
Chamem-me o que quiserem
Henrique Monteirohmonteiro@expresso.impresa.pt
Sim, o mundo é injusto: Bibi ganhou outra vez
A vitória do Likud e do seu chefe Benjamin Nethanyahu é mais uma preocupação para o mundo. Que se pode esperar de quem afirmou que, com ele, não haverá Estado Palestiniano? Apenas a continuação do conflito, a radicalização ainda maior dos inimigos de Israel e o afastamento daqueles moderados que tentavam manter as pontes.
O Daesh, ou ISIS, veio baralhar as contas do Médio Oriente. Poderia haver uma janela de oportunidade negocial entre israelitas e árabes moderados. Talvez Herzog, o líder da coligação Sionista, que tem como grande sustentáculo o Partido Trabalhista, conseguisse essa oportunidade (apesar de ele próprio recusar qualquer solução que não fosse Jerusalém como capital de Israel).
Mas talvez com a pressão conjunta de alguns países da Europa, que começaram a reconhecer a Autoridade Palestiniana, e da própria Administração norte-americana, a oportunidade surgisse. Com Bibi e o Likud, porém, tudo vai por água abaixo. Que esperar agora?
Penso que Amos Oz, um conhecido escritor israelita, colocou bem a questão. Disse ele (e sigo a tradução e citação que, hoje, Jorge Almeida Fernandes refere no ‘Público’): “Se não houver dois Estados, haverá um; e, se só houver um, ele será árabe”. É isto mesmo! É a integridade do estado de Israel, um estado que terá de ser necessariamente laico, e não judaico, que Nethanyahu está a pôr em jogo. As fanfarronadas antipalestinianas, por muita razão que possam ter, não ajudam absolutamente nada, nem à paz nem à resolução do conflito, nem sequer à sobrevivência de Israel. É preciso contar que uma boa parte da opinião pública ocidental começa a ficar farta deste constante desgaste.
Lembro-me de ser miúdo e de em minha casa apoiarmos com todas as forças os corajosos israelitas que se opuseram a cinco ou seis países árabes e lhes ganharam a guerra num ápice. Foi uma ação defensiva, quando a II Guerra e os horrores praticados sobre os judeus ainda estavam frescos nas memórias dos que então viviam e governavam o mundo. Hoje, já quase ninguém é do tempo da guerra, já quase toda a gente sente que a dívida da humanidade em relação aos judeus está paga, ou quase. É tempo de Israel perceber que não pode viver desses dividendos para sempre. Há um caminho que tem de percorrer, e esse caminho passa, necessariamente, pelo convívio com os vizinhos e pelo reconhecimento dos seus direitos.
Ironicamente, tudo começou pelo facto de os países árabes não reconhecerem a existência de Israel. Uns mantêm-se nessa posição; outros foram evoluindo e aceitam o Estado judaico dentro dos limites reconhecidos pela ONU. Não é pedir muito que, em contrapartida, os israelitas reconheçam também que os palestinianos, nas zonas que controlam, têm direito a um Estado estável. Parece-me, aliás, a única forma de controlar e destruir o radicalismo que grassa na faixa de Gaza e a influência perniciosa do Hamas na região.
A nova situação criada na Síria poderia, justamente, levar o Governo de Israel a tentar estabelecer pontes com os seus tradicionais inimigos. Mas não foi esse o resultado que as eleições ditaram.
Tal como na Grécia e em outros tantos pontos do mundo, o radicalismo intransigente parece ser a forma mais popular de responder aos problemas (ainda que, depois, se possam ver na contingência de terem de se moderar). E isto, sim, é preocupante. E muito injusto para quem anda a trabalhar em prol da paz.
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Amanhã
CINEMA
“THE GUNMAN - O ATIRADOR”
Sean Penn surge mais uma vez no grande ecrã, na pele de um ex-agente governamental que se vê obrigado a lutar pela sobrevivência na selva africana, nas ruas de Londres e nas praças de Barcelona. A história envolve muitos tiros, uma história de amor, e uma amizade antiga que afinal não é bem o que parecia. O filme, realizado por Pierre Morel, estreia esta quinta-feira nas principais salas de cinema.
GES E BES
AUDIÇÃO DE RICARDO SALGADO
O ex-Presidente do Banco Espírito Santo (BES) Ricardo Salgado vai ser ouvido mais uma vez na comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES e do Grupo Espirito Santo (GES), esta quinta-feira, a partir das 16h00.
CONCERTO
BUGANVÍLIA - VOZ E GUITARRA
João Afonso e Rogério Pires juntam-se esta quinta-feira na Associação José Afonso, em Lisboa, para um concerto dos Buganvília. Os dois artistas prometem um serão que irá transportar os espetadores por um “coral de missangas”, num concerto intimista, com apenas voz e guitarra. Sendo Dia do Pai, este poderá ser um programa a ponderar.
CONCERTO
FREE JAZZ TRIO
Dois músicos alemães juntam-se esta quinta-feira a um português, para uma sessão de jazz “devastadora” na Cave 45, no Porto. Os artistas estrangeiros são Julius Gabiel, no saxofone tenor e barítono, e Constantin Herzog, no contrabaixo, que serão acompanhados pela bateria de João Pais Filipe. O concerto inicia-se às 22h30 e a entrada custa 3 euros.





