DESPORTO

Polémica: Pinto da Costa reeleito em escrutínio nada secreto

CONSTRANGIMENTOS Sócios criticam Pinto da Costa por não ter acautelado o voto secreto nas eleições para o FC Porto FOTO JOSÉ COELHO / LUSA

CONSTRANGIMENTOS Sócios criticam Pinto da Costa por não ter acautelado o voto secreto nas eleições para o FC Porto FOTO JOSÉ COELHO / LUSA

Sócios do FC Porto queixam-se que não tiveram privacidade para votar, alguns dizem mesmo que foram vigiados. Manuel Serrão, Pedro Marques Lopes e Carlos Abreu Amorim explicam ao Expresso o que se passou – e deixam críticas

TEXTO ISABEL PAULO

Sem cabines de voto ou biombos, os sócios que optaram por votar contra a lista única de Pinto da Costa viram-se forçados a anular os boletins sem privacidade. Esta segunda-feira à noite, em entrevista ao Porto Canal, pode ser que o líder portista explique o estranho método violador do sigilo estipulado pelo regulamento eleitoral do clube.

Jorge Nuno Pinto da Costa, candidato único à presidência do FC Porto, tinha a sua 13ª reeleição garantida à partida. Precisamente 34 anos depois de ter sido eleito pela primeira vez a 17 de abril de 1982, o mais titulado dirigente do futebol português voltou a dominar nas urnas, reunindo 79% dos votos válidos dos 2403 sócios que acorreram domingo ao Estádio do Dragão.

Apesar de a margem de votos a seu favor ter encolhido 20% desde a última eleição em 2013, o resultado, conquistado em plena crise desportiva que se arrasta há três anos, não só foi expressivo, como teria sido digno se a direção do clube não tivesse cedido à tentação de contornar os estatutos e montado um processo de voto nada secreto.

FOTO ESTELA SILVA / LUSA

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Manda o regulamento eleitoral (artigo 3) que “as eleições dos órgãos sociais do FC Porto são feitas por escrutínio secreto e pela maioria dos votos dos associados que participam nas eleições”. Domingo, para espanto dos sócios, na sala da Tribuna VIP Sócios, onde decorreu o ato leitoral para o quadriénio 2016/2020, não tinham sido colocadas nem cabines de voto ou biombos que permitissem aos associados expressarem sem constrangimento o seu sentido de voto.

À chegada, após a apresentação de cartão de sócio com mais de um ano de fidelização e quotas em dia até ao final de março, o votante era encaminhado para um das mesas, sendo-lhe entregue dois boletins de voto (um para os órgão sociais, outro para o Conselho Superior), a par da informação que se concordassem com as lista bastava “dobrar os boletins e introduzir aqui na urna”.

“Aos sócios que não estivessem de acordo, foi-lhes indicada umas mesas altas, tipo de café”, conta Carlos Abreu Amorim, onde, perante o olhar de quem estava na sala, entre os quais escrutinadores e dirigentes, o votante teve de riscar ou escrever algo para que o boletim fosse dado como nulo, dado o regulamento não prever votos brancos.

“Método incorreto” criticado

FOTO JOSÉ COELHO / LUSA

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Além do deputado do PSD, a quem o FC Porto ameçou processar por ter escrito na sua página “Puro Portista” que a SAD se tornou num joguete fácil nas mãos de empresários, o método eleitoral adotado pelo FC Porto é ainda criticado pelos sócios portistas de longa data Pedro Lopes Marques e Manuel Serrão, entre outros associados que preferem guardar o anonimato mas adiantaram ao Expresso que o que se passou “foi uma vergonha”.

Tal como afirmou domingo no rescaldo das eleições no Porto Canal, Pedro Marques Lopes reafirmou esta segunda-feira ao Expresso que o método de voto colocado em prática pelo FC Porto é incorreto e deve ser corrigido no futuro. “O voto dos associados é e deve ser secreto, o que por um erro de procedimento eleitoral não bem acautelado”, refere.

Apesar de não considerar que as regras democráticas tenham sido violadas, Marques Lopes defende que o ato eleitoral deve no futuro ser mais transparente de forma a garantir uma maior privacidade aos votantes. “Mesmo sendo uma lista única, os boletins devem ter um quadradinho para se preencher ou não, o que não aconteceu, em vez de serem simplesmente dobrados e introduzidos na urna por quem vota a favor”, advoga o sócio portista, que domingo votou pela primeira vez.

FOTO JOSÉ COELHO / LUSA

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O empresário, sócio do FC Porto e comentador do “Prolongamento” Manuel Serrão também lamenta que nestas eleições “não se tenham criado condições para que o voto fosse secreto”, nem tenha sido acautelado o voto branco.

“Com este regulamento e perante uma situação de lista única, as eleições não servem para nada: é perder tempo e dinheiro”, advoga Manuel Serrão.

No ato eleitoral em que votaram quase o dobro de sócios em relação a 2013, Pinto da Costa congratulou-se com o resultado obtido, até porque já terá sido informado pelos escrutinadores que parte dos votos nulos continham mensagens não de protesto, mas de apoio, como “Pinto da Costa estamos contigo”.

Depois da goleada em campo frente ao Nacional (4-0) e da vitória inequívoca nas urnas, o presidente do FC Porto regressa esta segunda-feira, pelas 22h, ao Porto Canal para falar das eleições de domingo e do futuro do clube durante uma entrevista que será conduzida por Júlio Magalhães e Miguel Guedes.