Israelitas pró-palestinianos

“Porque é que queres ajudar pessoas que te querem matar?”

São incompreendidos e julgados e às vezes apelidados “traidores” por defenderem os direitos dos palestinianos e condenarem a “falta de interesse” de todos os governos israelitas, “da esquerda à direita” e o atual em particular, em negociar com os palestinianos. Eric Yellin, israelita presidente da organização Other Voice, diz que acham que ele é “louco” por ajudar “pessoas que o querem matar”, Jonathan Ofir conta como a sua experiência no Exército, em que era suposto estar disposto a morrer por Israel (ele não estava e durante muito tempo não soube lidar com isso), o fez querer conhecer outras narrativas sobre o conflito e Hagai El-Ad, presidente da B’Tselem, umas das principais organizações de direitos humanos em Israel, fala das dificuldades que enfrentam atualmente as ONG israelitas. “Tal como na Hungria, começa a haver em Israel tentativas de silenciamento da oposição ou organizações pró-palestinianas”

Texto Helena Bento Ilustração Ana Simões

Eric Yellin e outros israelitas reúnem-se todas as semanas junto à fronteira com Gaza para apelar à paz e ao fim das hostilidades com os palestinianos e todas as semanas há alguém que se aproxima de carro e, vendo-os ali, descontraídos, insulta-os ou questiona-os de forma pouco simpática. “As pessoas acham que eu sou louco e ingénuo. Perguntam-me como é que sou capaz de defender o inimigo e ajudar pessoas que querem matar-me e mandam rockets para território israelita.” Eric Yellin, 51 anos, obviamente não responde, até porque de certo modo entende a indignação porque também já pensou assim. “Foi só a partir de determinado momento da minha vida, quando tinha 14 ou 15 anos, que comecei a ver as coisas de outra forma. Claro que o meio onde cresci, a minha família e os professores que tive na escola também tiveram alguma influência, mas foi sobretudo depois de frequentar um seminário onde conheci alguns palestinianos que assuntos como a desigualdade entre judeus e não judeus dentro de Israel começaram a estar mais presentes na minha vida”, diz ao Expresso.

Eric Yellin cresceu num kibbutz (primeiras comunidades de migrantes judeus organizadas em cooperativas) no norte de Israel, não muito longe do mar da Galileia, e mudou-se depois para Sderot, cidade com cerca de 25 mil pessoas (segundo números de 2016), localizada no sudeste de Israel, a menos de dois quilómetros da Faixa de Gaza, e conhecida como “capital mundial dos abrigos antibomba”, tal a quantidade de abrigos com aquelas características que pululam pela cidade, inclusive em parques infantis, construídos para proteger a população das centenas de rockets Qassam que ali caíram sobretudo entre a Segunda Intifada (que começou em 2000) e a guerra de 2008-2009 na Faixa de Gaza. Os abrigos são decorados com grafitti ou com desenhos de animais ou simplesmente coloridos, muito coloridos, para disfarçar o seu propósito. Eric Yellin fundou ali, em 2008, a organização Other Voice, formada por israelitas e palestinianos que defendem a aproximação e o diálogo entre os dois povos e promovem, para isso, encontros entre palestinianos de Gaza e israelitas, desde conferências a seminários. “O Governo israelita diz-nos que os palestinianos são o inimigo e que temos de lutar contra eles, mas nós preferimos não simplificar a realidade e tentar perceber as diferentes motivações. Este conflito não surgiu do nada e é preciso entender, antes de mais, que do outro lado da barreira, em Gaza, estão pessoas como nós que só querem viver em paz e que além disso estão privadas dos direitos mais básicos”, diz Eric Yellin, explicando como a proximidade física em relação a um dos principais focos do conflito também contribuiu para a criação do grupo. “Todos nós vivemos muito perto da Faixa de Gaza e sentimos na pele os efeitos do conflito. Todos nós estivemos, em algum momento, ao alcance dos rockets e temos família e filhos afetados pelo trauma da guerra. Por isso, não podíamos simplesmente continuar a ignorar o que estava a acontecer do outro lado.”

