PSD: Partido Sem Direção?
No dia em que o PSD apresentou finalmente uma proposta importante para a Saúde, o próprio líder conseguiu que ninguém desse por ela. De facto, nada do que se está a passar no partido de Rui Rio é normal. Bem sei que Rio quer mostrar que é um político diferente, que é mais sério e que não anda a reboque dos críticos internos. Só falta perceber o que é, e o que quer ser o PSD de Rui Rio.
Não é novidade que a história do PSD é feita de constantes guerras internas. Sabendo isto, mas sobretudo percebendo a dificuldade em fazer frente a um António Costa em alta, Rio carregou no estilo do político autêntico. Fez sobressair o “homem que diz o que pensa” e usa os críticos internos para se reforçar. E eles, os críticos que não lhe metem medo, até o têm ajudado. Compõem a narrativa do líder que mexe com os instalados e, mais tarde, quando (e se) o PSD for derrotado, Rio não deixará de lhes apontar o dedo.
O problema é que o episódio da “taxa Robles” já não é só resultado das querelas internas. Os homens de Rui Rio, como contava ontem o Expresso, ficaram claramente incomodados com o “tiro no pé”. Ou seja, a somar à imagem de um partido sem rei nem roque, Rio mexeu com os fundamentos do partido. Como lhe lembrou um dos vice-presidentes: a ideia de penalizar investidores é contranatura e uma "descaracterização ideológica" do PSD.
Rio não estará certamente esquecido que é um líder novo e que precisa de se afirmar. Não pode passar a vida a gerir danos. Por isso não percebo qual é a estratégia quando quis não só colar-se à taxa do Bloco de Esquerda – que só quer apagar o enorme embaraço do caso Robles - como acrescentar mais uns pozinhos a uma taxa muito mal explicada.
Não há um manual de boas práticas, e já agora de boas políticas, para os líderes da oposição – o pior cargo na política como disse um dia António Costa. Mas parece-me pouco responsável que alguém que quer ser primeiro-ministro e que é líder do maior partido no Parlamento atire assim para o debate a proposta de mais um imposto. Sem detalhe ou desenho, sem contas, e sobretudo sem uma explicação clara sobre a justiça de tal medida. Não pode ser assim que se trata um assunto tão grave como o que está em causa e que tanto impacto tem em Lisboa e no Porto. Já nem falo dos objetivos eleitorais, se é que os há, desta proposta: para que eleitorado é que Rio estava a falar? Nas sedes do PS e do CDS esfregavam-se as mãos de contentamento. Pudera, até agora Rui Rio saiu-lhes melhor do que a encomenda. Veremos como será no ano que falta até às eleições.