Opinião
Ricardo Costarcosta@expresso.impresa.pt
Santos Silva não sabe fazer contas
Parece que uma parte do PS entrou em comoção com a candidatura presidencial de Henrique Neto. É normal, Neto é militante e não costuma poupar nos adjetivos para criticar as lideranças partidárias. Mas o que não é normal é que alguém pense que uma candidatura destas - ou outras que venhama surgir - diminuem as hipóteses de uma vitória de um qualquer candidato de esquerda. Foi, por exemplo, o argumento que Augusto Santos Silva usou num lamento no Facebook. Santos Silva não sabe fazer contas: em eleições maioritárias a duas voltas, o número de candidatos é pura e simplesmente indiferente.
Vamos então às contas: qual foi a vitória mais fabulosa que o PS teve em Presidenciais? Isso mesmo, Soares em 1986. E quantos candidatos tinha a esquerda nessa campanha? Quatro: Ângelo Veloso (que desistiu), Maria de Lurdes Pintasilgo, Salgado Zenha e Mário Soares. O que é que as contas nos dizem é que a dispersão não beneficiou Freitas do Amaral - que ficou a três pontos da maioria - e que permitiu a Soares fazer o aggiornamento a tempo da segunda volta.
É claro que Augusto Santos Silva pode argumentar que nas duas últimas eleições, a esquerda também se dividiu e perdeu. Mas o que aconteceu nessas duas eleições foi a ausência de um candidato de esquerda capaz de fazer frente a Cavaco Silva. A primeira dessas duas eleições é exemplar: contra Cavaco concorreram Garcia Pereira, Francisco Louçã, Jerónimo Sousa, Mário Soares e Manuel Alegre!
Santos Silva não sabe fazer contas: em eleições maioritárias a duas voltas, o número de candidatos é pura e simplesmente indiferente
Não foi nem por falta de nomes fortes nem de escolha, foi por o centro votar maioritariamente Cavaco Silva. E quatro anos depois, a mesma coisa. E houve ainda outra razão, que Augusto Santos Silva conhece demasiado bem: a candidatura de Mário Soares, que o PS promoveu, foi um desastre pessoal e político e, nas últimas presidenciais, a invenção de Fernando Nobre (com dedo de Soares) foi outra catástrofe pessoal e política.
Henrique Neto não facilita nem dificulta nenhuma candidatura “oficial” do PS. Pode até ir buscar eleitores que seriam de Marinho Pinto, Paulo Morais e afins. E pode também ser um incómodo. Mas as contas que o PS tem que fazer são outras: quem tem capacidade de ganhar uma eleição e ser um bom presidente, eleito à primeira ou à segunda volta. Essas são as contas que têm que ser feitas.
ALTOS
Fernando Gomes
Presidente da Federação Portuguesa de Futebol
O Presidente da Federação Portuguesa de Futebol candidatou-se a um lugar no restrito Comité Executivo da UEFA e conseguiu estar terça-feira ser eleito, ao obter o voto favorável de 48 das 54 federações nacionais que compõem o organismo que manda no futebol europeu. Gomes é o quarto português a integrar este organismo, depois de Caza-Ribeiro, Silva Resende e Gilberto Madaíl.
Rafael Marques
Jornalista angolano
Este não é seguramente um dia fácil para este jornalista e ativista angolano Rafael Marques. Por isso mesmo, merece toda a solidariedade, manifestada de todas as formas possíveis. Rafael Marques começa hoje a ser julgado em Luanda por denúncia caluniosa, depois de em 2011 ter publicado um livro, de nome "Diamantes de Sangue", que denunciava alegados abusos dos Direitos Humanos na região diamantífera da Lunda-Norte, supostamente praticados por militares angolanos e empresas privadas. O processo a Rafael Marques foi interposto por sete generais angolanos e duas empresas de diamantes.
BAIXOS
Vítor Constâncio
Vice-presidente do BCE
Antes de ser dirigente do Banco Central Europeu, Vítor Constâncio foi longamente o governador do Banco de Portugal. Por causa disso, os deputados da comissão parlamentar de inquérito ao caso BES enviaram-lhe um conjunto de perguntas, a que Constâncio agora respondeu, por escrito. Para dizer, entre outras coisas, que só tomou conhecimento dos problemas do BEs que conduziram à sua resolução quando o assunto se tornou público em 2014. Afinal de contas, uma declaração nada surpreendente tendo em conta que já quando era governador muitas vezes não dava pelo que se estava a passar, em bancos como o BPN.
Martim Silva