ATLETISMO
Futebol apagou vitórias no atletismo? “Antes pelo contrário, a receção foi brutal”
VENCEDORAS Dulce Félix (medalha de prata nos 10.000 metros), Patrícia Mamona (medalha de ouro no triplo salto) e Sara Moreira (medalha de ouro na meia maratona), à chegada a 11 de julho ao Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa FOTO LUSA/NUNO VEIGA
As mulheres estão a dominar o atletismo português. São a maioria entre os nomes apurados para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, como hoje foi anunciado no Centro de Alto Rendimento no Jamor (Oeiras), e ganharam cinco das seis medalhas no Campeonato Europeu de Atletismo em Amesterdão
TEXTO VIRGÍLIO AZEVEDO INFOGRAFIA CARLOS ESTEVES
São 18 mulheres e nove homens e vão representar Portugal no atletismo nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, que começam a 5 de agosto. Os números foram divulgados hoje de manhã pela Federação Portuguesa de Atletismo (FPA), numa conferência de imprensa no Centro de Alto Rendimento do Jamor, em Oeiras, e representam uma tendência clara: a predominância feminina no atletismo português (ver tabelas).
No evento, onde Rosa Mota estava sentada na primeira fila da assistência, participaram todos os medalhados do recente Campeonato Europeu de Atletismo em Amesterdão. E aí a presença feminina é esmagadora: quatro mulheres e um homem. Jorge Vieira, presidente da FPA, fez mesmo questão de destacar esta realidade, sublinhando que “as mulheres têm as mesmas capacidades dos homens e, por isso, devem ter as mesmas oportunidades”.
Foi graças a essas capacidades que Portugal teve a melhor participação de sempre no campeonato, tendo conquistado seis medalhas: três de ouro, uma de prata e duas de bronze. Uma das medalhas de ouro foi atribuída por Portugal ter vencido coletivamente a prova da Taça da Europa feminina.
FESTA Veronica Inglese (medalha de prata, Itália) Sara Moreira (medalha de ouro, Portugal) e Jéssica Augusto (medalha de bronze, Portugal), as vencedoras da meia-maratona no Campeonato Europeu de Atletismo em Amesterdão FOTO EPA/KOEN VAN WEEL
Receção muito calorosa do público, apesar do futebol
Mas será que a euforia provocada pela vitória de Portugal no Europeu de Futebol em Paris, condenou ao esquecimento os melhores resultados de sempre no atletismo em Amesterdão e o regresso da representação portuguesa a Lisboa? “Acho que não, foi precisamente o contrário”, conta ao Expresso Patrícia Mamona, medalha de ouro no triplo salto, isto é, campeã europeia desta modalidade.
“Nunca tive uma receção como esta, há quatro anos atrás fui vice-campeã e não se compara, a receção de agora foi brutal, foi muito melhor, gritaram por nós no aeroporto de Lisboa, estava lá muito público, muitos fãs do atletismo e de outras modalidades que reconheceram o nosso trabalho. Enfim, foi espetacular e ainda estou a receber milhares de mensagens, mas não vou conseguir responder a todas”.
EUFORIA A receção calorosa aos atletas portugueses vindos do Campeonato Europeu de Atletismo de Amesterdão, no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, no dia 11 de julho FOTO LUSA /NUNO VEIGA
Em todo o caso, Patrícia, de 27 anos, já assentou os pés na terra. “Foi muito bom, comemorei, mas agora tenho de regressar aos treinos porque vou competir nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro e estou com grande motivação e grande fé para fazer uma boa marca e uma boa performance”. A atleta recorda: “Há quatro anos atrás não fui à final por dois centímetros e na altura o meu sonho era ir aos Jogos Olímpicos. Agora tenho mais experiência e quero fazer melhor, não só como campeã da Europa mas também como portuguesa que é recordista nacional e que quer representar Portugal e dar o seu melhor para o país ter o título mais alto possível”.
Patrícia diz que demonstrou em Amesterdão que tudo pode acontecer e está “com um pensamento positivo, vitorioso”. Ela insiste: “Quero mesmo ir a uma final e a partir daí acho que vou ter muito confiança para conseguir uma medalha de ouro”. A atleta sublinha que vai treinar com esse objetivo. “Mas não posso prometer tudo, prognósticos só mesmo no fim do jogo”.
Premonição: vitórias no atletismo anteciparam vitória no futebol
Em todo o caso, as seis medalhas ganhas por Portugal em Amesterdão acabaram por ser uma premonição de um dia histórico para o desporto em Portugal. A notícia surgiu na manhã de domingo, 11 de julho, como que a anunciar o que iria acontecer horas depois no Stade de France, em Paris, no confronto na final contra a seleção francesa que tornou Portugal o vencedor do Europeu de Futebol 2016. O Campeonato de Atletismo de Amesterdão foi até premonitório no ranking das medalhas: Portugal surge em sétimo lugar, imediatamente à frente da França (ver tabela). Como diz Patrícia Mamona, no dia 11 de julho “começámos bem e acabámos melhor”.
Sara Moreira, campeã europeia da meia-maratona, também acha, como Patrícia Mamona, que a receção do público à chegada a Lisboa da delegação portuguesa ao Campeonato Europeu de Atletismo em Amesterdão foi calorosa, apesar do peso esmagador do futebol e do Euro 2016. “Há espaço para todos, cabemos todos. Como é óbvio, o futebol teve sempre mais protagonismo, pela cultura que há neste país e por todo o marketing que há à volta da seleção nacional de futebol”.
No atletismo “já estamos habituados a isso há muito tempo, mas sinceramente foi dos anos em que tivemos mais público no aeroporto de Lisboa, mais mensagens e telefonemas de toda a gente”.
Mas Sara Moreira critica o esquecimento do Presidente da República, tal como Jéssica Augusto e o próprio presidente da FPA, Jorge Vieira. As críticas valeram a pena. Hoje à tarde, depois da conferência de imprensa no Jamor, Marcelo Rebelo de Sousa anunciou que vai condecorar esta quarta-feira com a Ordem do Mérito os cinco portugueses que se destacaram no Campeonato da Europa de Atletismo: Sara Moreira (meia-maratona) Patrícia Mamona (triplo salto), ambas com medalhas de ouro; Dulce Félix (10.000 metros), medalha de prata; e Jéssica Augusto (meia-maratona) e Tsanko Arnaudov (lançamento de peso), ambos com medalhas de bronze.