DÍVIDA
Aumento do PIB não impressiona DBRS
POSITIVO Para Fergus McCormick, o crescimento económico acima do esperado é positivo mas a procura interna negativa preocupa
Fergus McCormick, economista-chefe da DBRS, considera que o atual contexto internacional “não é necessariamente favorável para Portugal” mas não altera a sua visão sobre a economia nacional. Mas o aumento surpresa do PIB também não impressiona McCormick, que avisa que a subida dos juros pode tornar-se preocupante se coincidir com um menor crescimento económico
TEXTO ELISABETE TAVARES
A recente escalada dos juros da dívida soberana portuguesa não preocupa a DBRS, a única agência de rating que mantém Portugal com uma classificação acima do nível de ‘lixo’. Mas a agência também não foi impressionada com o crescimento económico acima do esperado no terceiro trimestre.
A vitória de Donald Trump nas presidenciais nos Estados Unidos espoletou uma subida dos juros da dívida soberana em geral, levando as yields (juros) das obrigações portuguesas a 10 anos a subir acima dos 3,5% esta semana.
O clima nos mercados é de maior incerteza, não se sabendo ao certo as políticas que serão adotadas pela nova Administração nos EUA.
“Para Portugal, este contexto não é necessariamente favorável mas não muda a nossa perceção de um forte compromisso do Governo de pagar a sua dívida”, afirmou McCormick em entrevista telefónica ao Expresso.
E sublinhou que “não existe nenhum nível [nos juros] que pudesse levar a uma revisão do rating” pela DBRS. “Temos uma abordagem muito holística de longo prazo e vemos centenas de variáveis e os juros da dívida é uma das variáveis”, sublinhou.
“Se olhar para os juros, em fevereiro estiveram muito acima dos 4% e se olhar onde estavam em 2013 ou 2012, não há qualquer comparação. Historicamente, há que ter isso em conta. E tínhamos a mesma visão sobre Portugal nessa altura”, destaca. O problema é que “agora o stock de dívida é muito mais alto e muito mais sensível” a maiores custos de financiamento.
Por isso ressalva: “Se virmos uma tendência persistente de yields elevadas e menor crescimento económico então ficamos preocupados”. Mas, salientou que “os juros atualmente ainda proporcionam condições favoráveis de financiamento” para Portugal. O que, apesar do nível de endividamento, permite que os analistas da agência se sintam “confortáveis”.
McCormick lembrou que “um dos motivos na base da decisão de manter o rating de Portugal foi o facto de que a consolidação orçamental estar a avançar”. A DBRS manteve, no final de outubro último, o rating de Portugal em BBB (low) bem como a perspetiva estável para a República.
Mas há alguns receios também. “Atingir o potencial de crescimento é necessário para que Portugal possa reduzir o rácio de dívida pública face ao PIB”, aponta o mesmo responsável. “Essa é a nossa maior preocupação”.
Para McCormick, a razão para a subida dos juros de dívida soberana em geral “não é clara”. “Mas penso que tem a ver com expectativas de investimentos em infraestruturas e cortes de impostos nos EUA, o que levou à compra do dólar e de ações norte-americanas e à venda de obrigações soberanas dos EUA”. Por sua vez, “isso levou a expectativas de uma inflação mais elevada nos EUA, acompanhada em Portugal nem noutros países”, o que gerou “uma subida dos juros da dívida soberana de Portugal e de outros países”.
“Houve um aumento de preocupação dos investidores em relação à sustentabilidade da dívida”, afirmou.
PIB surpresa
Para a DBRS o crescimento da economia portuguesa de 0,8% em cadeia no terceiro trimestre deste ano “foi uma surpresa positiva” e “saiu acima das expectativas do mercado”.
“Contudo, se olhar mais profundamente, o aumento do crescimento foi sobretudo suportado pelas exportações, numa procura razoável externa de bens e serviços. Mas a procura interna foi negativa, teve um contributo negativo. E isso é uma preocupação”, apontou.
Para McCormick, “em geral, há uma grande incerteza em relação ao futuro e está a influenciar decisões de investimento, sobretudo na Europa”.
Outra nota positiva é dada aos avanços de Portugal nas medidas adotadas para resolver os problemas no sistema bancário português.
“O sistema bancário precisa de mais reparações, mas o Governo está a fazer um bom trabalho a tentar lidar com o crédito malparado”, sublinhou o economista-chefe da DBRS.
A agência canadiana é uma das quatro consideradas pelo banco Central Europeu. Um rating acima de ‘lixo’ confere a Portugal acesso ao programa de compras de dívida do BCE e permite ao sistema financeiro português acesso a financiamento junto do banco central.
A próxima revisão do rating de Portugal pela DBRS está agendada para abril de 2017.
Os juros da dívida portuguesa a 10 anos seguiam a descer 1,3% para 3,494% (16H00) segundo dados da Bloomberg.