TRAGÉDIA NO CÁVADO
A misteriosa história de quem saltou para a morte com o filho
SALVAMENTO Embarcação que resgatou a mulher de 37 anos nas águas do rio Cávado FOTO RUI DUARTE SILVA
Em Barcelos, há mais perguntas do que respostas. É difícil perceber o que leva uma mãe a matar o seu próprio filho
TEXTO ISABEL PAULO, HUGO FRANCO e MARTA GONÇALVES FOTOS RUI DUARTE SILVA
Uma mãe tenta matar-se com quem mais ama ao colo. Quatro meses depois, a cena volta a repetir-se, embora com nuances. Em fevereiro, uma mulher levou consigo duas crianças menores para o rio Tejo. Sobreviveu mas as filhas não. Na manhã desta sexta-feira, uma outra mulher atirou-se da ponte medieval de Barcelos, que tem 20 metros de altura, com o filho de seis anos. No caso de Caxias, estava em causa um conturbado processo pela tutela das crianças. No de Barcelos, ainda há mais perguntas do que respostas. “É um mistério que a investigação terá de resolver”. As palavras são do tenente-coronel Vaz Lopes, da GNR de Braga, um dos responsáveis pelo caso.
Até ao fim da edição do Expresso Diário, os bombeiros continuavam a procurar o corpo do rapaz. Duas equipas de mergulhadores estão nas águas do Cávado em busca de alguma esperança. “É possível que encontremos o corpo em 48 horas”, diz ao Expresso Gonçalves Nunes, chefe dos mergulhadores.
Foi um morador que navegava no pequeno barco de pesca da lampreia quem resgatou a mulher de 37 anos, que se encontrava inconsciente. Foi depois transportada para o hospital de Braga e não corre perigo de vida.
O marido chegou à ponte medieval, que tem um resguardo de metal de um metro de altura, ao mesmo tempo que os militares da GNR e assistiu ao resgate. Terá sido alertado pela mesma pessoa que também avisou as autoridades. Em estado de choque, o homem foi assistido naquele local pela equipa de psicólogos do INEM. E deverá ser interrogado pela GNR de Braga e pela Polícia Judiciária.
O casal tem uma outra criança mais nova, com 4 anos de idade. Por enquanto, parece estar colocada de parte a hipótese de a mulher ter cometido este ato por questões ligadas com o divórcio.
Falta perceber em que estado mental se encontrava a progenitora, que, segundo apurou o Expresso, tinha estado com o marido esta manhã de sexta-feira, pouco tempo antes de se ter lançado ao Cávado.
Uma fonte da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) assegura que nem a mãe nem o rapaz de 6 anos estavam sinalizados pela CPCJ de Barcelos.
A família mora na pequena freguesia de Arcozelo, a poucos quilómetros do local da tragédia. “É uma ponte recente e de fácil acesso. E já serviu para outras 3 ou 4 pessoas tirarem a vida nos últimos 15 anos”, assegura Augusto Dias, o presidente da junta de freguesia de Santa Eugénia.
Em 2009, deu-se um caso com contornos muito semelhantes. Convencida de que o filho de seis anos tinha uma doença incurável, uma mulher atirou-se ao rio Douro com a criança. A mãe, que sofria de perturbações mentais, sobreviveu à queda, mas o filho não.
Em fevereiro deste ano, uma mulher atirou-se ao rio Tejo com as duas filhas, de 3 anos e de 20 meses. As crianças acabaram por morrer, ao contrário da progenitora, que se encontra detida. O Ministério Público acusa-a da prática de dois crimes de homicídio qualificado com especial perversidade.