Opinião
Ricardo Costa
O que falhou em Barcelona?
Já passaram dias suficientes sobre a o ataque de Barcelona para se perceber que algumas coisas podiam ter corrido de outra forma. Um ataque com um automóvel conduzido por um lobo solitário, radicalizado à pressa, é impossível de prever ou de evitar. Mas este não foi levado a cabo por um lobo solitário, nem por alguém que se radicalizou num ápice. Havia uma célula e, sobretudo, um imã com referências pouco ou nada abonatórias.
É profundamente injusto tentar encontrar entre as autoridades para ataques bárbaros. Mas na ressaca dos atos terroristas que se vão somando Europa fora, surgem sempre as mesmas perguntas: houve algum aviso de policias ou serviços de informação estrangeiros?; havia ou não pessoas referenciadas?; os vários serviços policiais estão coordenados e a partilhar toda a informação?
Em Barcelona, as perguntas surgiram ou vão surgindo. E já se percebeu que a coordenação entre diversas policias não é a melhor, que houve avisos externos quer sobre a possibilidade de um ataque quer sobre o potencial de um imã que tinha estado na Bélgica durante vários anos e que a forma como foi o principal suspeito foi capturado e abatido podia ter sido diferente, o que era fundamental para a investigação.
É claro que depois de tudo o que aconteceu isto é o que interessa menos. E que nunca devemos esquecer que policias, militares e serviços de informação são verdadeiros heróis, quase sempre anónimos, da luta contra o terrorismo, abortando ataques de que nunca chegamos a ouvir falar e combatendo os poucos que são levados a cabo. Mas é muito importante que na ressaca das tragédias se perceba o que correu mal e se tirem lições.
As informações que os jornais espanhóis vão divulgando sobre o processo de radicalização dos envolvidos, a atuação do imã de Ripoll, os avisos que existiam da polícia belga e toda a forma de preparação, levam a que se perceba que algumas coisas falharam. Não para encontrar culpados (esses estão mortos ou presos), mas para evitar que se repita com tanta facilidade e se previna o pouco que se consegue prevenir.