuo claro. Mas, ao mesmo tempo, Varoufakis e companhia conseguiram um balão de oxigénio e mais tempo para respirar.

BAIXOS

Joana Marques Vidal

Procurador-Geral da República

As entrevistas dos principais responsáveis pela condução da política de justiça em Portugal continuam a ser de uma candura assinalável. A PGR, em entrevista ao Público e à Rádio Renascença, veio dizer, entre outras coisas, que há uma rede que utiliza o aparelho do estado para realizar atos ilícitos. Todos ficamos mais descansados quando alguém com as responsabilidades de um Procurador-Geral da República nos vem dizer isto. Agora aguardamos pelas consequências.

Martim Silva