Cidade de Gaza fotografada a 11 de junho de 2015, um ano depois de uma ofensiva de Israel que matou pelo menos 2189 palestinianos, dos quais 1486 eram civis, de acordo com as Nações Unidas. 67 soldados israelitas e seis civis morreram no mesmo período FOTO GETTY

Cidade de Gaza fotografada a 11 de junho de 2015, um ano depois de uma ofensiva de Israel que matou pelo menos 2189 palestinianos, dos quais 1486 eram civis, de acordo com as Nações Unidas. 67 soldados israelitas e seis civis morreram no mesmo período FOTO GETTY

O bloqueio imposto por Israel a Gaza - onde dificilmente e só esporadicamente entram ou saem bens e pessoas desde que o movimento Hamas, islamita e considerado terrorista pelos EUA e pela União Europeia, assumiu o controlo da região, em 2007 - bem como as disputas recorrentes entre aquele movimento e a Fatah, no poder na Cisjordânia, continuam a dificultar a vida dos cerca de dois milhões de palestinianos que vivem na Faixa de Gaza. Em outubro do ano passado, os dois grupos anunciaram a entrega de Gaza a um governo de unidade nacional mas a promessa continua por cumprir. Enquanto isso, os palestinianos continuam com acesso limitado a eletricidade, comida e medicamentos e mais de dois terços deles dependem de ajuda humanitária para sobreviver. “Uma das mais dramáticas crises humanitárias” de sempre - foram estas as palavras usadas por António Guterres, secretário-geral da ONU, para descrever a situação no ano passado. O bloqueio à região inviabilizou, além disso, grande parte dos contactos feitos com palestinianos pela Other Voice, cuja atividade se limita atualmente a encontros virtuais e manifestações semanais junto à fronteira. “Gaza transformou-se numa prisão e é muito difícil falar com as pessoas que lá vivem. Por causa do Governo israelita mas sobretudo por causa do Hamas, que não apoia a nossa atividade e ameaça aqueles que, na região, estabeleçam qualquer tipo de contacto com israelitas”, diz Eric Yellin.

A 30 de março, centenas de palestinianos começaram a manifestar-se junto à barreira de segurança que separa a Faixa de Gaza do território israelita num movimento designado “marcha de retorno”, que exige o regresso dos mais de 700 mil refugiados palestinianos às terras de onde foram expulsos ou fugiram após a criação do Estado de Israel, em 1948 - daí que planeiem ficar ali até esta terça-feira, 15 de maio, dia em que os palestinianos assinalam a “Nakba” (“catástrofe”, em português). Israel respondeu aos protestos, alegando primeiro estar simplesmente a proteger o seu território e, segundo, estar a disparar balas reais somente em situações de perigo óbvio e iminente, mas já morreram mais de 50 palestinianos, centenas ficaram feridos, e tanto a ONU como a União Europeia já vieram dizer que a resposta de Israel foi de violência “excessiva” contra manifestantes que nem sequer estavam armados. A existência de diferentes versões sobre o mesmo acontecimento não é de agora, muito pelo contrário, é da natureza de qualquer conflito e até sobretudo deste. “Quando há violência extrema, toda a gente diz que não há outra hipótese e que é preciso responder na mesma moeda, mas eu não penso assim. Talvez agora, de facto, não haja outra hipótese, mas Israel já deveria ter feito alguma coisa para evitar que isto começasse”, considera Eric Yellin. “É verdade que não podemos simplesmente ignorar e deixar que a violência escale”, continua o ativista, “mas o Governo israelita deveria estar mais focado em dialogar com o outro lado”.

