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Ricardo Costa

Salgado ainda não percebeu o que lhe aconteceu

Nem sei bem porque é que gasto tantas horas a ouvir Ricardo Salgado, na sua segunda ida ao Parlamento. A sua versão, legítima é certo, é sempre a mesma e foca-se na reta final, nas dificuldades e hesitações do Banco de Portugal, dos constrangimentos desnecessários, da falta de tempo, de como o banco estava sólido, de como havia gente interessada em colocar lá dinheiro, etc. Pois, mas tudo isto esconde a vergonha que foi falsificar contas anos antes, a soberba que foi pensar que isso havia de passar, a falta de coragem de vender as empresas falidas do grupo e de salvar o banco quando o podia ter feito.

Este é o pecado capital de Ricardo Salgado e ele sabe isso muito bem. A falsificação das contas foi o início do seu fim. A chegada da troika, a sentença de morte. Primeiro começou por fingir e depois teve que fazer tudo para evitar que o estado entrasse nos eu banco e visse as suas contas.
Ao contrário da concorrência - Caixa, BCP, BPI, etc - que se viram obrigados a pedir ajuda ao Estado, ficando fortemente condicionados por isso - o BES quis ficar sozinho porque sabia que a entrada do Estado seria o fim de quem dominava o banco.

A decisão mais irresponsável de Salgado foi a falsificação de contas da ESI. A segunda foi não ter pedido ajuda ao Estado quando devia.

Com essa decisão, egoísta e irresponsável, não conseguiram nada: nem salvaram o banco nem se salvaram a si próprios. É importante passar todo este caso a pente fino e não esquecer o papel hesitante do Banco de Portugal. Mas convém não esquecer onde tudo começou e porque nada foi feito durante anos e anos.

Ricardo Salgado ainda não percebeu o que lhe aconteceu. Mas deve ser mesmo o único português nessa situação. As conclusões da Comissão de Inquérito vão ser absolutamente implacáveis, como é fácil de adivinhar. E a Justiça não vai seguir um caminho diferente. Talvez nessa altura Salgado perceba o que fez e o que não fez e como isso deu cabo da sua reputação e de parte da sua família.

ALTOS

Hugo Almeida

Futebolista

O veterano avançado já parecia afastado definitivamente das lides da seleção mas agora Fernando Santos volta a contar com ele para o confronto decisivo com a Sérvia.

BAIXOS

Maria Luís Albuquerque

Ministra das Finanças

Como se não bastasse a polémica da lista VIP e a forma desgraçada como o tema foi gerido pelo Governo, agora Maria Luís veio dizer que os cofres do Estado estão cheios. Do ponto de vista estritamente contabilístico, Maria Luís até pode ter razão. Mas é sempre o tipo de proclamação que leva a uma pergunta/crítica que faz todo o sentido: se os cofres estão cheios que tal aliviar o verdadeiro esbulho fiscal sobre a generalidade dos contribuintes?

Ricardo Salgado

Ex-líder do BES

Este texto é escrito enquanto ainda decorre a segunda audição a Salgado na Comissão de Inquérito. Ainda assim, a nota justifica-se: Salgado continua a atirar para outros, como o Banco de Portugal, culpas e responsabilidades. Quando foi ele que atirou um dos maiores bancos e grupos financeiros portugueses para o charco.

Martim Silva