Opinião
Sobe & Desce
Pedro Santos Guerreiropsg@expresso.impresa.pt

Opinião

Pedro Santos Guerreiro

Ganhámos todos, perdemos todos

É difícil justificar estes quase seis meses de negociações de língua afiada e de faca na liga. Destruiu-se de mais para construir tão pouco. Sim, a Grécia parece agarrar-se ao euro mas esse já era o ponto de partida. No ponto de chegada estão ainda e sempre formas de austeridade. No final sobem os impostos. No final não há sequer um final. Há mais tempo, dinheiro, austeridade, há ainda falta de estímulos ao crescimento e uma dívida insustentável.

A melhor notícia da noite passada foi a confirmação da maioria das previsões: a maioria das ameaças à saída da Grécia do euro eram mais temerárias que temíveis. O Syriza recuou um milhão de quilómetros, Bruxelas sacou do livro de cheques, Portugal respirou de alívio, Merkel não carregou no botão de ejeção. Todos estavam a encenar a sua determinação. Todos menos o FMI: quanto mais dívida é assumida pela União Europeia, menos dinheiro tem o Fundo empenhado. E mais risco fica mutualizado na Europa.

No fundo, foi simples. O Syriza conseguiu menos cortes de pensões do que se previa inicialmente e trocou parte deles por aumentos de contribuições e de impostos, essencialmente sobre empresas, fortunas e consumidores. Como escreveu David Dinis esta manhã no Observador, nós conhecemos bem esta trajecto. Conhecemos-lhe o nome e tudo: é um enorme aumento de impostos.

Atenas e Bruxelas estão a construir um acordo. Deixando um rasto de feridas.

O ponto de chegada não justifica os quase seis meses de acrimónia política e tensão social porque entretanto os capitais voaram da Grécia, houve uma corrida compassada aos bancos, as receitas fiscais caíram a pique.

Nesta primeira ronda do acordo, o Syriza perdeu e se calhar isso até era necessário. Os países da União Europeia precisam de mostrar às suas opiniões públicas que não cederam. Mas falta uma segunda ronda negocial, que liberte a Grécia da irredutibilidade do desemprego e da recessão. E nessa ronda, os gregos têm de ganhar.

A Europa respirou hoje mas não foi um alívio, foi oxigenação. Foi vir à tona para voltar a submergir. Está a evitar-se a tragédia que seria ter Grécia fora do euro mas continuamos no estertor de ter a Grécia dentro do euro. Não basta não ter alternativa. Nunca bastou. A não ser para perder tempo a ganhar tempo.

ALTOS

Jorge Sampaio

Ex-Presidente da República

Pela primeira vez as Nações Unidas atribuíram o Prémio Nelson Mandela. E na primeira vez que o prémio é entregue, é escolhido um português, Jorge Sampaio (além de uma oftalmologista da Namíbia), para o receber. Pelo seu trabalho e dedicação em prol da humanidade e pelo legado em matéria de reconciliação, transição política e transformação social.

BAIXOS

Alexis Tsipras

Primeiro-ministro grego

Ele há empregos que não são mesmo nada fáceis. Depois de meses e meses de avanços e recuos, e de por várias vezes a Grécia parecer novamente à beira do precipício, eis que ontem finalmente surgiram sinais de esperança na negociações entre gregos e parceiros internacionais. Mas mal isso acontece, eis que é a vez de o clima político pegar fogo na Grécia, com ameaças à própria coligação e à maioria liderada pelo Syriza... pelas alegadas cedências aos credores europeus e prolongamento da austeridade.

Paula Teixeira da Cruz

Ministra da Justiça

A polémica entre a ministra e as associações de juízes e de magistrados do Ministério Público está ao rubro, por causa do novo estatuto dos magistrados, com os representantes destes setores a avançarem mesmo para um contundente corte de relação com a responsável da tutela. Um bico de obra para Paula Teixeira da Cruz resolver a poucos meses do final do mandato.

Martim Silva