Marcha de retorno, dia 30 de março de 2018 Foto Getty

Marcha de retorno, dia 30 de março de 2018 Foto Getty

Depois das pedras e dos cocktails Molotov, alguns dos jovens palestinianos que participam na “marcha de retorno” inventaram uma nova arma que consiste em papagaios com combustível que mandam para território israelita. Eric Yellin diz que este tipo de ações por parte dos palestinianos fá-los passar por “terroristas” aos olhos de alguns israelitas, sobretudo aqueles que “vivem afastados dos focos de conflito e que só sabem o que se passa através das notícias na televisão”. “Acham que Gaza é um sítio horrível e perigoso.” Outros israelitas, no entanto, conseguem “entender que nada disto é preto e branco” e defendem que se o Governo israelita fizesse algum tipo de acordo com o Hamas, em Gaza, a “situação poderia melhorar para ambas as partes”. “Israel é a parte forte aqui e por isso tem obrigação de fazer alguma coisa para acabar com a violência.” Se tal acordo será alguma vez feito, não sabe, mas também não se pode dizer que está otimista em relação a isso. “Temos um governo que é muito de direita, a um nível quase extremo, que não parece interessado em encontrar uma solução ou para Gaza ou para a Cisjordânia. E apesar de haver vozes internas que concordam que é preciso garantir uma vida melhor aos palestinianos, o primeiro-ministro [Benjamin Netanyahu] não está a fazer nada nesse sentido.”

“O extremo patriotismo não é obviamente exclusivo dos israelitas, mas existe sobretudo nos israelitas”

Para o ativista israelita Jonathan Ofir, por outro lado, o problema não é tanto do atual governo mas de todos os governos, “da esquerda à direita”, que governaram Israel. “Nunca houve de facto vontade de dialogar ou negociar com os palestinianos.” O também violinista e maestro de 46 anos que vive atualmente na Dinamarca defende por isso ser irrealista ou até ingénuo considerar que a solução de dois Estados independentes e soberanos, conforme defende grande parte da comunidade internacional, da ONU à Liga Árabe, passando pela União Europeia, assim como a maioria dos israelitas e palestinianos, segundo mostram várias sondagens realizadas ao longo dos anos, continua viável. “Essa solução morreu. Defendê-la é defender um cadáver. E também seria uma boa desculpa para Israel manter o seu status quo. Estando essa solução afastada, só há uma escolha que temos de fazer: entre o apartheid ou a verdadeira democracia.”

O Estado imaginado por Jonathan Ofir e por outras pessoas que, como ele, defendem a solução de um único Estado democrático para acabar com o conflito israelo-palestiniano englobaria Israel, Cisjordânia e Gaza e a religião não se imiscuiria nas esferas do poder político e vice-versa. “Obviamente que já não poderia ser um Estado judaico tal como os sionistas gostariam, mas também não acho, desde já, que o sionismo seja a resposta para o que for. Não sei que nome teria mas isso também não interessa. Seria simplesmente um Estado que garantisse igualdade de direitos para os cidadãos.” A solução defendida por Jonathan nunca foi verdadeiramente considerada pela comunidade internacional e ainda menos a sua versão mais à direita, que prevê a anexação da Cisjordânia por Israel e a expulsão dos palestinianos daquele território ou a imposição de mais restrições sobre eles, nomeadamente no que diz respeito ao direito ao voto.

Foto Getty

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Jonathan Ofir mudou-se para a Dinamarca em 1995 e ao Expresso conta como ali chegou por “razões pessoais” (apaixonou-se por uma mulher dinamarquesa enquanto vivia em Israel) e como se tornou politicamente mais ativo após a guerra de 2014 na Faixa de Gaza, publicando regularmente artigos no site “Mondoweiss”, assumidamente antissionista. “Esse conflito foi um ponto de viragem para mim, tal como foi para muitos outros israelitas com quem fui falando ao longo do tempo.” Segundo o Gabinete para a Coordenação dos Assuntos Humanitários das Nações Unidas (OCHA, em inglês), 2014 foi de facto o pior ano para os civis palestinianos desde a guerra árabe-israelita de 1967. Entre julho e agosto daquele ano morreram 2189 palestinianos, dos quais 1486 civis e 551 crianças, mais do que a soma de todas as vítimas palestinianas em Gaza registadas nos conflitos de 2008 e 2009. De forma bastante resumida, aconteceu que três jovens israelitas foram raptados e assassinados em Gush Etzion, um bloco de colonatos judaicos na Cisjordânia, a sul da Jerusalém, tendo Jerusalém de imediato acusado o Hamas e iniciado uma operação para capturar os líderes do grupo. O Hamas, por sua vez, respondeu com rockets e o conflito escalou a partir daí.

