EDUCAÇÃO

Cursos vocacionais no secundário triplicam no próximo ano

PRÁTICA Os cursos vocacionais começaram por ser experimentados por 13 escolas básicas em 2012/13. Cada curso tem de incluir a prática simulada de três ofícios. Jardinagem é um deles FOTO TIAGO MIRANDA

PRÁTICA Os cursos vocacionais começaram por ser experimentados por 13 escolas básicas em 2012/13. Cada curso tem de incluir a prática simulada de três ofícios. Jardinagem é um deles FOTO TIAGO MIRANDA

O número de alunos nestas formações mais práticas, criadas há três anos, pode ultrapassar os 30 mil no próximo ano letivo. Maioria dos cursos funciona no ensino básico

TEXTO ISABEL LEIRIA

Os cursos vocacionais, criados pelo ministro da Educação para dar resposta a alunos repetentes ou mais interessados em formações mais práticas, vão continuar a crescer no sistema de ensino. Só no caso do secundário, a oferta deve mais do que triplicar, passando das 96 turmas que estiveram em funcionamento este ano para cerca de três centenas em 2015/16.

Os números são ainda provisórios, porque as matrículas estão a decorrer, explica o Ministério da Educação (ME). Mas, de acordo com as listas já conhecidas, há 292 cursos vocacionais do secundário aprovados ou aprovados condicionalmente, a que se juntam mais duas dezenas em análise.

Quanto ao ensino básico, que concentra a maioria da oferta, os números deverão manter-se. Em 2014/15 funcionaram 1075 turmas, frequentadas por mais de 22 mil alunos.

Dar resposta aos mais desmotivados

Tudo somado, contabiliza o ME, os cursos vocacionais no básico e no secundário abrangeram este ano letivo mais de 27 mil alunos, podendo o número ultrapassar agora os 30 mil, à custa do aumento do número de turmas no secundário.

A lista de formações no secundário é variada e vai desde o curso de Técnico de Apoio à Gestão Desportiva ao de Mecatrónica Automóvel, passando pelos de Informação e Animação Turística, Vendas ou Esteticista-Cosmetologista. Em comum têm o facto de quase metade do curso ser passado em estágio e implica uma articulação com as empresas que garantem os estágios.

Dar resposta aos alunos mais desmotivados ou menos interessados no ensino mais académico, garantir uma forma mais eficaz de assegurar o cumprimento da escolaridade obrigatória (atualmente todos os jovens têm de estudar até aos 18 anos) e formar profissionais em função das necessidades das empresas são os principais objetivos que Nuno Crato pretende atingir com os cursos vocacionais.

Cinco mil empresas envolvidas

O ponto mais polémico reside no ensino básico, com a possibilidade de os alunos serem encaminhados para esta via profissionalizante (a mudança para a via geral é possível, mas complicada) logo a partir dos 13 anos e no 2º ciclo do ensino básico (5º e 6º anos), desde que já tenham chumbado duas ou mais vezes.

Comparando com outras vias alternativas criadas por anteriores governos, como os cursos de educação e formação, os vocacionais distinguem-se por anteciparem a idade de quem se pode inscrever (dos 15 para os 13) e por implicarem maior contacto com o mundo profissional. E vão dando equivalência ao 2º e 3º ciclos do básico e ao secundário.

No ensino básico, e tratando-se de menores que não têm idade legal para trabalhar, a componente prática faz-se através de um primeiro contacto com três ofícios diferentes, simulados na escola ou em empresas. No secundário, a articulação com uma companhia deve ser mais forte - há já cerca de cinco mil empresas envolvidas, assegura o Ministério.

Experiência-piloto multiplica-se sem avaliação

Nuno Crato tem-se empenhado pessoalmente em defender esta oferta e hoje, quarta-feira, assina mais um protocolo com a EDP para garantir o apoio da empresa a três novos cursos de Técnico de Redes Elétricas. A EDP colabora na formação das componentes mais técnicas e práticas e promove estágios para os alunos.

APOSTA O ministro da Educação é um forte defensor do reforço dos cursos profissionalizantes no ensino básico e secundário FOTO LUÍS BARRA

APOSTA O ministro da Educação é um forte defensor do reforço dos cursos profissionalizantes no ensino básico e secundário FOTO LUÍS BARRA

“O número de empresas que se têm associado a estes cursos tem vindo a crescer. Entre estas, várias mostram-se interessadas em assinar protocolos de forma a garantir uma maior sustentabilidade de cursos em sectores de atividade relevantes ao desenvolvimento económico do país”, garante o Ministério da Educação em comunicado.

Mas a eficácia ou o sucesso destes cursos, criados em 2012/13, estão longe de ser uma certeza. Pelo menos, nunca foram medidos. Apesar de manterem o carácter de “experiência-piloto”, nunca foi feita uma avaliação prévia a esta expansão. E a única que existe – um inquérito às 13 escolas que os iniciaram, em 2012/13 – nem sequer foi positiva.

Em Março de 2015, questionado pelo Expresso, o ME garantiu já ter “solicitado uma avaliação”, que se encontrava então em “fase de conclusão”. Esta semana, perante a pergunta sobre a existência de alguma avaliação, a questão ficou sem resposta.