BRASIL
Dilma vira enfeite?
SEM SAÍDA? Dilma Rousseff está na mira da oposição e do ministério Público FOTO ADRIANA MACHADO / REUTERS
Lula volta ao Governo para salvar a economia, diz. Dilma convida-o para chefe da Casa Civil e espera apaziguar o terramoto que tem abalado a estrutura governativa. A oposição une-se para pedir a destituição da Presidente. Há novos argumentos, extraídos das delações
TEXTO CRISTINA PERES
O anterior Presidente brasileiro, Lula da Silva, aceitou o convite para assumir a chefia da Casa Civil, voltando ao Planalto agora como ministro da atual chefe de Estado, Dilma Rousseff. A notícia foi dada pelo líder do Partido dos Trabalhadores (PT), Afonso Florence, e pelo líder do Governo, José Guimarães, ambos exercendo funções na Câmara, e é o mais recente desenvolvimento da reunião que decorreu esta terça-feira entre as 19h e as 23h30 em Brasília.
A nomeação deverá implicar uma remodelação governamental, na qual o jornal “Folha de S. Paulo” avança o nome de Celso Amorim para as Relações Exteriores e a possibilidade da substituição de Aloizio Mercadante na pasta da Educação. Além destes, há mais hipóteses de ministros avançadas por membros do PT - mas ainda não confirmadas -, entre os quais Ciro Gomes, fundador do PSDB (oposição).
Estes e outros nomes formarão a equipa que Lula da Silva exigiu como sendo essencial para levar avante as mudanças necessárias à dinamização da economia brasileira. A “Folha” acrescenta que as alterações que se pretendem introduzir na condução do Governo justificam o regresso de Lula ao Executivo, não sendo uma mera manobra para escapar à prisão, como consta.
Os pormenores sobre as funções de Lula da Silva no cargo que lhe seria atribuído no Governo foram discutidos em pormenor das 19h até às 23h30 na noite de terça-feira pelo ex-Presidente e pela chefe de Estado, que se reuniram no Palácio da Alvorada, em Brasília. Pretendia-se que Lula tivesse a tripla missão de impedir o avanço do processo de destituição de Dilma, repor a conciliação com os partidos aliados (em especial com o PMDB) e animar o mercado e o sector produtivo, descreve o “Globo”.
Tréguas temporárias?
Estas notícias soam quase apaziguadoras no contexto do terramoto que tem vindo a abalar as estruturas de poder brasileiras. A verdade é que a seguir à bomba política lançada pelos depoimentos de delação do senador Delcídio do Amaral - ex-líder da bancada governamental no Senado -, os inspetores da Operação Lava Jato estavam a considerar a hipótese de investigar a Presidente Dilma Rousseff e o seu antecessor no cargo, Lula da Silva.
Dilma e Lula foram citados por Delcídio como tendo tentado alterar o curso das investigações do escândalo Lava Jato, lê-se esta quarta-feira no site da revista “Veja”.
VITÓRIA? Lula deveria já ter saído, pensava-se que regressaria como candidato às próximas presidenciais e, afinal... FOTO INSTITUTO LULA DA SILVA / EPA
Tempestade perfeita, assim definia esta terça-feira António Vitorino a situação que se vive no Brasil. A precipitação dos acontecimentos tem sido tal, e as soluções apontadas são de tal maneira polémicas, que ainda há horas se discutia a viabilidade de nomear Lula da Silva para o Governo, como escreve o jornal “Globo”.
A causa disto é o impacto da delação de Delcídio Amaral. A gravação que veio a público implicava também o poderoso ministro da Educação, Aloízio Mercadante, ex-chefe da Casa Civil de Dilma, e “criou um clima de confusão” capaz de “paralisar o dia a dia do Governo”, acrescenta o jornal carioca.
Segundo o “Estadão” (“Estado de São Paulo”), apesar de o senador Aécio Neves (o candidato a Presidente da oposição), presidente nacional do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), ter sido citado na delação de Delcídio Amaral, os partidos da oposição estão a considerar a hipótese de se unirem para apresentar um novo pedido de destituição da atual Presidente, incluindo nele informações que constam na delação de Amaral, tais como as alegadas tentativas de obstrução da Justiça por parte de Dilma que lá constam . A própria nomeação do ex-Presidente como ministro do atual Governo poderia ser usada como prova dessa tentativa de obstrução da Justiça.
BURLÕES É como as primeiras figuras do Estado, presente e passada, são vistas pelos manifestantes que desceram à rua aos milhões em 300 cidades brasileiras FOTO NACHO DOCE / REUTERS
Neste momento, até já parece história antiga o efeito que teve no acicatar dos ânimos a saída à rua, no passado fim de semana, em 300 cidades brasileiras, de milhões de pessoas a exigir a destituição da Presidente Dilma Rousseff e o fim do Governo PT. E isto a apenas meses de o país albergar a próxima edição dos Jogos Olímpicos. Tudo parecia concorrer para o desmembramento da estrutura política brasileira, que já se encontrava a braços com uma profunda crise económica, inflação, subida do desemprego, escândalos de corrupção.