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Nicolau Santosnsantos@expresso.impresa.pt

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Nicolau Santos

A economia pode melhorar?

Os dados da evolução económica no segundo trimestre do ano são descoroçoantes: um crescimento de apenas 0,2% em relação ao trimestre anterior e de 0,8% em média anual. Começa a ser evidente que 2016 será um ano perdido em matéria de crescimento, que vai mesmo ficar abaixo do ano anterior. A pergunta é: esta tendência pode ser invertida em 2017?

A economia portuguesa está estagnada desde o terceiro trimestre do ano passado. Entre julho e setembro de 2015, o crescimento foi apenas de 0,1%. Nos três trimestres seguintes não fez melhor que 0,2% em cada um. A oposição bem pode imputar este resultado às orientações do Governo. Mas o facto é que a tendência já vem da altura em que PSD e CDS governavam o país.

É verdade que desde que este Governo tomou posse se registaram vários acontecimentos que assustaram os investidores. Curiosamente, os dois com maior impacto não decorreram de decisões do Governo mas do Banco de Portugal: a passagem de três emissões seniores do Novo Banco para o BES “mau”, que mereceu amplas críticas da imprensa internacional especializada e dos grandes fundos estrangeiros de investimento; e a resolução do Banif, que vai acarretar mais 3000 milhões de euros de encargos para os contribuintes nacionais.

Por seu turno, o Governo decidiu reverter as privatizações dos STCP e voltar a tomar uma posição de 50% na TAP. Tudo junto, contudo, não explica o que se está a passar em matéria de abrandamento do crescimento.

O fator mais relevante é seguramente o facto da economia angolana ter colapsado. As exportações portuguesas para aquele país caíram quase 50% em menos de um ano. Mais de 8000 empresas portuguesas exportam para aquele mercado e mais de 200 mil portugueses trabalham lá. Esta situação tem obviamente um forte impacto na economia portuguesa: quebra nas exportações e nas receitas dos emigrantes, pelo menos.

A par de Angola, também houve quebras assinaláveis nas exportações para a China e para o Brasil. A isto junta-se, por várias razões – entre as quais os atentados terroristas – um abrandamento acima do esperado da economia europeia, para onde se dirigem mais de 70% das vendas de produtos nacionais.

Posto isto, o que pode fazer o Governo? Quanto aos mercados externos, nada a não ser rezar para que eles melhorem. Mas internamente pode. E o que pode é fazer com que rapidamente os fundos comunitários do Quadro 2020 cheguem às empresas. Até agora isso está a acontecer de forma desesperantemente lenta devido às múltiplas exigências de Bruxelas. Esperemos que seja mesmo essa a razão e não o facto do Governo não querer juntar a comparticipação nacional devida para ter acesso a esses fundos e, com isso, agravar o défice deste ano.

Com exportações em queda e sem investimento, não é possível sustentar o crescimento – porque até o consumo privado se tem retraído. Valha a melhoria no mercado do emprego decorrente do excelente ano do setor turístico para não serem tudo más notícias. Mas mesmo esse emprego é precário, sazonal e razoavelmente mal pago.

Ou seja, só com mais investimento e melhoria dos mercados externos poderemos ter em 2017 um desempenho económico melhor que o deste ano. Mas neste momento a tendência é mais para novo crescimento agónico em 2017 do que uma razoável melhoria em relação ao atual.

SÓ COM MAIS INVESTIMENTO E MELHORIA DOS MERCADOS EXTERNOS PODEREMOS TER EM 2017 UM DESEMPENHO ECONÓMICO MELHOR QUE O DESTE ANO. MAS NESTE MOMENTO A TENDÊNCIA É MAIS PARA NOVO CRESCIMENTO AGÓNICO EM 2017 DO QUE UMA RAZOÁVEL MELHORIA EM RELAÇÃO AO ATUAL

ALTOS

João Mário

Futebolista

O jovem futebolista do Sporting é dado como certo no Inter de Milão, que terá despendido 40 milhões de euros. É a continuação de um percurso ascendente ao qual a consagração de João Mário como campeão europeu deu um bom impulso.

Rufino António

Adolescente angolano

Mesmo em Angola, serão muito poucos os que o conhecem. Mas, com base no que diz a Human Rights Watch, que pediu uma investigação urgente, este jovem de 14 anos merece uma menção: terá sido morto quando tentava que a sua casa, no bairro Walale, não fosse demolida, e o seu corpo terá sido levado pelos militares.

BAIXOS

Mário Centeno

Ministro das Finanças

Os números revelados esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística sobre o crescimento da economia nacional no segundo trimestre deste ano são demasiado anémicos para um Governo cujo programa aposta precisamente no crescimento da economia como o grande fator que permitirá equilibrar as contas públicas. Os 0,2% de crescimento em cadeia (e 0,8% homólogos) são franquinhos, muito fraquinhos...

António Costa, Constança Urbano de Sousa e Jorge Gomes

Primeiro-ministro e ministra e secretário de Estado da Administração Interna

Os três governantes podem até ter razão de queixa da Europa por falta de solidariedade na questão dos incêndios. Mas não somos nós, portugueses, os únicos responsáveis pelo que acontece todos os anos e que é sempre visto como uma fatalidade? Virem os três responsáveis máximos da gestão do território queixar-se praticamente ao mesmo tempo de “alguma falta de solidariedade” europeia parece manifestamente exagerado...

José Cardoso