Jonathan descreve-se como ativista de esquerda e foi a leitura de um livro chamado “The Ethnic Cleansing of Palestine” (2006), do historiador israelita Ilan Pappé, que o fez chegar até aí. O livro refere-se à expulsão de milhares de palestinianos das suas casas após a criação do Estado de Israel, em 1948, como uma “limpeza étnica” e, ao ler isso, Jonathan teve uma sensação semelhante à de um “terramoto” com o chão a abrir-se em fendas debaixo dos pés. “Foi um choque. Essa leitura fez-me repensar em tudo aquilo que eu acreditava sobre israelitas e palestinianos. Fez-me questionar tudo, inclusive por que razão não me haviam ensinado aquilo na escola e o que mais estaria eu a perder. Foi nesse momento que percebi a dimensão da propaganda sionista.” Entender isto também ajudou, de certo modo, Jonathan a resolver um conflito interior e anterior, que arrastava desde que começou a cumprir o serviço militar obrigatório, muitos anos antes. Por ser, já à época, violonista, foi-lhe atribuído um estatuto especial para poder prosseguir com a carreira de músico. “Basicamente, eu e outros músicos tocávamos para os soldados e oficiais do Exército, sobretudo música clássica.” No entanto, a dada altura começou a sentir-se “culpado” e “desleal” por não estar a combater como os seus colegas militares. “Tendo nascido num kibbutz, num ambiente muito fechado e protegido e onde se esperava de todos os homens que estivessem dispostos a morrer por uma causa, a causa da Israel, comecei a sentir vergonha de estar simplesmente a tocar Bach e Mozart enquanto os meus colegas estavam a combater e a morrer. Sentia-me completamente inútil.”

Voluntariou-se para integrar uma unidade de combate e fez os treinos básicos durante quatro meses mas ao final de algum tempo sentiu falta do violino e quis voltar atrás. Falou com uma psicóloga do Exército, ela recomendou-lhe que pedisse aos seus superiores para voltar a integrar o grupo de músicos. Jonathan seguiu o seu conselho e, na presença de um comandante, disse ter cometido um erro e foi-lhe permitido voltar à antiga unidade. No entanto, o conflito, o dele, íntimo, praticamente inconfessável, estava longe de estar resolvido. “Sabia que havia soldados israelitas a morrer no sul do Líbano [durante a ocupação de Israel na Guerra do Líbano, entre 1982 e 1985] e sentia-me culpado por não estar lá. Durante anos tive pesadelos com isso. Sonhava que estava no Líbano e que ou o soldado que estava ao meu lado era atingido e morria ou eu era atingido. Esse era o sonho que me deixava, de alguma forma, aliviado. Sentia que me tinha sacrificado, tal como era suposto.” Jonathan diz ter estado neste dilema durante mais de uma década até se ter decidido finalmente a olhar para o assunto de uma forma mais “crítica”. Aí surgiram as primeiras leituras, o confronto com uma realidade oposta à que lhe vinham descrevendo, o ativismo, os primeiros artigos e um livro sobre o tema que continua por terminar. “O extremo patriotismo não é obviamente exclusivo dos israelitas, mas existe sobretudo nos israelitas. Há um ethos existencialista e nacionalista, de ameaças existenciais constantes, que leva a que se aja, como os nazis agiam, na base do tudo ou nada. Ou vamos conquistar o mundo ou vamos cair. É assim que muitos israelitas pensam e é por isso que estão dispostos a morrer pelo país.”

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“Tal como na Hungria, começa a haver em Israel tentativas de silenciamento da oposição ou organizações pró-palestinianas”

Jonathan Ofir diz que a sua visão sobre este assunto o transforma desde logo num “traidor” aos olhos do Governo israelita e Hagai El-Ad, diretor da B’Tselem, que documenta violações dos direitos humanos nos territórios palestinianos ocupados e tem sede em Jerusalém, diz algo semelhante: “Tal como tem acontecido em países como a Hungria, com a ascensão de regimes autoritários proto-fascistas, começa também a haver em Israel tentativas de silenciamento da oposição ou das organizações que não concordam com aquilo que o governo está a fazer”.

