Opinião
Pedro Santos Guerreiropsg@expresso.impresa.pt
207 mil compromissos
O PS já não promete, compromete; mas ainda não move, promove. Para António Costa, economia é Mário Centeno e para Mário Centeno economia é emprego. A precisão do número (com)prometido - 207 mil empregos em quatro anos, assim mesmo, sem arredondamento – mostra ainda sem demonstrar que o PS trocou o simples “powerpoint” por um sofisticado modelo econométrico. Na escala desta escola, antes dos milhões e dos milhares vêm os centenos.
É indisputável que um modelo econométrico em si mesmo merece credibilidade. Paradoxalmente, o PS recorre portanto às mesmas ferramentas que os políticos chamam de tecnocráticas e que são usadas pelo FMI, pelo Banco Central Europeu, pelo Banco de Portugal (onde, precisamente, Mário Centeno trabalha) e, pasme-se com a ironia, por economistas como Vítor Gaspar.
O uso e abuso da econometria não significa a diluição da política, claro. Basta ver como este programa do PS é, do ponto de vista macroeconómico, radicalmente diferente do da coligação PaF: um persegue políticas de procura, outro prossegue políticas de oferta, o que numa linguagem inaceitavelmente prosaica poderia querer dizer que um “dá” dinheiro aos agentes económicos para que invistam, consumam e portanto alimentem o crescimento económico, enquanto o outro “reduz” a despesa para equilibrar contas (públicas e privadas) e promover o crescimento saudável através de uma concorrência assente em custos competitivos, isto é, menores que os dos concorrentes.
Não, o que a econometria faz é a concretização científica das escolhas políticas. Introduzem-se variáveis como se despejam ingredientes na Bimby e da sua combinação resulta a confeção de um prato que se apresenta a concurso, isto é, a eleições.
O PS terá de provar que no seu programa o encanto não é apenas encantamento. Contudo, sabe que nunca poderá prová-lo se não depois de ter tido sucesso ou fracasso – daqui a quatro anos, se vencer as eleições. Há um otimismo indelével na sua proposta
Os problemas dos modelos econométricos conhecemos nós de ginjeira. O primeiro é a tentação de introduzir dados à medida. O Orçamento do Estado é todos os anos um exercício desses: pode conseguir-se o resultado que se pretende se se baixar uma décima a previsão de taxas de juro, o preço do petróleo ou o crescimento da zona euro – e repara-se que estes são todos fatores exógenos e não controláveis, nem é preciso admitir simpatias excessivas em fatores domináveis, como receitas fiscais ou controlo de despesa pública. O segundo problema é, precisamente, a imponderabilidade dos milhares de fatores que potencialmente afetam todas as previsões. Uma crise cambial na China e pode ir tudo por água abaixo.
O fator de credibilidade do PS para o primeiro problema potencial, a credibilidade de quem opera a máquina econométrica, chama-se Mário Centeno. Será por isso que António Costa o ampara dentro do próprio PS – onde é e será muito mais contestado do que por agora parece. Pela sua credibilidade técnica, que tem currículo, mas também pelo seu “desvio” para o mercado de trabalho. Centeno é um apaixonado teórico pelo emprego e um férreo defensor de medidas para o mercado de trabalho. Tanto que, para ele, o PIB não é um fim mas um meio, o fim é o crescimento do emprego e a lei uma ferramenta para a sua moralização.
O PS terá de provar que no seu programa o encanto não é apenas encantamento. Contudo, sabe que nunca poderá prová-lo se não depois de ter tido sucesso ou fracasso – daqui a quatro anos, se vencer as eleições. Há um otimismo indelével na sua proposta, que se cristaliza sobretudo numa taxa de desemprego que desce para 7,2% em quatro anos, o que francamente parece do domínio do impossível. E há uma sujeição a contextos externos que são incontroláveis. Mas este é o eixo principal do PS, entre os cinco hoje apresentados. E será precisamente este que será atacado pela coligação PSD/CDS.
Com mais ou menos cartazes aselhas, vamos falar de emprego e de desemprego até outubro. Afinal, essa é também uma forma conveniente de não falar dos aumentos de impostos e de corte de despesa que, depois de outubro, o próximo Orçamento do Estado nos trará.
ALTOS
Angela Merkel
Chanceler alemã
A líder da CDU e chanceler alemã conseguiu hoje ver aprovar o terceiro pacote de resgate à Grécia no parlamento do seu pai, e de uma forma em que parece ter saído claramente vitoriosa, dado que o número de deputados do seu próprio partido que votaram contra diminuiu face à última votação registada.
BAIXOS
Mário Centeno
Economista
O responsável pelo quadro macroeconómico apresentado pelo PS e agora candidato a deputado (e a ministro?) voltou hoje a aparecer, para apresentar os cálculos finais do impacto do programa eleitoral apresentado pelo PS. Até aqui, tudo bem. Mas os socialistas, impulsionados por aquele velho voluntarismo de quem está em campanha e à beira de ganhar eleições (e que tão mau resultado tem dado nos últimos anos), não resistiram a fazer promessas quanto ao número de empregos a criar na próxima legislatura.
Benfica/Sporting
As épocas futebolísticas são tradicionalmente marcadas por polémicas e brigas entre os principais protagonistas do futebol português. Mas neste início de temporada 2015/2016 o conflito entre os vizinhos da segunda circular está a atingir proporções feias, ao mesmo tempo que o nível das afirmações públicas dos protagonistas dos dois lados desce para o nível da sarjeta.
Martim Silva