Greve
Trabalhadores das grandes superfícies param no Natal para lutar por salário de €653
Salário atual em topo de carreira é de €626 brutos em Lisboa, no Porto e em Setúbal e de €585 no resto do país. Greve deste fim de semana afeta hiper e supermercados, além de superfícies como a FNAC. Saiba como a paralisação o pode afetar
Texto Marta Gonçalves Fotos Tiago Miranda
Estamos no sector que gera mais homens ricos no país e, no entanto, para os trabalhadores só gera salário mínimo.” Este é um dos argumentos apresentados pelo Sindicato do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP) para a marcação de uma greve em pleno frenesim natalício: os trabalhadores decidiram paralisar neste 23 e 24 de dezembro para exigirem a negociação salarial.
Um dos objetivos é conseguir, por exemplo, que os operadores de supermercado e de armazém tenham um ordenado de pelo menos €653 brutos em topo de carreira (implica pelo menos oito anos de antiguidade no serviço). Célia Lopes, dirigente do CESP, explica ainda outra das pretensões é “igualar os valores pagos, quer por região quer por função”. Neste momento, quem trabalha em Lisboa, no Porto e em Setúbal ganha mais €41 que no resto do país.
Todos os operadores de supermercado e de armazém das cadeias grossistas são regulados pela tabela salarial que está em discussão entre patrões e sindicatos. “Se olharmos para o universo de filiados do CESP, que são cerca de 100 mil, esta negociação afeta entre 75 mil a 80 mil funcionários”, precisa Célia Lopes, acrescentando que os restantes são chefias e pessoal de administração com ordenados superiores.
Outra das exigências dos sindicatos passa por manter o valor pago pelo trabalho suplementar e trabalho nos feriados. Segundo o CESP, os patrões propuseram uma redução destes montantes de forma a satisfazerem o pedido do aumento salarial. “Horários regulados, contra o banco de horas, pelo direito à conciliação da vida profissional com a vida pessoal e familiar”, reivindicam ainda os sindicatos na nota de pré-aviso de greve divulgada.
Além desta paralisação, está ainda marcada para esta sexta-feira greve do pessoal de armazéns e logística, o que pode afetar ao longo dos próximos dias as reposições nas prateleiras das zonas comerciais. Entretanto, também o Sindicato dos Trabalhadores e Técnicos de Serviços, Comércio, Restauração e Turismo (SITESE) anunciou esta quinta-feira que vai juntar-se ao protesto.
“As greves realizam-se quando as empresas podem sentir os efeitos, não são marcadas para penalizar as pessoas. Não vamos fazer greve a 25 de dezembro porque os supermercados estão fechados. Não se trata de uma atividade que salvaguarda a vida de alguém. Os clientes vão ter de esperar mais, mas os trabalhadores têm direito à luta”, sustenta Célia Lopes.
Os efeitos da paralisação
Na prática, de que forma é que os clientes vão ser afetados pela greve, numa fase de grande consumo motivado pela ceia e respetiva festa natalícia? Certamente mais tempo à espera e menos produtos nas prateleiras. Este é o cenário descrito ao Expresso pelo sindicato, que não acredita que a paralisação obrigue ao encerramento das grandes superfícies comerciais e especializadas (como por exemplo, FNAC e Decathlon, cujos trabalhadores também são abrangidos por estas reivindicações).
“Em alguns locais de trabalho eventualmente poderá acontecer o encerramento, em algumas lojas de proximidade. Não acredito que se fechem as portas nos hipermercados. Em greves anteriores registamos o fecho de lojas mais pequenas do Dia/Minipreço”, diz Célia Lopes, lembrando que as grandes superfícies dispõem de várias caixas automáticas e produtos embalados, o que facilitará o funcionamento das lojas.
Ao Expresso, a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), que representa quase todas as grandes superfícies comerciais, lamenta que a greve aconteça enquanto decorrem as negociações. Garante ainda que “estão asseguradas todas as condições para que os consumidores portugueses possam aceder a todos os serviços habitualmente prestados nesta época festiva pelos hipers, supermercados e lojas de retalho não alimentar/especializado dos associados da APED”.