Ao Expresso, Hagai El-Ad diz que embora não tenham sido ainda impostas restrições, há pressão política para limitar o financiamento externo que as organizações não-governamentais recebem (à semelhança, mais uma vez, do que está a acontecer na Hungria, onde foi recentemente aprovada uma nova lei que, além de autorizar a expulsão de todas as organizações passíveis de configurarem “um perigo de segurança pública” ou que apoiem a imigração, impõe um imposto de 25% sobre todas as doações estrangeiras a organizações que protejam e defendam os refugiados). Em outubro do ano passado, o governo concordou em impor restrições ao financiamento das organizações que “prejudicam a reputação dos soldados das Forças de Segurança Israelitas”. Já em 2016, o Knesset (Parlamento de Israel) aprovara uma lei que obriga as organizações a fazerem uma declaração oficial às autoridades quando são financiadas maioritariamente por governos de outros países. “Estamos a trabalhar num ambiente político muito hostil”, conta Hagai El-Ad, considerando no entanto que a situação dos palestinianos, “expostos constantemente a decisões totalmente arbitrárias”, é obviamente muito pior. “As coisas são difíceis para nós mas para eles são ainda mais. Temos mais proteção e privilégios do que eles e é precisamente por causa disso que temos obrigação e responsabilidade de denunciar as injustiças que são cometidas contra eles.” Recentemente, outra das maiores organizações não-governamentais israelitas que denuncia as práticas dos soldados israelitas em territórios palestinianos disse ter sido impedida de participar num encontro numa escola em Israel. Contrariando a vontade dos seus professores, um grupo de alunos dessa escola decidiu convidar na mesma a organização. Este gesto pode significar que talvez haja da parte das gerações mais novas uma maior abertura e até proximidade em relação aos palestinianos, mas Hagai El-Ad não toma isso como certo. “Gostava que isso fosse verdade, mas tenho algumas dúvidas. Isto não acontece há um ou dez anos, acontece há 51 anos e a situação tornou-se normal. Muitos israelitas e palestinianos nasceram depois de 1967 e para eles isto é normal. Só conhecem esta realidade.”

Uma mulher palestiniana reclama com um soldado israelita em Jerusalém FOTO Getty

Uma mulher palestiniana reclama com um soldado israelita em Jerusalém FOTO Getty

Ao contrário do que aconteceu com Jonathan Ofir, não foi uma espécie de epifania que fez Hagai El-Ad perceber que havia várias narrativas sobre o mesmo conflito e que a que lhe fora durante anos contada podia não corresponder exatamente à realidade. Tratou-se de um “processo gradual”. “Comecei a ler artigos e relatórios publicados por organizações e comecei a entender que havia muitas mentiras.” Embora as pessoas à sua volta, família e amigos, entendam a sua visão e o trabalho que faz, há quem o julgue. “O ambiente em Israel é de muita hostilidade, provocação e ódio e é o Governo que fomenta isso. As sondagens que fazemos anualmente mostram que a maioria dos israelitas está a par da ocupação, mas isso não é uma coisa que os preocupa.”

O que há para celebrar?

Esta segunda-feira assinalou-se o 70.º aniversário da criação do Estado de Israel mas Jonathan Ofir diz não ter quaisquer razões para celebrar. “Se há acontecimento que deve ser assinalado é a Nakba, a expulsão dos palestinianos, nada mais. Se irei alguma vez celebrar a independência de Israel? Não sei, mas acho que só vou querer celebrar esse dia quando esse dia se tornar sinónimo do fim do apartheid e de liberdade e igualdade para as pessoas que vivem nos territórios palestinianos. Enquanto isso não acontecer, não terei nada para celebrar.” Já Eric Yellin considera que Israel tem “muitas razões para estar orgulhoso” e que só o facto de o país existir - e existir “numa região muito, muito complicada, entre países que não estão contentes com a sua existência” - “já merece ser celebrado”. No entanto, diz também que há “muita reflexão” a fazer sobre as coisas “menos boas” do país. “A guerra, assim como o medo de ataques e o medo de desaparecer, está no ADN dos judeus, mas tentar apenas ser forte a todo o momento não é uma mensagem boa para o futuro. Ter um grande exército e exercer força não é o que nos torna verdadeiramente fortes.”