LIGA DOS CAMPEÕES

Contenham o entusiasmo: ganhar 2-0 em casa é normal para o Bayern

'HERMANOS' Julen Lopetegui e Pep Guardiola trocaram graças e elogios antes e depois da 1ª mão, mas um deles ficará sem graça depois da 2ª mão, amanhã (19h45, TVI) FOTO JOSÉ COELHO/EPA

'HERMANOS' Julen Lopetegui e Pep Guardiola trocaram graças e elogios antes e depois da 1ª mão, mas um deles ficará sem graça depois da 2ª mão, amanhã (19h45, TVI) FOTO JOSÉ COELHO/EPA

Foi impossível refrear a euforia depois da vitória estrondosa do Porto no Dragão (3-1), mas até o adepto mais otimista tem de respirar fundo depois de ver os números do Bayern em Munique: só não marcou dois golos em três dos 20 jogos em casa.

TEXTO MARIANA CABRAL

Sabe quem é Larry David? Não? Eu explico: é um humorista norte-americano, careca e meio sisudo, que criou a série “Seinfeld”, juntamente com (o mais conhecido) Jerry Seinfeld. Mas o que interessa agora para o caso é a outra série que David criou e protagonizou durante vários anos: “Curb Your Enthusiasm”, que é como quem diz “contenham o entusiasmo”.

Larry David gosta de ser desmancha-prazeres perante quem o irrita e o internacional alemão Thomas Müller, apesar de não ser careca nem humorista, também: “Precisamos de marcar dois golos e não sofrer nenhum. Se vencermos 2-0 não será nenhum milagre. Claro que é possível”, disse na antevisão do jogo.

A confiança do avançado do Bayern de Munique para a 2ª mão dos quartos de final da Liga dos Campeões substituiu a azia da derrota na 1ª mão, quando Müller se queixou que o Porto tinha jogado com um “autocarro” à frente da baliza (só a defender, portanto), uma declaração tão descabida quanto a exibição apagada do internacional alemão - até Guardiola disse que “sabia que o Porto ia pressionar alto”.

GOLEADOR Thomas Müller já leva cinco golos em sete jogos na Champions este ano, mas nenhum deles foi marcado no Dragão, onde esteve escondido do jogo FOTO MIGUEL VIDAL/REUTERS

GOLEADOR Thomas Müller já leva cinco golos em sete jogos na Champions este ano, mas nenhum deles foi marcado no Dragão, onde esteve escondido do jogo FOTO MIGUEL VIDAL/REUTERS

Mas, hoje, Müller até tem alguma razão em armar-se em Larry e estragar a euforia portista (ontem notória nos milhares de adeptos que foram ao aeroporto Sá Carneiro apoiar a equipa antes da partida para a Alemanha). É que os números do Bayern de Munique no Allianz Arena são, à falta de melhor eufemismo, assustadores.

Em 20 jogos em casa (Bundesliga, Liga dos Campeões, Taça da Alemanha e Taça Telekom), o Bayern somou dezassete vitórias, dois empates e uma derrota, com 60 golos marcados e oito sofridos.

Se estes números já são pouco simpáticos para o Porto, pior é quando se procuram os jogos em que o Bayern não tenha marcado dois golos - os tais necessários para amanhã aos alemães darem a volta à eliminatória. Foram apenas três: um empate com o Schalke 04 (1-1) e uma vitória contra o Leverkusen (1-0), ambos para a Bundesliga; e uma vitória perante o Manchester City (1-0), para a Liga dos Campeões.

Nos restantes jogos, o Bayern marcou sempre dois ou mais golos, com destaque para as goleadas contra o Hamburgo (8-0), contra o Shakhtar Donetsk (7-0) e contra o Werder Bremen (6-0). Ah, e os alemães ainda não sofreram golos em casa na Champions.

SUPER HOMEM “Jackson foi infiltrado [para as dores da lesão] e fez um esforço sobre-humano”, disse Guardiola. Infiltrado ou não, o goleador do Porto tem tarefa difícil em Munique FOTO RAFAEL MARCHANTE/REUTERS

SUPER HOMEM “Jackson foi infiltrado [para as dores da lesão] e fez um esforço sobre-humano”, disse Guardiola. Infiltrado ou não, o goleador do Porto tem tarefa difícil em Munique FOTO RAFAEL MARCHANTE/REUTERS

Calma, Larry. Mesmo assim, nem tudo é mau. A semana em Munique foi atípica, com os adeptos a criticarem a exibição no Dragão (o pior foi Franz Beckenbauer: “Dante tem de controlar a bola. Se fosse da Islândia ou do Polo Norte diria tudo bem, ele ainda está com as botas de esqui calçadas. Mas assim foi horrível”) e o médico Hans-Wilhelm Müller-Wohlfahrt, no clube há mais de 30 anos, a apresentar a demissão por “quebra de confiança” na relação com Guardiola.

E, pegando novamente nos números, há que recordar as meias-finais da Liga dos Campeões do ano passado, quando o Real Madrid foi a Munique com a vantagem de apenas um golo. Os alemães também tinham a moral em alta nos jogos em casa, mas acabaram por perder, de forma traumática: 0-4.

“Não podemos entrar em campo nervosos, fazer um jogo só para a frente, jogar como kamikazes”, disse Müller, provavelmente recordando esse mesmo jogo com os merengues. “Ainda temos todas as oportunidades de passar, mas temos que mostrar mais garra e jogar de forma diferente, mais inteligente, do que jogámos no Porto”.

FÉ “Aprendo sempre em momentos de grandes desafios e é preciso paixão no futebol para superar desafios como este”, disse Guardiola. O resultado pode mudar, mas a filosofia é sempre a mesma: ter a bola para mandar no jogo FOTO MIGUEL VIDAL/REUTERS

“Aprendo sempre em momentos de grandes desafios e é preciso paixão no futebol para superar desafios como este”, disse Guardiola. O resultado pode mudar, mas a filosofia é sempre a mesma: ter a bola para mandar no jogo FOTO MIGUEL VIDAL/REUTERS

Pep Guardiola já vai poder contar com Bastian Schweinsteiger, mas Ribéry ainda está dúvida e é praticamente certo que Robben, Alaba, Javi Martinez e Benatia não jogarão. Bom para o Porto? Sim, mas Julen Lopetegui também não vai poder contar com os laterais Danilo e Alex Sandro.

“Aqui é como no Barcelona, no Real Madrid. O clube quer conquistar todos os títulos em que está envolvido, não chega ser campeão alemão. Estou consciente disso, e gosto de lidar com essa situação. Mesmo tendo menos jogadores do que o habitual, gosto de estar nesta posição”, disse o treinador espanhol. Pudera. Depois do (decisivo) jogo de amanhã, o Bayern pode ser campeão alemão já este fim de semana, uma vez que tem mais doze pontos do que o Wolfsburg, quando faltam cinco jornadas para o final do campeonato. Pelo menos a Bundesliga já nem o Larry lhes tira. E a Champions, Porto?